Prefeitura promove workshop sobre direitos de pessoas autistas para servidores públicos

Assistência Social e Cidadania
19/02/2024 23h00

A Prefeitura de Aracaju, por intermédio das Secretarias Municipais da Assistência Social e da Fazenda (Semfaz), promoveu nesta segunda-feira, 19, no auditório da Semfaz, um workshop idealizado por pais e mães de pessoas autistas. Com o tema “Autismo, não julgue, compreenda”, a iniciativa objetivou sensibilizar e capacitar os servidores públicos para o atendimento prioritário e humanizado das pessoas autistas e suas famílias. 


O workshop contou a participação de 100 servidores das duas secretarias e abordou em linhas gerais o Transtorno do Espectro Autista (TEA) de modo a demonstrar a prioridade do atendimento às pessoas autistas e como isso pode se dar de forma mais humanizada, tendo em vista que são pessoas com deficiência que precisam de uma atenção especial nas suas demandas.

“Quando a proposta do workshop foi apresentada, nós não hesitamos, pois entendemos a importância urgente de capacitar os nossos servidores para estas novas demandas. Quero garantir que vamos inserir o atendimento prioritário na nossa rotina de forma sistemática. Vamos adotar as medidas práticas e trabalhar para que a legislação seja cumprida, é importante essa troca de conhecimento”, destacou o secretário da Fazenda de Aracaju, Jeferson Passos.

Para a secretária da Assistência Social de Aracaju, Simone Santana, foi um momento importante para levar informação e qualificar servidores públicos das duas secretarias sobre o autismo. 

“A gente sabe o quanto é valioso levar informação, e realizamos esse workshop para a equipe da Semfaz, que é uma equipe muito importante, além das nossas equipes de atendimento nos Cras e Creas, que também estiveram presentes. Aproveitamos o debate e entramos em contato com a secretária da Saúde para poder levar, como foi levantado por pessoas autistas, essa qualificação para servidores do atendimento na Saúde, para qualificar os profissionais que estão ali nas Unidades de Saúde da Família (USFs), nos hospitais e demais equipamentos. Então, a gente está caminhando, aos poucos, acho que a gente consegue, ainda esse ano, chegar a todas as secretarias”, afirmou a secretária Simone.

Para o idealizador da campanha e servidor do Ministério Público de Sergipe, José Andrade, conhecido como Batatinha, além de ser uma campanha educativa para os servidores, o workshop também chama a atenção da sociedade. “Até no ambiente familiar eu percebia pouco entendimento sobre as necessidades do meu filho autista. Fico imaginando as mães que saem de longe com seus filhos para resolver algum problema e não têm empatia do órgão de atendimento. O que mais dificulta os pais de autista é tirar o filho do ambiente de casa para um novo ambiente, desregula o cérebro da criança. Por isso a importância do atendimento prioritário”, disse.

Coordenadora da Proteção Social Básica (PSB) da Secretaria da Assistência Social de Aracaju e mãe de autista, Catharina Menezes pontua que o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta áreas de comunicação, interação social, a fala e a compreensão.

“Nosso objetivo é de conscientizar os servidores públicos, em especial os que atuam no atendimento ao público, para o acolhimento humanizado, além de garantir a prioridade no atendimento à pessoa autista. Existem as formas de identificação: crachá, o cordão de quebra-cabeça ou de girassol, a identificação da carteira de identidade. Se a mãe do autista estiver com ele, deve ser concedido o atendimento prioritário. O autista só compete com o próprio autista ou com idoso com mais de 80 anos na hora da prioridade”, ressaltou.

Conceição Souza e seu filho Emanoel Souza, 12, que é autista, estiveram presentes no workshop para falar um pouco aos servidores sobre como devem proceder em atendimentos com pessoas autistas. “Qualquer barulho pode parecer nada para uma pessoa típica, mas para os autistas é como uma bomba estourando a dois metros de distância da gente. O ambiente muito movimentado incomoda a gente, pois afeta a hipersensibilidade do nosso cérebro. Queremos ser tratados com empatia e inclusão”, pontuou Emanoel.

A mãe de Emanoel explicou que já vivenciou vários episódios em que o autismo do filho não foi levado em consideração, o que a levou a procurar o Ministério Público após uma experiência traumática, na qual ela e o filho não tiveram seus direitos respeitados. “Visivelmente o meu filho não tem nada, mas tem barulhos aqui que nós que não temos autismo não sabemos que está acontecendo, enquanto ele está ouvindo numa intensidade grande, é desgastante, o cérebro deles tem muitos neurônios, tudo é numa intensidade muito maior”, afirmou Conceição.

Cervidora da Semfaz, mãe de autista e uma das idealizadoras do evento, Carine Dantas iniciou seu trabalho na secretaria no setor de atendimento, por isso tem a experiência de estar do outro lado do balcão, recebendo o contribuinte e lidando com situações de estresss no dia a dia. Hoje, já em outro setor, e após ter diagnosticado o autismo da sua filha de 3 anos, ela sensibilizou a Secretaria para a realização do workshop.
 
“Entendo que todos nós lidamos com situações difíceis em nossa rotina, mas, como mãe de autista não-verbal, sei a dificuldade que nós passamos. Sensibilizar os colegas para este tema e tentar ofertar ao nosso público um serviço cada vez mais empático, humanizado e respeitoso é um dos nossos principais objetivos, e fazer com que as pessoas com autismo tenham o seu direito garantido nos serviços públicos municipais", diz.