Assistência de Aracaju realiza 1º Sarau Expressão de Rua

Assistência Social e Cidadania
17/08/2018 17h41

“A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte”. Mais que uma letra de música, essa afirmação representa o sentimento da maior parte das pessoas em situação de rua atendidas pela Prefeitura de Aracaju, através da secretaria municipal da Assistência Social. E foi pensando nisso que, na tarde desta sexta-feira, 17, foi realizado o 1º Sarau Expressão de Rua. A atividade ocorreu em alusão ao Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, que é comemorado no dia 19 de agosto.

O intuito do Sarau foi proporcionar um espaço de integração e de valorização para aqueles que normalmente são invisíveis para a sociedade. “Diariamente, os profissionais da Assistência Social se deparam com homens e mulheres repletos de talentos e saberes que, por motivos diversos, encontram-se em situação de rua. Temos buscado mais do que realizar o atendimento socioassistencial estimulá-los a continuar abraçando oportunidades que os estimulem a reconstruir suas vidas com dignidade. Por isso, momentos como esse são muito importantes também para o fortalecimento da sua autoestima”, afirmou a secretária da Assistência Social, Rosane Cunha.

Para o coordenador do Centro Pop, Edilberto Souza, o evento foi muito importante porque, além de marcar a data nacional de mobilização e ampliar a visibilidade sobre o tema para a sociedade, ele foi construído com a participação efetiva dos próprios usuários dos serviços da Assistência. “A realização desse Sarau só foi possível porque houve um engajamento de todos. Cada funcionário do Centro Pop fez questão de contribuir efetivamente e o que nos deixou ainda mais satisfeitos foi a colaboração direta dos usuários, que participaram da construção de tudo, sendo protagonistas do processo e não apenas expectadores. Esta tarde representou um grito social para que eles pudessem ter a oportunidade de reafirmar: nós existimos, estamos presentes e fazemos parte dessa sociedade”, explicou.

Além de diversas apresentações artísticas, quem passou pela Praça Camerino também pode visualizar um varal de histórias. Nele, usuários do Centro Pop relataram os desafios e os percursos trilhados que os levaram a ter na rua seu maior espaço de sobrevivência. Histórias como a de Antônio Carlos, de 32 anos. Conhecido como Quinô, ele conta que parou nas ruas após a separação dos pais. Foi por volta dos sete anos, quando teve que se tornar engraxate e acabou se tornando dependente de substâncias psicoativas, como a cola de sapateiro. “Mas uma coisa eu digo: nesses anos todos, graças a Deus, nunca roubei. Não me tornei um marginal”.

Ele diz que foi no Centro Pop que voltou a reconhecer uma família. “Lá eu sou ouvido, as pessoas se preocupam comigo, tem assistente social, tem psicólogo, tem alguém para entender o meu lado, e saber quem eu sou de verdade. Eu posso não ter uma casa, mas tenho cidadania”.  Para ele é preciso que o poder público em geral considere que ter dignidade também é ter o direito de ser feliz e de não ter medo. “Muitos estão aqui, vivendo, sem nenhum apoio nenhum da família. Somos invisíveis, mas não podemos esquecer, nem permitir que os assassinatos de moradores de rua na Candelária, em São Paulo, o índio queimado em Brasília e tantos outros casos de violência se repitam. Hoje, é dia de festa, mas também é dia da gente estar aqui para dizer que merecemos ser vistos como cidadãos brasileiros que somos”, ressaltou.

 O evento, que aconteceu na Praça Camerino e foi aberto ao público em geral, reuniu usuários do Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro POP); do Acolher, unidade de acolhimento para pessoas em situação de rua, além de usuários dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). A realização contou com a parceria da Funcaju e da Associação Sergipana de Hip Hop Aliados pelo Verso (ALPV), além do apoio da secretaria municipal da Saúde, através das equipes dos Caps e do Consultório de Rua.

“Nós abraçamos essa atividade voltada para os moradores de rua porque compreendemos que a arte e a cultura podem transformar vidas. Os projetos e programas, infelizmente, podem não conseguir chegar com a questão estrutural, como a moradia, mas coisas simples podem mudar o dia dessas pessoas. Com eventos como esse, ajudamos a despertar a cidadania, fortalecer a autoestima e estimular eles a participarem da construção dos processos”, destacou Mano Sinho, fundador da ALPV.