Ocupe a Praça proporciona debate sobre produção do álbum Opará, da sergipana Héloa

Cultura
14/11/2019 10h32

O Ocupe a Praça: Ancestralidade, projeto edição de novembro do projeto desenvolvido pela Prefeitura de Aracaju, teve continuidade nesta quinta-feira, 14, no Centro Cultural, com a parte formativa da programação.

Participaram do evento a cantora e compositora sergipana Héloa; o produtor, músico e arranjador, Zé Nigro; e o percussionista e compositor, Maurício Badé. As discussões centralizaram-se no processo de produção do disco Opará, de Héloa, e na relação da construção de uma obra canalizada na espiritualidade.

Opará é o nome do segundo álbum da cantora Héloa, que vem celebrar um novo momento na vida da artista e um encontro muito significativo com suas próprias raízes. Badé explica que o disco “Opará” surge em momento de extrema importância no processo de empoderamento das culturas afro-tradicionais e ressalta a necessidade de afirmação das nossas ascentalidades.

“No Opará trazemos a cultura do terreiro, do largo, da espiritualidade, as pessoas precisam saber das nossas origens, de quem somos filhos.” O nome foi escolhido a partir de uma coincidência, pois a palavra "Opará" permeia duas ancestralidades muito presentes na vida da cantora e que celebram a força e grandiosidade das águas em duas tradições: é o primeiro nome dado ao Rio São Francisco, pelos índios Caetés, e significa "Rio, grande como o mar" na língua Dzibukuá.

Enquanto produtora do próprio disco, Héloa evidenciou a importância de criar uma relação de horizontalidade com seu público e explica como cantar em Sergipe, em um projeto como Ocupe a Praça, permitiu que existisse essa troca de energia. “É preciso dialogar de forma mais humana, a minha intenção é estender minha figura pra quem sempre me inspirou na minha caminhada, e o público sergipano faz parte disso”, afirma.

O Opará é um disco multifacetado, cuja construção foi feita com a participação coletiva de diferentes grupos tradicionais do estado de sergipe, como os Kariri-Xocós, nesse contexto, Zé Nigro - integrante da banda - também explica como a troca de referências e a mistura de ritmos fez com que o Opará resultasse nessa novidade musical “desde a concepção que foi feita com Héloa e Badé, até a entrada no estúdio para o processo de gravação, tudo foi construído na base de muita troca e de muito aprendizado, e isso traçou o caminho para que chegássemos no Opará”, destaca.
 
O disco que traz o imaginário do Rio São Francisco e seu curso - cuja nascente está no estado de Minas Gerais e sua foz em Sergipe -, com seus processos de assoreamento, abandono e mutilações, bem como das suas comunidades ribeirinhas e tradicionais, mostra a conexão de Héloa com sua origem e sua busca espiritual em um canto que transita entre força e suavidade e forte estado de presença, desafiando ainda mais esse contato com a ancestralidade de matriz africana e indígena em um movimento de registro dessas resistências. “Opará é um álbum de resistência, é resultado de uma memória coletiva do povo brasileiro”, enfatiza a cantora.