Prefeitura fortalece combate a violências nas escolas com ação do Círculos de Paz

Educação
29/05/2023 17h00

"Foi maravilhoso participar dessa ação. Nunca tive uma experiência desse tipo dentro de sala de aula, algo totalmente novo e incrível para mim. Me fez tentar mudar um pouco a forma de pensar em relação à minha família, como perceber que estava perdendo muito tempo no celular e deixando outras coisas de lado. Moro com minha mãe, padrasto e irmão. Tenho tentado dar mais atenção a eles e não ficar mexendo tanto em aparelhos, mas focando nas pessoas que estão comigo", este é o relato do aluno do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef), do bairro Olaria, Vinícius Gabriel Barbosa, de 13 anos.

Ele faz referência aos Círculos Restaurativos de Paz, iniciativa promovida pela Prefeitura de Aracaju, por meio da Coordenadoria de Políticas Educacionais para a Diversidade (Coped) da Secretaria Municipal da Educação (Semed), em parceria com o Ministério Público de Sergipe (MPSE). A ideia é fomentar a cultura de paz entre os estudantes, o que possibilita o fortalecimento de outros fatores, como segurança, cidadania e qualidade do desempenho escolar.

A ação é executada através de três reuniões por turma, como focos diferentes em cada círculo: comunicação, relacionamento e, por último, empatia e gratidão. Durante os encontros, além de promover o diálogo entre todos, as técnicas da Coped realizam dinâmicas para incentivar a participação e o interesse dos alunos. O modelo é baseado em metodologia proposta pelo MPSE e está inserido no projeto Tecendo em Redes, que tem como foco trabalhar com os alunos temas como preconceito, bullying, empatia, entre outros.

Coordenadora da Coped, Analice Marinho explica que um dos objetivos deste trabalho em grupo com os estudantes é mostrar que eles não estão sozinhos, que têm uma rede de apoio, que é a família e/ou a escola, atuando para fortalecê-los em diversas questões. Ela conta que a Emef Jornalista Orlando Dantas foi escolhida para ser a pioneira do projeto por estar em uma comunidade de situação mais vulnerável e por ter uma gestão escolar engajada neste tipo de iniciativa.

"Nós já realizávamos outros projetos aqui na Emef. A gestão escolar desta escola sempre foi muito aberta às nossas atividades e entende a importância de trabalhar questões socioemocionais com os jovens, que é necessário dialogar sobre bullying, preconceitos, questões de violência. No nosso planejamento, mais sete escolas da rede receberão as ações até o final do ano letivo de 2023. Além do Círculos de Paz, outras ações dentro do Tecendo Redes têm foco na prevenção de violências sexuais, dignidade menstrual e para as famílias dos alunos", detalha Analice.

Turmas mais tranquilas
Com 13 anos de idade, a aluna Giulya Vitória Souza afirma que o Círculos de Paz tem surtido um efeito impressionante no comportamento da sua turma. Para ela, o principal benefício foi a possibilidade que a ação trouxe de conhecer melhor o outro, levando à prática da empatia e do respeito mútuo no ambiente escolar.

"É uma experiência inovadora que fez com que a gente conhecesse novas pessoas, no caso os professores e os próprios alunos, já que mesmo estando próximos fisicamente, muitos de nós não nos conhecíamos bem. Descobrimos o que as outras pessoas gostam, seus sentimentos, o que as pessoas acham da gente ou deles mesmos. É muito bom saber disso. No começo eu estava bem insegura sobre o que meus próprios amigos iriam achar de mim, mas depois fiquei impressionada comigo mesma. Não sou muito de me abrir e falar o que eu acho que eu sou, mas fui conseguindo porque as profissionais foram conversando e me guiando ", expressa Giulya.

Ela ressalta, ainda, algo que lhe tocou bastante. "Todos os momentos deste trabalho conosco me surpreenderam. Gostei muito da atividade do barbante: tínhamos que passar ele para outra pessoa no círculo, até chegar em nós novamente. Isso ensinou que se a gente passa coisas positivas ou positivas para outras pessoas, vamos formando uma teia, ligando os pontos e aquelas coisas voltarão para nós. Nossa sala de aula está mais tranquila nessas últimas semana, principalmente por estarmos tentando não ofender ou não revidar ofensas", relata a aluna.

A aproximação da realidade e dos sentimentos de cada aluno através desse trabalho em grupo também tem marcado as próprias técnicas da Coped. Cláudia Mendonça diz que ser facilitadora de um trabalho como este tem sido muito bacana e a participação dos jovens tem surtido um resultado que superou suas expectativas. Segundo ela, porque a iniciativa vem possibilitando os jovens de expressarem o que estão sentindo, já que muitas vezes é difícil acessar os sentimentos dos adolescentes.

"Uma coisa que eu achei muito interessante foi o relato de um aluno dizendo que muitas vezes fica em silêncio em sala de aula porque os professores pedem, mas agora fica em silêncio porque está em paz. Isso me tocou bastante porque realmente o clima está de muita tranquilidade e paz. Eles estão participativos. É claro que alguns conseguem expor seus sentimentos, outros não. Isso é normal, mas no geral trará efeitos positivos até para aprendizado, que se torna mais fácil. Sabemos que o desempenho escolar tem muito a ver com os sentimentos do aluno e em como ele reage a sua realidade", ressalta Cláudia.

Experiências compartilhadas
O aluno Weslley Igor Santos, de 13 anos, relata que o professor de Artes já leva questões como as abordadas no Círculos, nas atividades da sala de aula, mas que o trabalho em grupo tem sido como uma terapia para ele.

"Nosso professor de Artes fala muito sobre as consequências do bullying, sobre respeitar as diferenças do próximo e ser gentil. Ele faz isso passando atividades e projetos para a gente trabalhar esses temas, mas foi muito importante para mim participar desses encontros porque não sou de conversar muito com meus colegas sobre a minha vida pessoal. Algumas coisas da minha família e da escola me machucavam e quando demonstrei o que sentia fiquei surpreso, não foi como eu esperava, achava que ia ser ruim, mas foi até mais leve, tranquilo.

A cuidadora Angélica Alves acompanhou dois alunos na ação e também pôde participar das atividades. Ela se emociona ao falar sobre o quanto é importante promover a aproximação entre os alunos e suas famílias, e entre eles e a escola.

"Achei tão interessante. Queria pedir para a Prefeitura continuar com este projeto e oferecer a mais pessoas. Sou moradora do bairro e nossa comunidade estava carente deste aconchego, comunicação ou acolhimento. Minha família foi muito importante para passar por algumas fases na adolescência. Tive quatro perdas familiares devido à covid-19 e me emocionei bastante porque também tive a oportunidade de compartilhar a minha realidade com esses jovens e falar sobre como é importante ter pessoas para nos apoiar. Vejo que eles estão mais tranquilos na sala de aula", evidencia Angélica.

Com 14 anos, a aluna Gabrielle Menezes conta que participar da ação foi muito importante e que se surpreendeu com os resultados das dinâmicas. "Foi muito legal. Achava que seria mais uma daquelas palestras  que a gente senta e só ouve outra pessoa falando sobre os temas, mas foi muito intuitiva, colocaram a gente para participar e praticar, pudemos fazer coisas que eu já queria muito que houvesse. Acho que a turma ficou mais unida. Se constrói uma sociedade saudável assim: com empatia, respeito e compreensão", enfatiza.