Escolas municipais promovem atividades de conscientização sobre o autismo

Educação
12/04/2019 18h16



Abril é o mês de conscientização sobre o autismo, um transtorno descrito, por alguns profissionais, como o desenvolvimento anormal e ou comprometimento das capacidades de comunicação e interação dos seus portadores. Nos últimos anos, com o aumento do diagnóstico de casos, a Prefeitura de Aracaju tem atuado para capacitar seus profissionais para lidar com o acolhimento desse público de forma adequada. E esta semana, duas escolas realizaram atividades de natureza diversa, mas com o mesmo objetivo: ajudar a combater o preconceito contra os autistas e integrá-los na escola de maneira inclusiva.

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Alcebíades Melo Vilas Boas, localizada no bairro Industrial, a professora de Português, Rosana Batista dos Santos, decidiu realizar uma oficina especial com os alunos do 8º ano. A atividade, que ocorreu durante a semana, foi dividida em várias fases, desde a pesquisa, até as rodas de conversa, terminando, por fim, com a elaboração de uma cartilha. Os alunos também produziram vários cartazes, que foram espalhados pela unidade, destacando informações sobre o transtorno. Mãe de uma criança autista de 4 anos e meio, a educadora tirou da própria vivência a inspiração para realizar a atividade na escola onde atua. 

“O que eu percebo bastante é que as pessoas não sabem o que é o autismo. Normalmente, elas estão acostumadas a identificar deficiências pela aparência, e o autismo é diferente. Há muitos casos de autistas, hoje, diagnosticados. Então, é importante que as pessoas tenham conhecimento do que é para combater a intolerância, pois esta é uma resposta que surge com a falta de conhecimento. É isso que nós, aqui da escola, queremos combater. Aliás, este é um dos nossos papéis, combater a intolerância e a violência, isso se faz com conhecimento e também desenvolvendo a empatia, a solidariedade com o próximo”, frisou.

A resposta dos alunos foi mais do que positiva. “Eles se surpreenderam bastante com as descobertas feitas durante a pesquisa, porque a maioria não sabia o que era o autismo. Muitos achavam que seria algo parecido com a Síndrome de Down, por exemplo, então eles ficaram muito curiosos porque o autismo é um mundo infinito. O espectro autista tem os mais variados graus e eles ficaram impressionados em saber, por exemplo, que existem pessoas famosas que são autistas, grandes gênios, é um assunto bastante curioso, é uma temática que está sendo suscitada e é bom trazer a realidade para dentro da sala de aula, trabalhar com o que realmente acontece” avaliou Sara.
 
O entusiasmo com o trabalho pôde ser comprovado por declarações das alunas. “Achei que a forma como aprendemos sobre o tema foi bem legal”, garantiu Sara Kussano, de 13 anos. Para a Ingrid Lima, 12 anos, foi o momento de tirar dúvidas. “Já tinha ouvido falar do autismo, mas não imaginava que existiam tantas informações interessantes sobre quem porta esse transtorno”, explicou.
 
A estudante Jamylle Bispo, de 13 anos, falou de outro aspecto que agradou. “Foi muito bom trabalhar em grupo, falamos de um assunto sério de um jeito criativo”, afirmou. Já a aluna Thais Santiago, de 14 anos, destacou que aprendeu coisas que levará para o próprio cotidiano. “A filha de uma amiga da minha mãe é autista. Eu sempre brinquei com ela normalmente, mas agora eu a entendo melhor. E a partir de agora eu quero ajudar outros autistas”, declarou.

Treinamento para cuidadoras

Na Escola Municipal de Educação Infantil Dr. Fernando José Guedes Fontes, no bairro América, a atividade realizada na tarde desta sexta-feira, dia 12, foi de formação das cuidadoras que atuam com as crianças que estudam na unidade. Atualmente, dois alunos diagnosticados com autismo frequentam a escola, mas outras crianças já foram encaminhadas para receber o diagnóstico. "Surgiu a ideia em virtude do Dia Mundial de Conscientização do Autismo no início do mês. Como temos alunos autistas e estamos trabalhando intensamente a inclusão, então, nada melhor do que aproveitar a 'prata da casa', as nossas colegas, professoras da Emei Santa Rita de Cássia, para trazer essa oficina e gerar mais conhecimento para as nossas cuidadoras. Destacando sempre que esses alunos, como os demais, são da nossa escola e que todos devem ajudar nesse trabalho. E ouvir experiências da própria rede é uma inspiração", destacou a coordenadora Pedagógica da Emei Dr. Fernando Guedes, professora Rita de Cássia Fraga Matos.

Para a pedagoga da rede de ensino, Aclésia Correia dos Santos, a cada dia que passa o número de crianças diagnosticadas com autismo tem crescido. "Existe um estudo realizado nos Estados Unidos que aponta 70 milhões de autistas no mundo e estima-se que, no Brasil, o número pode chegar a dois milhões. Ou seja, a cada dia que passa, nós vamos receber, nas nossas instituições de ensino, mais crianças com autismo. E por conta disso precisamos estar preparadas. Primeiro sabendo o que é o autismo, o que é esse transtorno, quais as características apresentadas por uma criança autista para, daí, o profissionais avaliarem como utilizar as suas práticas pedagógicas de maneira eficiente para que esse aluno possam ser incluído no ensino regular e no ambiente escolar. Até porque nós sabemos que uma das dificuldades das crianças com autismo é essa interação com outras crianças", explicou a educadora que atua no Santa Rita e é uma das responsáveis pela capacitação.

A também pedagoga, e professora de Sala de Recursos no Santa Rita, professora Afranízia dos Santos, também avaliou a importância da atividade. "É fundamental que nos nos prepararmos e busquemos estratégias que possam ser utilizadas nas salas de aula e nas salas de recursos. As cuidadores são profissionais no apoio, junto com os demais profissionais da escola, que estão aqui para atuar junto a essas crianças com autismo. É essencial que tenham o conhecimento para identificar e ajudar a trabalhar com as dificuldades apresentadas por esses alunos e incentivá-los nas suas potencialidades. Elas passam grande parte do dia com essas crianças e precisam ser envolvidas, pois o professor é o responsável pelo ensino, mas o cuidador é quem estará realizando as atividades com a criança. E nós ficamos muito felizes com o convite da coordenação para compartilhar nossa experiência", destacou.

A cuidadora especial que trabalha há dez meses na Emei Dr. Fernando Guedes, Rojaine Gomes da Silva, falou sobre como é desempenhar a função e porque considera o treinamento um momento importante. "É um desafio muito grande para mim, como cuidadora especial, que nunca havia trabalhado com esse público específico. Sou estudante de enfermagem, já havia participado de seminários sobre autismo, mas não sabia na prática como seria atuar com essas crianças. E a importância de trazer o treinamento é preparar o profissional, capacitá-lo para saber como lidar com a criança, pois elas são singulares. Aqui, no meu caso, sou o apoio de dois alunos, cada um com suas peculiaridades e daí, às vezes, podem surgir situações que você não saiba qual reposta dar. E esse curso vem nos capacitar para saber como lidar com essas adversidades. Outro aspecto, é o da inclusão social, que não só eu, mas todas as cuidadoras, precisamos entender que o autista deve, sim, ficar na sala de aula junto com as demais crianças. E, no final das contas, posso dizer que eu estou aprendendo muito mais com esses meninos do que eles comigo", avaliou.