Projeto Ossos do Ofício fomenta formação cultural

Agência Aracaju de Notícias
01/12/2018 09h36

O Estado de Sergipe possui multiplicidade cultural em suas mais diversas manifestações. A música, campo vasto de expressão, tem destaque por estar extremamente implícita nas formas de enriquecer a cultura. Aqueles que promovem essas manifestações, contudo, precisam, constantemente, de apoio em seus feitos, sobretudo que os estimule a dar continuidade à promoção da arte. A gestão pública em Aracaju entende o seu papel fundamental no fomento à cultura, por isso, em maio de 2017, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Fundação Cultural de Aracaju (Funcaju), lançou o projeto “Ossos do Ofício”, uma das maneiras encontradas para investir na formação teórica e prática dos agentes culturais, através de palestras, debates e workshops.

Mesmo antes de assumir a gestão municipal, o prefeito Edvaldo Nogueira já possuía em seu plano de governo ideias de como dar apoio aos agentes culturais, não somente da capital, mas também os vindos de outras regiões do estado. Por isso, assim que iniciou a atual administração, entes envolvidos na cultura foram essenciais para a concretização de projetos que, hoje, são uma realidade em Aracaju, justamente como o Ossos do Ofício.

Um dos grandes atores culturais de Sergipe, atualmente diretor de Arte e Cultura da Funcaju, Nino Karvan, chegou para fazer parte da equipe da gestão comungando da visão de desenvolvimento e ressalta o compromisso com os músicos, através dos projetos. “No início da gestão, começamos a conversar sobre perspectivas da cena cultural, o que a gente poderia fazer, uma prospecção, qual seria os planos, como poderíamos agir. Percebemos que havia uma lacuna muito grande nessa questão de reciclagem, de atualização dos profissionais da cena. Assim, idealizamos um projeto que pudesse, de alguma forma, preencher lacuna, proporcionando oficinas, workshops, para contribuir com a reciclagem das linguagens artísticas”, destacou.

O projeto é um resgate de um outro, iniciado ainda na gestão passada de Edvaldo Nogueira, e que carregava o mesmo nome. “O projeto anterior era pequeno. Existiam os debates sobre profissões artísticas, mas, não era nada muito amplo. Daí, quando nos reunimos para pensar nesse incentivo aos músicos, decidimos fazer o resgate do ‘Ossos do Ofício’, mas, com amplitude”, contou Nino.

Encabeçado pela Escola de Artes Valdice Teles, o projeto se desenvolve aproveitando as oportunidades. Em tempos de uma economia com os cintos mais apertados, grandes nomes que participam do “Ossos do Ofício” se tornariam inviáveis, porém, contar com o apoio certo e saber como agir é uma das maneiras que faz com que os custos sejam minimizados e o projeto aconteça. “Estamos vivendo uma crise terrível em todo o país e o orçamento está muito apertado. Então, a gente tenta se virar como pode, fazendo o máximo com o mínimo que se tem, lançando mão de contatos e amizades. Além disso, os artistas também têm uma admiração pela gestão. Essa é uma das vantagens de ter um governo com compromisso popular. Quando a gente fala que o prefeito tem um alinhamento com as causas populares, as pessoas se apaixonam e resolvem colaborar. É dessa forma que o projeto vem crescendo e temos boas perspectivas para o ano que vem”, ressaltou Nino Karvan.

Passagens

O primeiro músico a dar a sua contribuição ao projeto foi produtor cultural Bono Costa. Ele é coordenador da rede Latino América 360 e circula por diversos países promovendo o intercâmbio da produção musical latino-americana. Em seguida, foi a vez do violinista italiano Giordano Passini que já tocou em importantes festivais pelo mundo e hoje se apresenta e diversos países. O terceiro foi o integrante do grupo Barbatuques, Maurício Maas, com a Oficina de Musicalidade Corporal. Fechando o ano de 2017, foi a vez de Armandinho, filho de Osmar (da dupla Dodô e Osmar, criadores do trio elétrico), marcar a sua passagem pelo Ossos do Ofício.

Em 2018, quem dividiu conhecimento foi Zé Paulo Becker, músico e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), que já tocou com Ney Matogrosso, Elza Soares, Chico Buarque, Zé Renato, entre outros.

Agora, para concluir o ano, o Ossos do Ofício recebeu, na última edição de 2018, o pianista italiano Stefano Cortese, que tem uma trajetória primorosa na música na Europa, tendo trabalhado em quase todos os países do continente, viajou como voluntário para a Palestina, trabalhou na Faixa de Gaza fazendo oficinas de músicas para o povo que vinha sofrendo com as dores da guerra, trabalhou na Bósnia durante a guerra no país, em 1990. “Ele tem uma bagagem fantástica. Stefano veio para o Brasil há 10 anos e montou a Escola de Música do Capão, vive lá e viaja o país inteiro. Para quem já tem uma trajetória artística trabalhada, músico já consagrado, o que a gente pode contribuir é com esse tipo de coisa, como a reciclagem, ajudar em como pensar, formatar, melhorar e acender mais a carreira. O poder público tem um papel fundamental no investimento da formação. Além da formação, o poder público não pode ser o grande pai e mãe que dá tudo de mão beijada, mas, tem que ter o mínimo de fomento para quem está começando e ainda não teve a oportunidade de chegar a um nível de trabalho que consiga caminhar com as próprias pernas. Isso é muito importante”, frisou o diretor de Arte e Cultura da Funcaju.

Para quem contribui dividindo um pouco da sua bagagem, o projeto é uma ação excepcional, mas, poderia ser normal para todas as gestões, como frisou Stefano Cortese. “Infelizmente não  é prática comum reconhecer o valor do compartilhar saberes e experiências. O objetivo não é o produto, mas o processo. Ter esse espaço para manter o diálogo deveria ser normal, mas, é excepcional, por isso, sou muito agradecido por ter essa oportunidade de troca. Me alegra ver que a Prefeitura reconhece isso como fundamental. Não estamos compartilhando apenas saberes de música, mas de vida, de cidadãos, como nos colocamos dentro da cidade sendo músicos, creio que isso está entrelaçado”, salientou o pianista.

Um dos participantes do projeto foi Danilo Duarte. Músico da cidade de São Cristóvão, ele faz parte de um coletivo voltado para o desenvolvimento de bandas da região. “Quando soube da oficina achei que seria uma ótima oportunidade de aprender mais e foi, de fato, uma experiência fantástica. Para quem é músico daqui essa é uma oportunidade rara de encontrar com grandes nomes da música. Honestamente, não sei quando e como eu poderia ter acesso a eles de outra forma que não fosse essa. É muito bom ver uma gestão que se preocupa e se importa com o crescimento dos músicos”, considerou.