A programação que a Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju) preparou para as comemorações dos 162 anos de Aracaju prossegue com a mostra Aracaju Como Eu Vejo. As exibições de filmes de ficção e documentários, realizadas pelo Núcleo de Produções Digitais Orlando Vieira (NPD), buscam despertar no público um novo olhar sobre a cidade e também fomentar o debate em torno do papel da mulher.
Na terça-feira, 21, a mostra exibiu o premiado ‘Câmara de Espelhos’, da cineasta pernambucana Déa Ferraz. A mostra acontece na sala de exibição Walmir Almeida, no Centro Cultural de Aracaju. Convidada pelos organizadores da mostra, a cineasta veio a Aracaju participar da mesa redonda e se mostrou surpresa com a repercussão que o filme causou, e com o debate em torno da condição da mulher, temática de sua obra.
“Fico feliz também por este tema estar sendo abordado em todas as cidades do Nordeste. O filme fala de machismo, de gênero e questões que estão muito atuais. É um filme que conecta o núcleo com a contemporaneidade, um tema que precisa ser discutido cada vez mais”, observou Déa Ferraz.
O filme, destaca a cineasta, é uma porta de entrada para estimular o bom debate. “Ele levanta muitas questões sobre o tema e abre para reflexão. Fala do machismo naturalizado, já que vivemos em uma sociedade de cultura machista. É um comportamento que já está nas pessoas e os depoimentos do filme mostram como isso está na sociedade. Para os homens, é uma tentativa de reavaliação da situação, olhar e pensar no que estamos falando o tempo todo”, comentou Déa.
A cineasta afirma que é preciso ampliar a discussão. “Para as mulheres serve como um ‘destampar dos ouvidos’, de começar a entender que isso tudo está no nosso entorno e temos que começar a combater”.
O presidente da Funcaju, Sílvio Santos, disse que é prazeroso ver o cinema sendo uma porta aberta para um debate conscientizador. “O principal componente do filme é o machismo e a grande virtude de ‘Câmara de Espelhos’ é incluir também os homens na discussão. Serve como um espelho onde é possível enxergar os pecados que se cometem contra as mulheres”. Sílvio Santos ressalta que a mostra de cinema, mais uma promovida pela Funcaju este ano, faz parte das homenagens a Aracaju.
A coordenadora do Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira (NPD), Carol Westrup, declarou que a mostra Aracaju Como Eu Vejo, que foi iniciada na quinta-feira passada com uma mesa de debate, é um palco privilegiado para unir o cinema e criar mecanismos de discussão em torno de temas importantes. “A proposta dessa mostra é despertar no público o olhar para a cidade, não só como cenário cotidiano, mas como espaço de convivência, de afetividade”, observa Carol. A coordenadora do NPD lembra que Déa Ferraz foi premiada em importantes festivais na América Latina.
Dias 22 e 29/03 (quarta-feira)
17h: Exibição
Caixa D’água, Qui-Lombo é esse? - 15 min | doc | livre
Dir. Everlane Morais
Sinopse: Documentário sobre a necessidade do resgate mnemônico das histórias de vida de uma comunidade quilombola aracajuana, que resiste em meio à urbanização desenfreada da cidade, estando o foco do trabalho na preservação da oralidade das 55 pessoas entrevistadas e na valorização da cultura negra sergipana.
O Muro é o Meio - 15 min | doc | livre
Dir. Eudaldo Monção Jr
Sinopse: O documentário aborda as pichações de protesto gravadas nos muros da Universidade Federal de Sergipe. São gritos de revolta pela falta de segurança no campus, estrutura e qualidade de ensino. As pichações são mostradas como formas de indignação, reivindicação e também de comunicação contra a apatia das paredes brancas que abafam os conflitos socioculturais.
Dias 23 e 30/03 (quinta-feira)
17h: Exibição
Do outro Lado do Rio - 11 min| fic | livre
Dir. Alunos do NPD
Sinopse: O curta conta a história de um pescador embrutecido pelas circunstâncias da vida e retrata o dia a dia com sua filha, uma menina tímida e cheia de sonhos. A gravação foi feita em Aracaju e na Barra dos Coqueiros sob a orientação da equipe do Instituto de Cinema e Vídeo de Londrina - Kinoarte.
Para Leopoldina - 23 min | fic | livre
Dir. Diane Veloso e Moema Pascoini
Sinopse: Filme que aborda a solidão como estado inerente ao ser humano, traduzida de forma poética, com objetivo de explorar um paradoxo conceitual, quando uma das personagens tenta acabar com a solidão alheia, sendo ela um personagem solitário. O objetivo da obra é fazer com que o filme circule em festivais, exportando Sergipe no âmbito profissional, social, cultural e artístico, além de ser instrumento capaz de gerar reflexões sobre a solidão, o indivíduo e a solidariedade.
Dias 24 e 31/03 (sexta-feira)
17h: Exibição
Câmara de Espelhos - 76 min | doc | 10 anos
Dir. Dea Ferraz
Sinopse: Através de entrevistas realizadas com vários homens moradores da Região Metropolitana de Recife, este é um retrato aprofundado sobre o universo masculino e sobre como os homens enxergam o papel das mulheres na sociedade ocidental, tradicionalmente patriarcal e machista, e uma exploração minuciosa sobre a identidade feminina, sobre as violências sofridas pelas mulheres no Brasil e até mesmo sobre o cenário social e político do país.