Feira das Religiões estimula respeito e tolerância em escola municipal no Olaria

Educação
22/11/2019 16h30

A cidadania, a tolerância e o respeito se adquirem com conhecimento. Por este motivo, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Jornalista Orlando Dantas, no bairro Olaria, promoveu nesta sexta-feira, 22, a terceira edição da Feira das Religiões. O evento já faz parte do calendário da escola e reuniu alunos, pais, professores e sacerdotes para exposições e discussões sobre diversidade religiosa.

O tema desta edição foi “Religiosidade e Negritude”. Desde o início do ano, os professores realizaram pesquisas com os alunos referentes a diversos assuntos dentro da temática principal, o que resultou em uma exposição envolvendo símbolos, culinária e uma grande demonstração de respeito e tolerância.

A Feira das Religiões foi idealizada por Guilherme Alexandre Santos, que atua na Emef desde 2018 através do programa de estágios da Prefeitura de Aracaju. No entanto, o primeiro contato de Guilherme com a escola foi com o estágio obrigatório do curso de licenciatura em Ciências da Religião, o que proporcionou a idealização da Feira.

“Quando cheguei na escola, em 2017, para dar aulas de ensino religioso, os alunos ficaram admirados porque eu não me limitava apenas a uma religião, trabalhava com a pluralidade, até então nunca vista por eles. Com isso, eles foram criando interesse pelo tema. Cada religião tem algo que nos fascina, tem seu sagrado e sua arte, daí surgiu a ideia de criar essa Feira. Quando a gente conhece a diversidade religiosa, passa a admirar e respeitar e isso também aproxima os pais da escola e eles conseguem perceber o quanto é importante o ensino religioso, porque se trabalha cidadania, respeito e tolerância”, afirma Guilherme.

A terceira edição da Feira recebeu sacerdotes de diversas religiões, a fim de promover o conhecimento e o respeito às diferenças. Um destes convidados foi o babalorixá Moisés de Logun Edé, representando o candomblé. Dirigente de um terreiro no conjunto Bugio, o sacerdote já desenvolve trabalhos de conscientização e palestras em escolas da região.

“As pessoas estão mal informadas sobre religiões afrobrasileiras e sobre a cultura africana. Nas escolas têm aula de religião, mas nunca se convida um babalorixá para ensinar sobre cultura yorubá, que influencia tanto a nossa cultura brasileira, com sua língua, sua culinária, religiosidade. Quando dou uma palestra, ninguém é obrigado a acreditar no que eu acredito, mas conhecer e respeitar é fundamental e eu tenho a maior satisfação em poder passar este conhecimento”, destaca o babalorixá.

Entre os temas abordados na Feira, estiveram a culinária na religiosidade africana, apresentação de santos negros da igreja Católica, luta e resistência do negro nas religiões de matriz africana e a cultura africana e suas contribuições mundiais. O coordenador pedagógico da Emef Jornalista Orlando Dantas, professor Anderson Tadeu Gonçalves, afirma que a direção da unidade não esperava que o evento teria a proporção que teve.

“Imaginávamos que seria um evento pontual, mas, diante da curiosidade, empenho e envolvimento dos alunos, fomos crescendo a cada edição. Aqui na escola vemos bastante alunos cristãos, mas sabemos que os adeptos de religiões africanas também existem, porém, se limitam, muitas vezes por medo do preconceito. Um evento como esse contribui, inclusive, para que estes alunos possam assumir sua fé sem medo de julgamentos”, revela o coordenador.

Professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Rivaldo Sávio de Jesus prestigiou o evento e comentou sobre sua importância. “Vendo a explicação destes alunos, já se percebe que eles têm bastante entendimento sobre o tema. E isso é importante porque ainda é muito difícil inserir esse tipo de temática dentro das escolas e universidades. Dentro da Educação, é importante que o aluno saiba a origem de sua cultura, pois somos fruto de uma miscigenação e temos que respeitar isso. É fundamental mostrar a importância das religiões brasileiras, suas origens”, comenta.

O padre Marcos Antônio dos Santos, pároco da igreja de Santa Clara, no bairro Jardim Centenário, contribuiu com a pesquisa relacionada ao catolicismo. “Recebi o convite de um dos professores da escola, que é meu paroquiano e aceitei pela importância que a religião tem na vida das pessoas. A religião é um aspecto cultural da sociedade que não precisa ser transcurado. Acredito que a presença de um padre poderia fortalecer a Feira, no sentido de explicar para aqueles que querem conhecer mais o catolicismo”, argumenta o padre Marcos.

A auxiliar de serviços gerais Kátia Conceição, cujo filho estuda na Emef, participou das duas edições anteriores da Feira das Religiões e fez questão de estar presente também nesta edição. “Gosto de participar porque vou aprendendo muita coisa que não sabia. Eu vejo bastante preconceito com as religiões afro e quando a gente passa a conhecer os seus significados, passa a respeitar as escolhas do próximo”, frisou.

O aluno Moisés da Conceição, do 9° ano, revela que presenciou resistência dos colegas em desenvolver o tema. “Alguns colegas falaram que não queriam participar, por causa do tema, mas quando passamos a pesquisar e nos aprofundar, eles mudaram de ideia, pois entenderam o conceito das religiões afro. Eu sou evangélico, mas já falamos sobre esse tema no Comitê Estudantil, que é um projeto desenvolvido aqui na escola, e foi tratado o tema sobre respeito às religiões, por isso nunca tive preconceito nenhum”, garante.