Prefeitura disponibiliza Centro de Apoio Pedagógico para deficientes visuais

Agência Aracaju de Notícias
22/02/2017 09h00

Você sabia que a Prefeitura de Aracaju disponibiliza para a sociedade um Centro de Apoio Pedagógico (CAP) para deficientes visuais?  O CAP faz parte da Secretaria Municipal de Educação (Semed) que, há 19 anos, defende o acesso à educação de pessoas com deficiência visual e baixa visão e lhes dão o direito à cidadania.

A instituição, primeiro CAP no país mantido por uma administração municipal, tem se tornado referência em todo o estado. Sendo o único em Sergipe, recebe alunos cegos e com baixa visão, e conta com nove professores capacitados em Atendimento Educacional Especializado (AEE). Cerca de 102 pessoas, da capital e do interior, encontram no Centro a estrutura e atenção que lhes permite recuperar a autoestima, conquistar a autonomia e alcançar seus objetivos profissionais.

Ilná Batinga é uma das professoras do Centro e aos 15 anos de idade perdeu a visão do olho esquerdo, vítima de um acidente. Ela ensina orientação, mobilidade e soroban (nome dado ao ábaco japonês, utilizado como calculadora para pessoas com deficiência visual), e revela o prazer de ensinar no CAP. "Amo trabalhar aqui, a gente pode ver a evolução desses alunos; muitos pais chegam até nós e falam que os filhos deles chegaram de um jeito e hoje saem de outra forma."

Assim que o aluno chega à instituição, ele ganha um kit de materiais que auxiliam no seu desenvolvimento: a bengala (para desenvolver a autonomia), o livro em braile, soroban, reglete (instrumento da escrita braile), punção (lápis adaptado) e lupa. O aluno pode levar essas ferramentas para a escola e, assim, contribuir no seu processo educativo.

Denise Carvalho é coordenadora da Educação Especial e trabalhou no CAP durante 5 anos, sendo três como diretora, e percebe os frutos colhidos. "O resultado mais evidente de que o CAP deu certo é o número de estudantes que já saíram de lá e continuam na escola. São alunos que estão em colégios, universidades, Instituto Federal de Sergipe e alguns com formação superior. São pessoas que se oportunizaram a aprender e conquistaram a independência".

Cursos

Os cursos oferecidos são: alfabetização em braile, soroban, orientação e mobilidade, terapia ocupacional, aulas de música, informática, educação física adaptada, estimulação do tato, oficinas de artesanato, produção de material e adaptação em braile. Também ensinam a utilizar aparelho celular.

Para se matricular, o cidadão deve levar um relatório médico detalhando suas limitações visuais e ser avaliado pela equipe do Centro de Apoio. O CAP fica localizado na rua Vila Cristina, 194, bairro São José. O atendimento é realizado de segunda a sexta-feira e o horário de funcionamento vai das 7h30 às 11h30, e das 13h30 às 17h30.

Novo olhar

Robyson Guidice, 38, perdeu a visão aos 15 anos de idade, em um acidente doméstico. Sem perspectiva de vida, ele ficou durante 10 anos sem convivência social. Aos 25, ele foi informado sobre a existência do CAP onde iniciou na condição de aluno. Hoje, está cursando o último período do curso de Direito e reconhece o apoio que recebeu do Centro. "O CAP sempre esteve presente em minha vida, me auxiliando nas necessidades que manifestava tanto em aspecto material, quanto da minha própria autonomia; foi imprenscidível na minha evolução intelectual, social e profissional. Se cheguei até aqui, não me restam dúvidas, devo a presença do CAP". Atualmente, Robyson é funcionário do Centro, contratado pela Semed e responsável por cuidar do acervo de livros em braile.

Maestro da Orquestra Sanfônica de Aracaju, Evanilson Lima, 48, já nasceu com a deficiência visual. Totalmente independente, ele não deixou que a falta de visão fosse um obstáculo para viver socialmente. Ele surpreende ainda mais: toca piano, sanfona, participou de várias bandas musicais, trabalhou como vendedor  em uma feira, fez palestras em escolas, exposições e atuou como voluntário no CAP. Lá, foi professor de música e criou um coral.

Evanilson tomou conhecimento do CAP em 1999 e quando chegou lá, viu que não se tratava apenas de uma instituição de apoio pedagógico, ia mais além. "Devido à necessidade de atender outras faixas etárias, foi criada aula de música, terapia ocupacional e orientação sobre locomoção. O surgimento do CAP abriu uma enorme possibilidade na vida do cego, foi para mim e para os meus colegas, o que houve de melhor", declara. Evanilson ainda ressalta a importância do Centro. "O papel do CAP é dar o reforço para os deficientes visuais, só que transcendeu de uma forma tão grande que hoje podemos receber total apoio. O CAP foi a melhor coisa que surgiu em Sergipe, e a cada dia, cumpre o seu papel, indo mais além do que ele pode oferecer."

Como iniciou?

O CAP nasceu de uma proposta de uma entidade não-governamental chamada Laramara, uma Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, criada em 1991. O estado de São Paulo foi o primeiro a reconhecer a instituição. A partir daí, outros estados brasileiros tomaram conhecimento e implantaram os Centros de Apoio Pedagógico. Na época em que o CAP estava sendo ampliado para outras cidades, Sergipe estava inserindo o Centro de Referência em Educação Especial (Creese), e como pertencia ao Estado, o município resolveu inaugurar o CAP em 1998, para ser um centro específico em deficiência visual. Dentro do CAP, surgiu a Associação dos Deficientes Visuais de Sergipe (Adevise) que ganhou abrangência.