Aracaju Alfabetiza resgata a autoestima de jovens e adultos e estimula conclusão do ensino básico

Agência Aracaju de Notícias
05/08/2019 07h15

Divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do primeiro trimestre de 2019 apontou que 35% dos brasileiros com mais de 14 anos não completaram o ensino fundamental. No Nordeste brasileiro, o percentual é de 38,7%. Na capital sergipana, a Prefeitura Municipal atua para fazer a sua parte na transformação desse quadro negativo por meio do projeto Alfabetiza Aracaju, que oferta a Educação de Jovens e Adultos (EJA) em escolas da rede municipal de ensino.

Mais do que a quebra no aprendizado, esses dados demonstram a interrupção de perspectivas. São vários os motivos que levam pessoas a deixarem os estudos, como a rotina precária, situação que leva o indivíduo a trocar o ensino pelo trabalho. Por isso, desde o ano passado, a Prefeitura tem realizado uma busca ativa para identificar os estudantes que optaram pela descontinuidade dos estudos e trazê-los de volta às salas de aula.

Atualmente, 19 escolas municipais ofertam a EJA em Aracaju e, ao todo, 3.354 alunos estão matriculados, como apontou a coordenadora da modalidade ensino da Secretaria Municipal da Educação (Semed), Ana Izabel de Moura. “Graças à busca ativa que realizamos, aumentamos o número de estudantes com relação ao ano passado. Em 2018, eram 2.745 alunos, ou seja, tivemos um aumento significativo em 2019. Batemos de porta em porta, literalmente”, afirmou.

No atual cenário brasileiro e mundial, quando o mercado de trabalho está cada vez mais exigente, ter o Ensino Fundamental completo é mais do que básico. Os empregadores procuram profissionais cada vez mais capacitados. No entanto, para muitos dos alunos, além da perspectiva de se inserir no grupo dos empregados, o retorno aos estudos significa um olhar diferente para si mesmo, um ato de amor próprio.

Aos 16 anos, Jaires Alves se casou. Parou o processo de educação formal na 5º série do Ensino Fundamental. Teve dois filhos, hoje, com 5 e 3 anos de idade cada. No entanto, não foi por sua vontade que parou os estudos. “Sempre tive vontade de estudar, mas, meu ex-marido nunca deixou. Eu não tinha condições de conseguir um emprego e só dependia dele, até que me separei. Hoje, moro com meu irmão e minha cunhada, e eles me incentivam a estudar. Mesmo que eu case de novo, não vou parar. Me vejo com um emprego, melhor de vida, e estou cada vez melhor nos estudos. Se eu encontrar uma mulher que deixou de estudar por causa do marido, vou dizer para voltar a estudar porque o marido pode ir embora, mas, o que a gente aprende estudando, não”, frisou a estudante, atualmente, com 24 anos.

Quando era criança, Verônica Borges sonhava em ser aeromoça. Ela sabia que precisava estudar para realizar o desejo, mas, por 15 anos, precisou interromper o voo. Há dois anos, ela pode voltar a dar asas ao sonho. “Quando eu era mais nova, muitas coisas me fizeram parar os estudos. Hoje, vejo os estudos de forma muito diferente. Como tenho dois filhos que estudam na Costa Melo [Escola Municipal de Ensino Fundamental – Emef - José Antônio da Costa Melo], na hora que os trago pra aula, já fico para minha. Eles mesmos já dizem que não vou faltar à aula. Me imagino estudando sempre, penso em fazer faculdade. Aquela vontade de ser aeromoça ainda existe, mas, me encantei com a Enfermagem depois que fiquei um tempo com meu filho no hospital. Quero ajudar as pessoas como as enfermeiras ajudaram meu filho”, contou.

A idade mínima para se matricular é 15 anos e as aulas acontecem à noite. No entanto, em 2019, a Semed abriu duas turmas no turno vespertino na Emef José Antônio da Costa Melo. “Ao realizarmos uma pesquisa referente à procura por matrícula nessa modalidade, notamos que muitos dos alunos não seguiam no processo pela dificuldade de ir às aulas à noite, por isso, decidimos abrir essas duas turmas à tarde e já registramos um aumento na procura”, destacou a coordenadora da EJA.

Uma das professoras da EJA é Edilma Porto. Para ela, a modalidade é uma forma de fazer com que os alunos se sintam parte do desenvolvimento da sociedade. “O desafio é motivá-los a voltar aos estudos e continuar estudando já que eles têm dificuldade. Isso significa reinseri-los na sociedade, já que a cada dia é mais importante ter estudo, então, quanto mais eles estudam, significa que estamos conseguindo que eles ganhem espaço, se reconheçam como sujeitos de opinião e, ao mesmo tempo, portas se abrem no mercado de trabalho. Enquanto professora, só tenho motivos para me satisfazer. Alguns tinham muita dificuldade até em pegar um lápis para escrever, agora, já têm expectativa de melhorar de vida”, ressaltou.

Como funciona

A EJA é uma modalidade de ensino da Educação Básica que se destina àqueles que não foram alfabetizados ou não concluíram os estudos. As aulas são gratuitas, presenciais e ocorrem de segunda à sexta-feira. O processo de conclusão é dividido em ciclos e etapas. O primeiro ciclo vai do 1º ao 3º ano. No segundo, o aluno estuda o 4º e 5º anos. Depois, caso ele queira completar o Ensino Fundamental, precisa cursar as quatro etapas, que vão do 6º ao 9º anos.