Alunos de escola da Prefeitura terão aulas de surfe

Educação
21/03/2019 21h36

Da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Elias Montalvão até a praia do Mosqueiro, a distância é de, aproximadamente, um quilômetro. Já a distância que os alunos da Emef tinham de qualquer desporto aquático era maior ainda. No entanto, o mar e o esporte se tornarão mais próximos dos estudantes da unidade através do projeto 'Transformasurfe: uma onda de educação', que oferecerá aulas de surfe, inicialmente, para 20 alunos da escola.

A iniciativa partiu do professor de Educação Física Isaque Dórea Pereira e contou com o apoio da equipe da diretiva da escola e da Prefeitura de Aracaju, através da Secretaria Municipal da Educação (Semed). “O surfe faz parte da minha vida há 19 anos. Quando pedi remoção para a escola Elias Montalvão, há um ano, tive esse start de desenvolver esse projeto porque estamos localizados muito próximos da praia e, conversando com as crianças, percebi que, mesmo morando nos arredores, muitas delas tinham uma certa barreira com a praia, que é um espaço público”, explica o professor Isaque.

Vinte crianças (dez meninos e dez meninas) foram escolhidos para participar do projeto através de sorteio e também por causa do bom comportamento. Para as aulas, que acontecerão na Praia do Mosqueiro, às segundas e terças-feiras, de 14h às 17h, (a primeira acontece no próximo dia 25 de março) foram adquiridas cinco pranchas, três de softboard e duas de bodyboard, que foram compradas através do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), uma verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

“A direção da escola enxerga este projeto como um incentivo ao esporte. Nossos alunos vivem no entremeio da praia e essa é uma forma de ocupar o tempo ocioso deles, já que será realizado no contraturno em que eles estudam. É uma forma de almejar um futuro, de conhecer outras realidades, de crescer na vida. Por isso, a escola deu o total apoio ao projeto do professor Isaque, tanto com a compra dos materiais, quanto com o apoio pedagógico e a busca de parcerias”, destaca a diretora da Emef, professora Caroline de Souza Teixeira.

Funcionamento


Os 20 estudantes participantes do projeto serão divididos em duas turmas de dez, uma participa das atividades na segunda-feira e a outra na terça-feira, durante três horas seguidas, cada dia. O transporte dos alunos será feito por um ônibus disponibilizado pela Semed. A ideia inicial é de que o projeto dure todo o ano letivo, que inicia na rede municipal de Educação nesta segunda-feira, 25. No entanto, não são somente as aulas práticas que comporão as atividades.

“O projeto vai ser dividido em ciclos de ensino e não vai ser, simplesmente, pegar a criança e levar para surfar. Vamos levá-los ao Oceanário de Aracaju, para que eles vejam como é o mar por dentro e aprendam sobre ecologia e os impactos da poluição nos mares. Também promoveremos uma palestra com o Corpo de Bombeiros de Sergipe, pois sabemos que é o surfe, de certa forma, é uma atividade que oferece riscos e a palestra seria no sentido de entender que riscos são esses e formas para minimizá-los”, salienta o professor Isaque.

O Transformasurfe ainda contará com apoio de uma nutricionista, um professor de educação física para tratar sobre a importância da preparação física para a prática do esporte e um professor de biologia da própria comunidade, autor de um trabalho acadêmico sobre a morfologia da praia e a formação das ondas. “As crianças ainda vão ter a oportunidade de conhecer uma fábrica de pranchas. Vamos tentar permear todos os caminhos que envolvem o surfe”, conclui Isaque. Através de parceria com comércios da região, também foram adquiridos uniformes e camisas com proteção solar.

Comunidade

Para o desenvolvimento do projeto, uma importante parceria foi firmada: a recém-formada Associação de Surfistas do Mosqueiro auxiliará o professor Isaque durante as aulas. “O nosso intuito é disseminar o surfe aqui no nosso bairro para que mais gente pratique. As crianças são a base, além de ensinar um esporte, também trabalhamos com elas a questão ambiental e, quem sabe, não sai um atleta daqui da nossa região? E mesmo que não saia um atleta, com certeza sairão  crianças com mais esperança no futuro”, acredita Bruno da Silva Nascimento, representante da associação e surfista há 21 anos.

A cabeleireira Glória Maria Santos Palmeira é mãe de Gabriel, de 11 anos, aluno da Emef Elias Montalvão e um dos mais empolgados com o início das aulas. Com o filho especial, Glória tem grandes expectativas. “Eu estou achando esse projeto um máximo, pois vai incentivar às crianças a praticarem um esporte. E tenho certeza que meu filho vai se desenvolver mais a partir disso, que vai conseguir se socializar mais. Depois que ele conheceu o surfe com o professor Isaque ele ficou empolgado e não vê a hora das aulas começarem”, contou.

Semed

As escolas municipais de Aracaju possuem autonomia para criar e desenvolver seus projetos, todavia, eles precisam de uma avaliação e autorização prévia da Semed. “Temos uma dinâmica de pedir às escolas que tenham interesse em desenvolver projetos, dos quais oferecemos modelos, que enviem pra gente analisar. Como neste caso, que avaliamos e aprovamos o Transformasurfe, que é um projeto pioneiro e veio a calhar, porque essa é uma região litorânea e a praia já faz parte do dia a dia deles. Também enxergamos como uma oportunidade de ampliar as modalidades esportivas praticadas nas nossas escolas, pois há o hábito de se praticar somente os esportes que tem destaque na mídia, como futebol e voleibol e outras modalidades tão importante quanto, ficam esquecidas”, avalia o coordenador de Esporte e Educação Física da Semed, José Robson dos Santos.

Para a secretária municipal da Educação, Maria Cecília Leite, é importante dar essa autonomia às unidades, pois cada região da cidade possui suas particularidades. “Temos projetos incríveis desenvolvidos em nossas escolas por nossos professores, diretores, coordenadores. E este é mais um deles, que vai aproximar nossos alunos a uma prática esportiva, vai ensinar ecologia, preservação do meio ambiente e eu gostaria de parabenizar a escola e ao professor Isaque por essa iniciativa louvável”, pontuou.

Durante a aula inaugural do Transformasurfe, que aconteceu nas dependências da escola na última quinta-feira, 21, a comunidade escolar, juntos aos parceiros do projeto, se reuniram para celebrar o início da empreitada. Emocionado, o professor Isaque agradeceu o apoio dos presentes e já vislumbra voos mais altos. “Ainda nem começamos de fato e outras escolas já estão nos procurando, vendo nosso projeto como modelo. A ideia está se formando e ainda não temos noção do tamanho que vai adquirir. Estamos começando com duas folhinhas que pode se transformar em uma grande árvore. Enxergo o Transoformasurfe como uma expectativa de transformação, de entender a Educação Física como uma ferramenta de emancipação das crianças e das pessoas que utilizam esse elemento cultural e corpóreo que é o surfe e, dessa forma, trazer alguma transformação na vida dessas crianças e da comunidade”, concluiu Isaque.