Crianças e adolescentes dos Cras discutem o empoderamento negro em mostra de cinema

Assistência Social e Cidadania
10/04/2018 21h17

Na tarde desta terça-feira, 10, cerca de 50 crianças e adolescentes referenciados nos Centros de Referência da Assistência Social de Aracaju (Cras) João de Oliveira Sobral, Terezinha Meira, Carlos Fernandes de Melo, Risoleta Neves e Carlos Hardman, marcaram presença na 3ª Egbé - Mostra de Cinema Negro de Sergipe. Realizada no Centro Cultural de Aracaju, a exibição contou com a apresentação de vários curtas metragens com a temática da vivência das pessoas negras e os percalços de um racismo ainda tão latente e presente na sociedade atual.

De acordo com a gerente do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) da Secretaria Municipal da Assistência Social de Aracaju, Andréa Dória, trabalhar estes temas traz a possibilidade da reflexão e da autotransformação. “Nós achamos muito relevante tratar disso com as crianças e então nós escolhemos o dia em que as produções expressam mais a fundo as questões raciais, já que são dilemas que perpassam o cotidiano das nossas crianças, em sua maioria negras. É extremamente importante promover esse tipo de debate, principalmente nos espaços públicos”, explicou.

Coordenado pela produtora audiovisual, Luciana Oliveira, o Egbé acontece há três anos e começou com a intenção de discutir a produção audiovisual em Sergipe. “Primeiro pensamos no evento como uma forma de mostrar o trabalho feito por pessoas negras e para pessoas negras, mas ele foi crescendo ao ponto de virar uma grande conversa também sobre vários assuntos relacionados ao nosso dia a dia. Agora, fizemos uma parceria com as escolas públicas e os equipamentos da Assistência Social para aprofundar o debate. Isso vai desde a identidade, através da resistência pelo cabelo crespo e pela religião, até o que enfrentamento dia após dia nas entrevistas de emprego e na forma como somos discriminados, por exemplo”.

Diretora do filme “Com os pés no chão”, curta a ser exibido na próxima quinta-feira, 12, a baiana Marise Urbano confessa que viver em uma sociedade racista, ainda mais sendo mulher, é um exercício de dupla resistência. “Todas estas questões são heranças da pressão social que nós, mulheres negras, sofremos em relação ao racismo e também ao machismo juntos. Tudo que eu faço é um posicionamento político e social”, destacou.

Fruto da nova geração, Yasmin da Conceição, de apenas 12 anos, demonstra maturidade ao entender a força da própria cor. Atendida no Cras João de Oliveira, ela afirma que tem orgulho de ser negra e não admite nenhum tipo de preconceito. “Todos os dias são dias de luta por causa da nossa cor. Eu entendo que todo mundo seja diferente, ninguém é igual. Mas todos precisam ter os mesmos direitos”. Argumento reforçado pela amiga Erika Pereira, de mesma idade e ideais. “Em casa nós conversamos muito sobre isso, pois quando as pessoas são racistas e eu não acho certo. Somos do jeito que somos e precisamos ser respeitados por isso”.

Ao final, a jornalista sergipana e escritora do Blog Preta Mesmo, Izabella Portella, foi convidada para uma roda de conversa, onde abordou a beleza da mulher negra como ponto de afirmação e empoderamento. “Sempre discutimos que nunca é bom elogiar uma pessoa apenas por suas características físicas, principalmente se essa pessoa é uma mulher. O interessante é sempre falar sobre a inteligência, sobre seus feitos. Mas, quando a gente fala de pessoas negras, é muito importante que a gente elogie a aparência sim, já que o fato de ser negro já é sinônimo de ser feio para a sociedade. Por isso, precisamos tanto entender que é necessário se olhar no espelho, encontrar a própria verdade e afirmar a própria identidade para gostar da própria estética”.