População em situação de rua protagoniza discussões em seminário

Assistência Social e Cidadania
01/09/2017 15h00

Buscando criar um espaço para melhor entender às necessidades da população em situação de rua, a Secretaria Municipal da Assistência Social de Aracaju realizou, na manhã desta sexta-feira, 1º, o segundo dia do Seminário de Construção da Política Municipal de Atenção Integral à População em Situação de Rua. Realizado na sede da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Sergipe (OAB-SE), o evento foi aberto ao público, com foco nos trabalhadores da rede intersetorial de atendimento e com o objetivo em criar soluções e metodologias de suporte a essas pessoas.

Quebrando o protocolo, a vice-prefeita e secretária da Assistência Social de Aracaju, Eliane Aquino, desfez as formalidades das apresentações e pediu para que, além dos representantes dos órgãos municipais, também fizessem parte da composição da mesa de apresentação usuários dos equipamentos da Proteção Especial. Eliane afirma que o papel da Prefeitura enquanto poder público é dar voz àqueles que mais se utilizam dos serviços.

“O que nós queremos é fazer este assunto ter visibilidade e não manter uma visão higienista, de tirá-los da frente dos nossos olhos. Todos estes que estão aqui são cidadãos, residentes em nossa cidade e o que nós precisamos é de parcerias para reintegrá-los à sociedade, criar mecanismos para que eles sejam tratados e reinseridos em nosso convívio”, ressaltou Eliane.
 
De acordo com a gerente da Média Complexidade da Proteção Especial da Assistência Social de Aracaju, Lucianne Rocha, a discussão vai além das atividades realizadas dentro da administração municipal. “Quando um profissional se propõe a trabalhar com este público, precisa entender as várias realidades que vai encontrar nas ruas e que muita gente não está ali porque quer, mas porque tem a rua como única opção diante das adversidades. Nossos valores pessoais têm que ser deixados de lado, pois o bem que pensamos estar fazendo, pode ser o mal do outro. Por isso é tão necessário este diálogo.”

Palestrante convidado para o evento, Antônio Nery Filho, fundador e coordenador geral do CETAD Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, falou sobre os papéis sociais e a vulnerabilidade. “Todas as pessoas são iguais em seus direitos e diferentes em possibilidades. Cabe ao Estado empoderar e proteger estas pessoas pois elas já perderam a capacidade de se defenderem sozinhas”, explicou.

Do outro lado da rua

Suely Oliveira é integrante do Movimento Popular da População de Rua, natural da cidade de Salvador, Bahia. Ela, que teve a rua como sua morada por cerca de seis anos, foi uma das palestrantes do evento e disse que foi através da militância que ela conseguiu resgatar o amor próprio.

“Após a morte dos meus avós, com quem fui criada, acabei indo para a casa dos meus pais. Lá não me sentia bem, era humilhada e acabei parando na rua. Vi muita coisa ruim acontecendo e me defendia como podia. Um dia eu ouvi as palavras de uma companheira do movimento, quando ela disse para um dos moradores ‘se você quiser fazer, você pode’. Passei a não me enxergar mais como invisível e foi assim que eu decidi mudar de vida. Hoje tenho onde morar e como me sustentar, mas continuo lutando por aqueles que precisam.”

História de vida muito semelhante a do artesão e limpador de carros Antônio Carlos, que ainda não teve um final feliz. “Eu moro na rua desde muito novo, por causa de uma briga entre meus pais. A vida lá fora não é fácil, mas eu consigo viver com a ajuda que a Prefeitura vem me dando. Estar aqui hoje me deixa feliz porque sei que estou sendo ouvido. Eu ainda não consegui, mas sei muito bem que o maior sonho de qualquer um que mora na rua é ter sua casa própria e formar uma família, pra ter pra onde voltar. Espero um chegar lá.”