Casas Lares: mais que um refúgio, uma nova oportunidade de vida

Assistência Social e Cidadania
03/01/2018 16h26

Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão? Os versos de Legião Urbana alertam que muitas vezes o amor toma caminhos considerados por algumas pessoas como insensatos. Mas, de forma absolutamente lúcida, as pessoas que fazem as Casas Lares, mantidas pela Secretaria Municipal da Assistência Social de Aracaju, dedicam suas vidas para cuidar das crianças e adolescentes acolhidas pelo equipamento.

Casa Lar é um ambiente que se assemelha a uma residência particular e funciona na estrutura de uma família usual: a cuidadora é a mãe e os acolhidos se relacionam como irmãos.  Com regras pré-estabelecidas como horário de acordar e dormir, cooperação nos afazeres domésticos, disciplina escolar e atividades de lazer, o espaço é, realmente, um local de referência para as crianças e adolescentes que tiveram o seu vínculo familiar interrompido por conta de situações de vulnerabilidade social.

Casa Lar x Abrigo

Apesar de uma mesma modalidade de trabalho, o acolhimento, existem algumas diferenças entre as Casas Lares e os Abrigos, que também são uma demanda da Secretaria da Assistência de Aracaju. Os abrigos recebem as crianças e adolescentes por meio do Conselho Tutelar, já as Casas Lares após decisões judiciais. O tempo de acolhimento também é diferente. Geralmente os abrigos recebem as crianças até um período de três meses, que é prorrogado em situações específicas, onde os vínculos com a família tentam ser reestabelecidos. No caso das Casas Lares o tempo de estadia das crianças é muito maior, elas ficam na casa até serem adotadas ou completarem maioridade. As equipes das Casas Lares obedecem ao regime de trabalho de cinco por dois (trabalham cinco dias ininterruptamente e folgam dois), e são fixas. O acesso de pessoas de fora também é bastante restrito, justamente para não quebrar a visão de um ambiente residencial e privado.

Mais do que fornecer um lar para a criança ou adolescente acolhido, as casas lares proporcionam uma sensação de pertencimento à localidade que elas estão. "Nós estimulamos sempre que as pessoas que habitam os nossos espaços possam entender que a cidade é delas e que elas podem e devem ter acesso a tudo que o município oferece nos quesitos de lazer e entretenimento. Buscamos fortalecer a convivência comunitária no bairro, que é extremamente importante para o empoderamento dessas pessoas, para que cresçam sabendo quais os direitos que lhe assistem, enquanto cidadãos", explica a coordenadora das Casas Lares de Aracaju, Karina Nunes Rocha.

Sobre ir além

As razões encontradas para que o coração ame e fortaleça os laços de afeto em torno de alguém são das mais subjetivas. No caso de Luciana Luiz, mãe social da Casa Lar II há um ano, os laços que a une com seus filhos sociais são ajustados dia a dia, com o carinho recíproco, o respeito e a vontade de vê-los crescer dentro dos caminhos da bondade e honestidade. "Eles são os meus filhos e eu sou a mãe deles, no sentido mais abrangente que essas palavras possam chegar. Não vejo o meu trabalho nem de longe como algo estático, que acaba quando eu estou de folga. O amor não larga da gente, né? Não se restringe aos momentos de serviço. Eu encontrei no meu trabalho toda a doçura necessária para os meus dias e uma causa que eu acredito e luto com todas as forças do meu ser. Quero ver minhas meninas e meninos amanhã ocupando lugares importantes. Educo-os para que eles entendam o valor da educação, da gentileza, da honestidade e da amizade. Se quando eles se tornarem homens e mulheres feitos eu puder encontrá-los e perceber que aquele olhar de carinho ainda permeia no semblante, vou saber que a minha missão foi cumprida", conta Luciana, emocionada.