Prefeitura encerra ciclo formativo para professores voltado ao ensio da história afro-brasileira

Educação
29/11/2019 15h35

A Prefeitura de Aracaju promoveu nesta sexta-feira, 29, o último encontro da formação continuada Ilé-Iwé. Denominado ‘Alamoju’, o seminário lotou o auditório do Ministério Público de Sergipe (MP/SE) e promoveu debates sobre a Educação das Relações Étnico-Raciais (Erer) e apresentação dos projetos desenvolvidos pelas escolas municipais da capital.

O Ilé-Iwé foi iniciado em maio deste ano e objetiva fortalecer ações e projetos pedagógicos que contemplem a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de história afro-brasileira nas escolas de Ensino Fundamental. A iniciativa é da Secretaria Municipal da Educação (Semed), desenvolvida pela Coordenadorias de Políticas Educacionais para a Diversidade (Coped) e Arte e Educação (Coart).

A formação continuada foi voltada a professores e coordenadores pedagógicos e estendida aos profissionais da Educação dos municípios de Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e também da rede estadual de ensino. A abertura do seminário contou com a apresentação dos grupos Orquestra de Atabaques de Sergipe, Um Quê de Negritude, Grupo Cultural Maracatu Asè D’Orí e a Feira do Mangaio Negro.

“Estamos muito orgulhosos de toda a trajetória percorrida até chegar no Ilé-Iwé. Depois de realizarmos um diagnóstico sobre o racismo na nossa rede, elaboramos uma série de projetos, iniciando pelo Lápis de Cor. No decorrer desse trabalho, estamos colhendo frutos maravilhosos, pois de apenas cinco escolas que apresentaram projetos que contemplavam a lei 10.639 em 2017, em 2019 todas 44 escolas de Ensino Fundamental e boa parte das escolas de Ensino Infantil nos enviaram suas ações. O Ilé-Iwé foi uma grande troca de experiência e o nosso desafio agora é fazer com que esse enfrentamento ao racismo seja feito diariamente”, afirma a coordenadora da Coped, Maíra Ielena Nascimento.

A professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Maria Batista Lima, proferiu a palestra ‘Educação das Relações Étnico-Raciais (Erer) e Práticas Pedagógicas Artirracistas’, na qual abordou problemáticas relacionadas ao uso de materiais didáticos com estereotipação da população negra, valorização da literatura negra dentro dos currículos, entre outros.

“Já demos alguns passos, mas ainda é preciso muitos outros para que a Educação das Relações Étnico-Raciais aconteça de fato, e isso não é algo que se faz sozinho. Por isso, todos os profissionais da Educação aqui presentes são fundamentais neste processo para que este não seja um projeto pontual, mas que seja aplicado dia a dia nas nossas escolas”, destaca a professora Maria Batista Lima.

A Coordenadoria de Promoção da Igualdade Étnico-Racial do Ministério Público (Copier/MP-SE) foi parceira da Prefeitura Municipal durante a realização do Ilé-Iwé. O promotor Luís Fausto Valois conta que, através deste e de outros projetos, a instituição tem colaborado, cada vez mais, com a luta do povo negro. “O que nós da Copier pudermos fazer para combater o racismo e a intolerância religiosa, faremos. Hoje, as comunidades de povos tradicionais se sentem à vontade no Ministério Público, algo que, no passado, sequer sabiam da sua existência. Já trouxemos para cá a poesia da periferia, o funk, tudo isso dando espaço e visibilidade para a cultura negra”, destaca o promotor.

Ilé-Iwé

Entre maio e novembro deste ano, o Ilé-Iwé realizou cinco encontros distintos: Xiré – sensibilização; Quilombo – para uma educação preta; Ipadé – encontro de ideias; Ibewó – visita a projetos; e Alamoju – seminário em Erer, realizado nesta sexta-feira. No primeiro encontro, foram debatidos temas como extermínio da juventude negra, preto e comunidade, fruição de bens culturais e mulheres pretas, entre outros. Os encontros ainda promoveram um intercâmbio entre escolas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e comunidades de terreiro, com o objetivo de trocar experiências sobre projetos que deram e que não deram certo.

“Esse é um projeto necessário e importante não só para a nossa rede de ensino, mas para todas as redes participantes. É um projeto que nos assegura a necessidade de refletir, embasar e preparar a escola para o exercício, de fato, do que está posto nas diferentes legislações. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB, nos mostra a necessidade de trabalhar, difundir e reforçar a cultura africana nos nossos currículos, mas também há leis estaduais e municipais que nos colocam neste desafio”, enfatiza a secretária-adjunta da Semed, Maria Antônia de Arimateia.

A professora Itamara Leite Lopes, diretora da Escola Municipal de Ensino fundamental (Emef) José Antônio da Costa Melo, participou de todos os encontros do Ilé-Iwé e foi encarregada de apresentar aos participantes do seminário os projetos desenvolvidos, até agora, pelas escolas. “Foi uma formação muito importante porque envolveu diversas redes de ensino. Foi extremamente rico no sentido de adquirir conhecimentos e também de saber o que está acontecendo no nosso estado como um todo. O Ilé-Iwé fez com que a gente volte pra escola com uma visão mais aprofundada para  fortalecer ainda mais o trabalho que já vem sendo desenvolvido”, observa Itamara.

A realização do Ilé-Iwé contou com o apoio Copier/MP-SE, do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas da Universidade Federal de Sergipe (Neabi/UFS), da Secretaria Estadual da Educação, do Esporte e da Cultura (Seduc), das secretarias municipais da Educação de São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro e de diversas instituições da sociedade civil.

“Quando temos uma quantidade significativa de escolas, professores e alunos discutindo esta temática, acontece o que vimos neste mês de novembro, que foi uma grande mobilização de escolas de Ensino Fundamental e Educação Infantil realizando projetos no sentido de exercitar, pensar e fortalecer a cultura africana. O Ilé-Iwé foi um projeto fantástico que nos orgulhou do início ao fim e já começamos a colher seus frutos”, destaca a secretária municipal da Educação, Maria Cecília Leite.