Prefeitura capacita professores para valorizar cultura afro-brasileira nas escolas municipais

Educação
15/01/2020 15h20

Humanizar a Educação é um dos pilares para que as novas gerações construam um mundo mais igual. A partir de iniciativas como o seminário Ilé-Iwé - capacitação de professores ofertada pela Secretaria Municipal da Educação, que objetiva estimular ações e projetos pedagógicos que contemplem a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de história afro-brasileira nas escolas de Ensino Fundamental – a Prefeitura de Aracaju começa a colher os frutos desta formação.

Realizado em cinco encontros, os educadores puderam entender mais sobre a Lei, além de participar de debates e trocas de experiências sobre projetos educativos realizados em outras escolas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e comunidades de terreiro. A partir desta iniciativa, as escolas da rede municipal de ensino passaram a elaborar seus próprios projetos que, além de valorizar a cultura afrobrasileira, estimula a tolerância e o respeito às diferenças.

A partir das experiências obtidas nos cinco encontros realizados, a professora Rachel Lima de Oliveira, que leciona na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Jornalista Orlando Dantas, no bairro Olaria,  ajudou na idealização e execução do projeto ‘Entender o passado para conhecer o futuro’, que foi desenvolvido na semana da Consciência Negra.

“Percebemos que o preconceito racial ainda é muito presente no nosso país e está arraigado nas crianças. A escola é uma célula importante da sociedade, pois é daqui que sairão as novas gerações com pensamentos diferentes, por isso é fundamental que este trabalho comece por aqui. O Ilé-Iwé abriu novos horizontes, novas maneiras de ver essa problemática e me senti responsável em pôr em prática, aqui na escola, tudo que aprendi”, afirma a professora Rachel.

A partir do projeto, os alunos participaram de rodas de capoeira, palestras, oficinas de penteados para cabelos afro, apresentação da Orquestra de Atabaques de Sergipe, confecção de máscaras africanas, entre outras atividades. Bem-sucedida, a iniciativa agora faz parte do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola e será desenvolvida durante todo o ano lletivo, não somente em novembro.

“Quando a Orquestra de Atabaques se apresentava, um aluno veio até mim dizer que conhecia aquela música porque a mãe dele é do Candomblé e falou isso com orgulho, pois se sentiu representado. No dia seguinte da oficina de penteados para cabelos afro, já víamos as meninas mexendo no cabelo, se aceitando, melhorando a autoestima. Ver esses resultados nos estimula ainda mais. A iniciativa do seminário Ilé-Iwé foi muito importante e ajudou a dar uma guinada nos nossos projetos da escola”, revela Rachel.
 
Outra unidade escolar que aproveitou a vivência obtida no seminário foi a Emef Sérgio Francisco da Silva, localizada no bairro Lamarão. Durante a semana da Consciência Negra, a instituição  trabalhou com exposições, apresentações de dança e teatro, capoeira, entre outros. Além das atividades realizadas na escola, os estudantes também participaram de exposição realizada no Centro de Referência da Assistência Social (Cras) do bairro.

“Eu e mais três professores participamos do Ilé-Iwé, das oficinas, das rodas de conversa. Este foi um encontro muito bem pensado e bem trabalhado, que nos motivou bastante, nos deu um novo entusiasmo para aprimorar os projetos que já tínhamos aqui na escola, como também para pensarmos em novos. E abrimos esse trabalho para que a comunidade também tenha acesso, como as aulas de capoeira que acontecem todas as quartas-feiras, em que participam alunos, ex alunos e até pais”, destaca a coordenadora administrativa da Emef Sérgio Francisco da Silva, Fabiana Araújo.

O Ilé-Iwé foi uma iniciativa das Coordenadorias de Arte e Educação (Coarte) e de Políticas Educacionais para a Diversidade (Coped), da Secretaria Municipal da Educação (Semed) e contou com o apoio do Ministério Público Estadual (MP/SE), do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas da Universidade Federal de Sergipe (Neabi/UFS), das secretarias da Educação de Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, da Secretaria de Estado da Educação, Esporte e Cultura (Seduc) e de diversas entidades da sociedade civil.

Para a secretária municipal da Educação, Maria Cecília Leite, o Ilé-Iwé foi um projeto exitoso. “Como resultados do seminário, todas as 44 Emefs desenvolveram ações educativas ou projetos pedagógicos que contemplam a lei 10.639/03. E o mais interessante é o seu efeito cascata, pois as escolas de Educação Infantil também foram contagiadas pela causa e realizaram projetos lindos. Percebemos, então, que o nosso grande desafio para 2020 é fazer com que esses projetos sejam pensados e executados ao longo de o todo ano letivo, e não concentrados tão somente em novembro como alusão ao dia da consciência negra”, ressalta.

“O Ilé-Iwé foi um projeto cuidadosamente pensado com o intuito de discutirmos, juntamente aos professores e gestores das escolas municipais, a implementação da lei 10.639/03 através de práticas possíveis, repletas de potencialidades. Pensamos em uma formação diferenciada, em que a teoria estivesse intrinsecamente aliada à prática, em que as pedagogias fossem pensadas juntamente aos movimentos sociais, em que a cultura afrobrasileira não fosse apenas tão somente debatida, mas também vivenciada”, comenta a coordenadora da Coped, Maíra Ielena Nascimento.

“Quando nos demos conta, o projeto ficou tão forte e bonito que resolvemos fechar parceria com o Ministério Público e abrir vagas para as redes municipais de ensino de Socorro e São Cristóvão, além da rede estadual. Ofertamos, então, 120 vagas, todas elas preenchidas. Essa diversidade de público enriqueceu ainda mais os momentos formativos, favorecendo um intercâmbio único de experiências. Foi um projeto lindo, que temos muito orgulho de ter idealizado”, finaliza Maíra.