Prefeitura promove debate sobre Saúde Mental da população negra

Saúde
28/11/2019 16h44

Ao longo de todo o ano, a Prefeitura de Aracaju promove ações que estimulam a reflexão sobre as questões raciais, e durante o mês de novembro, quando se faz alusão ao Dia Nacional da Consciência Negra, esse trabalho é intensificado para fortalecer o debate. Deste modo, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio Rede de Atenção Psicossocial (Reaps), realizou nesta quinta-feira, 28, o Fórum Saúde e Consciência Negra.

O evento abordou com os trabalhadores da Reaps as especificidades do cuidado à saúde desta população, marcada historicamente por determinantes sociais desfavoráveis. Durante o Fórum, houve apresentação do Grupo de Maculelê do Caps III Jael Patrício e o Bazar da Reaps, com produtos produzidos pelos usuários dos serviços.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidades (ONU, 2017), quase 80% dos usuários que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil se autodeclaram negros.

“Historicamente, os serviços de Saúde Mental são ocupados, prioritariamente, pela população negra. São os negros que geralmente fazem parte da população de rua, estatisticamente também representam boa parte dos que ocuparam os manicômios. Da mesma forma, temos muita gente com algum tipo de transtorno mental, muitas vezes relacionada à questão social que o negro passa. Por isso promovemos esse debate, com o desejo de chamar a atenção para essa população que é tão atingida por questões sociais e dificuldades de acesso”, afirma a coordenadora da Rede de Atenção Psicossocial, Chenya Coutinho.

Participaram da mesa redonda Márcia Martins, especialista em Saúde Pública e Educação Especial, servidora lotada no Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador/Cerest da SMS; Luciana Rodrigues, psicóloga e coordenadora do Caps AD III Primavera; o advogado Wesley Santana, coordenador do Núcleo de Educação da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SE e membro da Associação Nacional da Advocacia Negra/ SE e Klécio Barbosa, integrante do Grupo de Trabalho de Relações Interetnicas do Conselho Regional de Psicologia.

“A questão racial deve ser debatida sempre, para que se leve a todos, a conscientização acerca de que há uma questão racial muito forte no Brasil, historicamente em razão também do falho processo de abolição da escravatura, e que por isso merece uma atenção maior para que através de políticas afirmativas, se possa tentar diminuir o máximo essas distorções”, ressaltou Wesley Santana.

Para Klécio Barbosa, a população negra ainda sofre com o acesso a diversos espaços, entre eles o da saúde. E é importante que esse usuário/paciente seja atendido considerando além de sua patologia o contexto social no qual ele está inserido.

“Nem sempre aquilo que está sendo trazido como doença, vai ser lido, por exemplo, sob a ótica do racismo. Isso porque, muitas vezes os profissionais não estão preparados, porque na nossa formação muitas vezes, a gente não estuda isso. É preciso ter esse olhar sobre a questão do acesso dessa população também aos espaços de saúde”, salientou Klécio.

A profissional de Educação Física, que atua no Caps Jael Patrício, Paloma Dias Cardoso Feitosa, elogiou a iniciativa. “É bastante importante, porque nos faz refletir como profissionais, sobre como está a nossa prática com relação à pessoa negra como um todo. Tudo que foi discutido nos faz pensar sobre essa prática, que muitas vezes passa despercebida. Sabemos que a população negra é mais vulnerável e é muito importante se pensar em políticas de saúde para que a gente consiga atingir o cuidado da saúde de maneira plena”, afirmou.