Culminância do projeto África envolve comunidade escolar da Emef Costa Melo

Educação
08/02/2018 14h23

“Aqui é a segunda casa de todos os moradores destas comunidades e esse projeto só veio coroar isso”, foi assim que Gilmar Evaristo dos Santos se sentiu ao participar da culminância do projeto África, realizada na manhã de hoje, 8, na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) José Antônio da Costa Melo. Localizada no bairro Getúlio Vargas, a escola atende ainda as comunidades dos bairros Cirurgia e Centro.

Gilmar já não é mais aluno da Emef há muito tempo, mas participa com seu grupo de dança sempre que a escola o convida e foi essa participação de toda a comunidade escolar que o diretor da Educação Básica da Secretaria Municipal da Educação (Semed), Manuel Prado, classificou como imprescindível. “É extremamente enriquecedor quando uma escola consegue construir um espaço de comunhão com o seu entorno, o que esses meninos estão fazendo aqui hoje é arte na sua expressão mais verdadeira e hoje é a culminância de uma ação que foi desmembrada em outras disciplinas do conhecimento e eles aprenderam história, geografia, português em ações que incentivaram o respeito à diversidade e à valorização da cultura negra”, enfatizou.

Projeto África


O projeto África é uma atividade interdisciplinar que foi idealizada pela professora de Língua Portuguesa da escola, Edilma Messias Porto. A professora apresentou aos outros professores e à direção da escola. A equipe comprou a ideia e trabalhou durante todo o segundo semestre letivo com atividades de reconhecimento e valorização da cultura negra nos 7°, 8° e 9° anos.
"Nós trabalhamos em todas as disciplinas mostrando aos nossos alunos a influência da cultura do continente africano em nossa formação social. Trabalhamos nas questões linguísticas através das palavras que o nosso Português absorveu, trabalhamos na História, na Geografia, e trabalhamos também com a valorização da cultura negra através das oficinas de turbante, através da oficina de maquiagem para a pele negra, através da oficina de abayomi - que são as bonecas de pano negras - e os alunos se envolveram muito, eles vestiram a camisa do projeto", destacou.


Representatividade


A Emef Costa Melo, como popularmente a escola é conhecida no bairro Getúlio Vargas, atende a comunidade da Maloca, localizada no bairro Cirurgia, que é Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial da cidade de Aracaju, de acordo com a lei municipal 215/2015, além de ter sido reconhecida, em 2007, pelo Governo Federal como ´Quilombo Urbano´ em Sergipe e o segundo no Brasil. Desta forma a diretora da escola, Itamara Lopes, explica que a importância de desenvolver atividades dessa natureza nessa escola é fundamental.
"A escola precisa valorizar os agentes de todas as etnias, apresentando bons modelos de representação afirmativa e é isso que buscamos fazer nesse projeto. Para além da cor da pele e do cabelo, nós estamos trabalhando a representação de personalidades afrodescendentes na formação da nossa cultura, da nossa linguagem, da nossa história. Então estamos aqui trazendo representações afirmativas para que esses alunos tenham em quem se espelhar e para que eles aprendam sobre as mulheres e sobre os homens negros que construíram a nossa história, e a escola tem um papel essencial nessa construção", revelou a diretora.

Maria Lívia Silva tem 16 anos e é aluna do 9°, ela ganhou o concurso de beleza negra, realizado no projeto e conta como se sentiu. “Foi a partir do projeto e das questões que aprendemos em sala de aula e nas oficinas que eu deixei o meu cabelo natural, antes eu usava alisamento, mas depois fui descobrindo que sou linda assim, com ele natural e crespo. Esse projeto nos ensinou o que é respeitar as diferenças de verdade e nos ensinou que a beleza está nisso, em nossas diferenças”, avaliou Lívia.


Clarice Santos Araujo, 14 anos, é aluna do 8° ano e participou de todas as atividades do projeto que, para ela, mudou a opinião de muita gente da escola. "Esse projeto foi muito importante para essa escola, muitos alunos moram na Maloca e no Geruzinho, comunidades formadas por pessoas negra que nós temos contato dentro e fora da escola, então essa atividade educa os alunos, mas também chega nessas comunidades, nos valoriza, valoriza a nossa pele, valoriza o nosso cabelo, a nossa cultura. Com certeza a gente sai daqui mais feliz, mais forte", afirmou.


Além das ações pedagógicas, muitos alunos se interessaram em participar das oficinas para aprenderem as técnicas de fitagem, turbante, e confecção das bonecas, como revelou Arthur Oliveira, 16 anos, aluno do 7° ano. "A gente aprendeu muito com as aulas e aqui a gente está aprendendo o que mais tarde pode ser um trabalho, uma forma de ganhar dinheiro".


Culminância


Na manhã de hoje o projeto recebeu a participação do bloco de afoxé "Descidão dos Quilombolas", formado por moradores da comunidade do Geruzinho, a apresentações dos grupos de dança da Maloca e do bairro Cirurgia, além das mães e dos pais dos alunos que também participaram do projeto, como é o caso de Maria Josefina da Silva. “Eu fiz questão de estar aqui hoje com meu filho porque ele se envolveu nas atividades e me contou muito empolgado, em casa, tudo que a escola estava fazendo, e está tudo muito bonito e bem organizado, a gente acaba aprendendo também”, relatou a mãe de Guilherme as Silva, 11 anos, aluno do 6° ano.