Programa Aracaju Alfabetiza inicia aulas para jovens e adultos

Educação
03/06/2019 12h23

“Depois que aprendi a ler, me tornei uma pessoa motivada. Já sei fazer contas, sei passar um endereço para alguém, e não preciso mais que ninguém leia minhas cartas, não preciso dividir meus segredos com ninguém”. Seu José da Conceição, de 53 anos, é um dos usuários do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop). Nesta segunda-feira, 3, ele participou da primeira aula do ‘Aracaju Alfabetiza’, um programa voltado para jovens e adultos que são analfabetos ou analfabetos funcionais. Este é mais uma meta do Planejamento Estratégico da Prefeitura de Aracaju que começa a ser cumprida.

A turma do Centro Pop é a primeira das nove formadas que oferecerão aulas para alunos a partir dos 15 anos de idade, que não sabem ler ou que leem muito pouco. A iniciativa é coordenada pela Secretaria Municipal da Educação (Semed), através da Coordenadoria de Educação de Jovens e Adultos (Coeja). A secretária Maria Cecília Leite acompanhou a primeira aula do programa e deu boas-vindas aos estudantes. “Temos uma equipe maravilhosa e tenho certeza que esses alunos darão o melhor de si. Essa é uma oportunidade importante na vida deles, pois além de aprender a ler e escrever, é o primeiro passo para concluir o Ensino Fundamental. Nunca é tarde para recomeçar e eles estão aproveitando esta oportunidade, por isso, desejo muita sorte a todos”, comenta a secretária.

O “Aracaju Alfabetiza” tem como meta a erradicação do número de analfabetos absolutos e funcionais. Para realizar o diagnóstico, foram utilizados os bancos de dados do Programa Bolsa Família, do Cadastro Único, da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), da Secretaria Municipal de Assistência Social, cadastro dos cidadãos atendidos no Centro POP, dos Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas), dos Cras, das associações de bairros e dos Conselhos Tutelares.

A política de alfabetização aos cidadãos que ingressam no projeto é de acelerar os três anos iniciais do Ensino Fundamental, em um período de 200 dias letivos, com três horas diárias de estudos, totalizando a carga horária de 600 horas, obtendo um percentual significativo de aprovação com qualidade e competência. Além da alfabetização, esta ação pretende, em parceria com a Fundat, oportunizar formação para o mundo do trabalho, a exemplo de noções de informática, bem como outras formações para uma cidadania empreendedora. Após o final do ano letivo, os estudantes serão encaminhados para as escolas municipais para cursar, regularmente, a série que estiverem aptos após a participação no Aracaju alfabetiza.

Turmas

Além do Centro Pop, localizado no Centro de Aracaju, as turmas do Aracaju Alfabetiza funcionarão também nos seguintes locais: Cras Gonçalo Rollemberg, no Siqueira Campos (tarde); Instituto Amigos da Inclusão Social, conjunto Almirante Tamandaré (noite); Centro de Criatividade, bairro Getúlio Vargas (noite); Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Sérgio Francisco da Silva, no Lamarão (noite). Na região do bairro Santa Maria, quatro turmas serão ofertadas e funcionarão na igreja católica do loteamento Jardim Santa Maria, no turno da noite; na sede da Fundat da avenida Alexandre Alcino, à tarde; na Emef Papa João Paulo II, à noite; e na Fundat do bairro 17 de Março, à tarde.

A turma do Centro Pop é a única ofertada no turno da manhã. “Essa era uma reivindicação dos usuários e da coordenação do Centro Pop, que uma turma fosse ofertada aqui. Esta é uma turma atípica, com moradores de rua, que geralmente não tiveram acesso à escola. Embora eles vivam nas ruas, possuem o desejo de estudar, então, nos pediram e aqui estamos ofertando esta turma”, explica a coordenadora do Coeja, Ana Izabel de Moura.

Quem ainda não se matriculou e deseja participar das aulas, poderá se inscrever até a próxima sexta-feira, 7. Basta levar documentação pessoal a um dos locais onde as aulas são ofertadas ou entrar em contato através dos telefones 3179-1534, 3179-1538 ou pelo whatsapp 9.98106-2969.

Formação

Antes do início das aulas, a Semed realizou formações com os professores que participarão do projeto. Os encontros aconteceram na Escola de Governo da Prefeitura de Aracaju. “É importante que esses professores participem dessa formação porque eles precisam entender o que é o Aracaju Alfabetiza, a carga horária, que é diferenciada, e suas peculiaridades, diferentes das salas de aula regular”, destaca Ana Isabel.

Uma das professoras participantes foi Vanessa Morais Noronha, coordenadora administrativa da Emef Papa João Paulo II, bairro Santa Maria. Ela conta que muitos pais de alunos se interessaram em participar do programa. “A gente percebe, até no ato da matrícula, que muitos pais se constrangem por não saberem nem assinar o nome ou assinar com dificuldades. Nós aproveitamos o momento que eles vão levar ou buscar os filhos na escola para fazer o convite para participar das aulas do Aracaju Alfabetiza, sempre tratando com o mesmo carinho com que tratamos as crianças. Nós esperamos que a comunidade participe para diminuir este índice de analfabetismo e para acabar com a visão que muitos deles têm de que a escola é só para os mais jovens”.

Quem ministrará as aulas para os alunos do Centro Pop é a professora Isabel Cristina Santos Silva. Ela já deu aulas no Centro Pop através do programa Brasil Alfabetizado, do Governo Federal, e, agora, retorna à sala de aula do local com o Aracaju Alfabetiza. “Aracaju foi pioneira em levar a alfabetização para casas de longa permanência, como asilos, por exemplo. Colocamos esse olhar sobre os usuários do Centro Pop, partindo do ponto de vista de que ninguém é morador de rua e, sim, está como morador de rua. Com o Brasil Alfabetizado, alcançamos resultados bastante positivos, e agora estamos retornando para cá com o Aracaju Alfabetiza, com um olhar diferenciado, com pedagogia diferenciada e vou trabalhar para continuarmos com o êxito da alfabetização destes alunos”.

Seu José da Conceição, que já aprendeu a ler durante as aulas do Brasil Alfabetizado, segue as lições com o Aracaju Alfabetiza e confessa que, depois que aprendeu a ler, a vida mudou. “Me sinto mais estruturado. A situação de viver nas ruas me fez desistir de estudar, mas agora vou aproveitar a oportunidade que estão me dando para seguir em frente. Nunca gosto de faltar aula e sempre sou o que mais faz perguntas à professora. Não gosto apenas de repetir o que os outros falam, gosto de saber o significado de cada coisa”, afirma.