De volta ao calendário de eventos da capital, Projeto Verão é celebrado por gerações diversas

Iniciado em 2001, o Projeto Verão marcou época na história da capital sergipana. Em 2020, a Prefeitura de Aracaju, com o patrocínio do Ministério do Turismo, após seis anos de lacuna, reinseriu o evento no calendário turístico, econômico e cultural da cidade. Isso tornou possível o resgate, inclusive, de memórias de sergipanos e turistas que, em algum período dos tempos áureos da festa, vivenciaram momentos para deixar registrados no tempo.

Essas memórias vão desde quem estava de passagem por Aracaju até quem subiu ao palco pela primeira vez em um grande evento. E foi com o sentimento de nostalgia, aquecido pelas boas histórias do passado, que muitos dos que fizeram parte da edição de retomada do Projeto Verão, ocorrida nos dias 1 e 2 deste mês, tomaram o evento como um ponto alto do ano que acabou de começar, além de ser mais uma boa narração para contar.

Para uns, pode ser somente uma festa na praia, para outros, a razão de mudanças significativas na vida ou na maneira como percebe e recebe as coisas em volta.

A sergipana The Baggios, que abriu os trabalhos da edição de 2020, recorda do Projeto Verão como um evento de muita relevância para a carreira da banda. Hoje, formada por Júlio Andrade (Julico), Gabriel Perninha e Rafael Ramos, em 2008, quando eram apenas os dois primeiros a formar o duo, subiram ao palco do evento pela primeira vez.

“O Projeto Verão foi o nosso primeiro grande público. Estávamos acostumados a tocar para 300, 400 pessoas, no máximo, e no projeto, tocamos para quase 20 mil pessoas. Inclusive, foi uma noite em que os Paralamas do Sucesso também tocaram e, hoje, depois de 12 anos, retornamos a esse palco, com uma bagagem maior, podendo mostrar para as pessoas um pouco do resultado desse trabalho, na estrada, ao longo desses anos. O Projeto Verão é um evento que, além de tudo, democratiza o espaço, dando vez a quem está chegando, recebendo públicos de diversos estilos, então, temos muita alegria por fazer parte dessa história e por termos tão boas recordações dessa festa”, contou Julico, pouco antes de subir no palco da edição 2020 do evento.

Há também quem conheceu Aracaju através do Projeto Verão e, contagiado por ele, decidiu mudar de cidade. Como aconteceu com a fotógrafa Raiane Souza, entre os anos de 2006 e 2007. Na época, residente no interior do Estado da Bahia, ela soube por um amigo, que morava em Aracaju, que a cantora Pitty iria se apresentar no evento e, a princípio, esse foi o gatilho que resultou em sua mudança.

“Juntei uma grana com uns trabalhos extras e vim para o show. Quando vi o projeto de perto, tudo que ele agregava, achei sensacional. Uma festa na praia, com uma pegada até alternativa, com muita mistura de ritmos era algo que me atraia. Então, ao invés de prestar vestibular para uma universidade de Salvador, decidi fazer para Aracaju. Em 2010, passei no vestibular e me mudei por causa do Projeto Verão”, relatou Raiane.

Segundo a fotógrafa, a sua visão sobre Aracaju se construiu a partir do evento. “O Projeto Verão iluminava a cidade na melhor época do ano. Com a volta dele, passou um filme pela minha cabeça. Encontrei muita gente da época da faculdade, pessoas que eu encontrava no Projeto Verão do passado. Até achei que voltou melhor, deu uma atualizada. Acredito que também acertaram quando, paralelamente ao Projeto Verão, colocaram a Arena Criativa, com tantos movimentos, empreendedorismo, sem contar que reuniu uma galera da periferia da cidade para agregar à festa. A cidade ganha outra potência com eventos assim. A cada dia confirmo mais a decisão de ter me mudado para Aracaju”, ressaltou.

De atrativo para quem é de fora aos shows memoráveis, o Projeto Verão representa a junção de pessoas de diversos estilos, essa uma das vertentes que faz com que o evento seja tão reconhecido e admirado.

Casados há 15 anos, a jornalista pernambucana Betânia Souza e o cineasta Leonel Duara dividem a alegria de apreciar o Projeto Verão desde sua primeira edição. Ela, que mora em Aracaju há 30 anos, e ele, há 20, juntos reúnem as memórias do evento que, para eles, não deveria nunca acabar.

“Lembro de um show de Lenine. Nesta noite, houve um apagão na Atalaia por cerca de 10 minutos. Além dele [Lenine] ter sido muito simpático, as pessoas estavam muito unidas, felizes até mesmo naquela situação. Acho que essa celebração é o que representa o Projeto Verão e ele nem deveria ser um projeto porque projeto tem começo, meio e fim. Deveria ser eterno”, considerou Betânia.

Em 2020, com o retorno da festa após seis anos, o casal chegou a mudar a programação do mês. “Tínhamos uma viagem marcada para o final de semana de retorno do evento. Não pensamos duas vezes e cancelamos a viagem só para estarmos aqui e poder aproveitar a volta desse evento que tanto nos deu alegria. Para se ter uma ideia, todos os anos, recebíamos pessoas em nossa casa só por causa do Projeto Verão, era a propaganda que fazíamos de Aracaju e as pessoas sempre voltavam para aproveitar o evento. É uma festa que reúne muitas tribos, diversos gostos musicais. É uma celebração pelo que é diferentes, pelo novo”, acrescentou a jornalista.   

Mesmo para quem teve a oportunidade de conhecer o Projeto Verão somente em 2020, o evento, ainda assim, deixou sua marca na memória, a exemplo de como foi com a estudante Júlia Lira, que teve um sonho realizado, graças ao evento. No primeiro dia da festa deste ano, com os olhos vidrados no palco e uma espécie de concentração íntima, a jovem de 22 anos, pode ver bem de perto a banda Cordel do Fogo Encantado.

“Alguns anos atrás, conheci a banda através da minha ex-namorada que, hoje, é uma grande amiga. Só que isso foi num período em que a banda estava afastada dos palcos e nem tínhamos noção de, algum dia, ela iria voltar a fazer shows. Então, eu me contentei com o fato de que não iria ter a oportunidade de vê-la de perto. Até que vi o anúncio da programação do Projeto Verão e, naquele momento, vibrei de alegria. Justamente no retorna da banda, Aracaju me presenteia com um show dela. Para quem é fã, a sensação é indescritível e só pude sentir por causa desse evento. Não sei se teria condições de sair de Aracaju para ir a um show do Cordel. Vai ficar guardado nas minhas melhores lembranças”, destacou Júlia.

Em 2020, de volta à Orla da Atalaia, o Projeto Verão recebeu em dois palcos os shows de The Baggios, Cordel do Fogo Encantado, Paralamas do Sucesso, Reação, Siba Veloso, Diogo Nogueira e Ira.