CineSUSgestão exibe filme sobre Zefa da Guia e promove debate relacionado à Saúde e Cultura

Saúde
21/06/2018 21h20

O Centro de Educação Permanente em Saúde (Ceps), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), realizou a segunda edição do projeto Cine SUSgestão deste ano com a apresentação de um documentário sobre a parteira Zefa da Guia e um debate sobre Saúde e Cultura. O evento aconteceu na tarde desta quinta-feira, 21, no Centro Cultural de Aracaju, na Praça General Valadão, no Centro.

De acordo com a técnica do eixo de Educação Permanente do Ceps, Taísa Belém, a proposta de discutir o Sistema Único de Saúde (SUS) através da exibição de filmes cinematográficos e debates está inserido no processo de educação permanente do SUS. “Entendemos que trazer a arte e a cultura nos processos de educação em saúde é poder apostar em um modelo de formação que vai além da atividade fim. Temos um papel de articular com a sociedade. Por meio da arte conseguimos aproximar uma linguagem e construir saberes juntos, trocando experiências, integrando os conhecimentos populares e formais, aprendendo e entendendo que pensar sobre isso é pensar sobre a saúde e a vida”, ressaltou.

Nesta a segunda edição de 2018, o documentário sobre dona Zefa da Guia foi escolhido justamente pela época junina, muito marcante na cultura do Nordeste. “E para debater conosco sobre o tema, nada melhor que trazer a própria Zefa para falar de suas experiências e trocar conhecimento conosco, que fazemos parte do SUS. Uma mulher inserida no tempo, em suas raízes, e um exemplo de uma pessoa que devotou sua vida em nome do trabalho ao próximo. É isso que queremos trazer para a Saúde de Aracaju, porque quando produzimos trabalho, produzimos vida na saúde”, reforçou Taísa Belém.

Documentário

O produtor e um dos diretores do Filme “Zefa da Guia, parteira do Sertão”, o jornalista e cineasta Dida Araújo, explicou o porquê de ter feito esta obra. “Eu trabalho em televisão há mais de 40 anos e em 1999, a saudosa jornalista Aline Hungria e o cinegrafista Zaqueu Góis passaram 11 dias na Serra da Guia, em Poço Redondo, para filmar um parto feito por dona Zefa. Eu editei essa matéria para o Jornal Nacional e, durante o processo, aquelas cenas tocaram meu coração. Fiquei pensando na força desta mulher e guardei o material pronto para um dia fazer uma homenagem maior. Tempos depois entrei na faculdade novamente para cursar cinema. Essa foi a minha oportunidade de concretizar meus planos”, revelou.

Dida chamou a colega Jaqueline Moura, que divide a direção com ele, pois queria mostrar a Zefa como mulher da comunidade quilombola. “A Zefa que gosta de Luiz Gonzaga, que sofre no período da seca, mas que se alegra quando chega a água da chuva. A que transformou a comunidade, que hoje tem água, luz elétrica, calçamento das ruas e até dessalinizador. Por causa dela houve uma melhoria muito grande, mas não esqueci de mostrar o lado parteira, a religiosidade dela, a mulher que usa ervas para tratar das pessoas; a sabedoria popular na prática.

Aos tem 73 anos, Zefa possui 23 filhos (oito biológicos e 15 adotivos), e ainda é rezadeira, com mais de cinco mil partos no currículo. “Já cheguei a fazer 35 partos por mês, mas hoje em dia faço 10 por ano. As mulheres não querem mais ter filho em casa, preferem ter na maternidade. No entanto, me orgulho de nunca de ter morrido nenhuma criança e nenhuma mãe comigo, porque sei usar as ervas. Faço lambedor, xarope e remédio até para febre tifo. Tenho uma garrafada que faz com que a pessoa não fique com açúcar no sangue. É uma honra poder participar desse evento e dividir o que sei com essas pessoas”, revelou.

Durante o evento, houve uma apresentação do grupo Sons no SUS e, após a exibição, foi promovido um debate sobre Saúde e Cultura com a protagonista do filme; com a técnica da Rede de Atenção Primária da SMS, a médica Priscila Batista; com o professor de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Roberto Lacerda; com a agente comunitária de saúde Leonarda Souza Lima; com o diretor Dida Araújo, e demais participantes.