Janela para as Artes valoriza literatura e abre novas possibilidades de leituras dramáticas

Agência Aracaju de Notícias
31/07/2020 09h00

Os tempos atuais têm exigido um olhar inovador, diferenciado. Nesta perspectiva, a Prefeitura de Aracaju lançou o projeto ‘Janela para as Artes’, iniciativa que, por meio de edital, selecionou 120 propostas culturais das áreas de Música, Artes Cênicas (Teatro, Dança e Circo), Literatura e Audiovisual, resultado de um investimento de R$170 mil, por meio da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju). Uma das categorias contempladas, Leituras Dramáticas, por exemplo, vai aliar literatura e teatro na expressão e no fazer artístico, valorizando a literatura e criando novas possibilidades de interpretações artísticas. 

Para essa categoria, foram selecionados cinco artistas, os quais tiveram liberdade para propor temas e maneiras de se apresentarem. De acordo com o presidente da Funcaju, Luciano Correia, o Janela é mais uma forma de incentivar os artistas aracajuanos numa fase em que a cadeia produtiva da cultura tem sido impactada pela pandemia.

“O ‘Janela para as Artes’ é um segundo projeto de fomento às cadeias produtivas, ele se soma ao ‘Forró Caju em Casa’ que, inclusive, foi um sucesso. Além dessa questão do fomento, nossa ideia é levar entretenimento às pessoas, incentivar o consumo da nossa cultura, que é riquíssima, sobretudo nesse momento delicado em que a maior e principal recomendação é a de ficar em casa. Construiremos um acervo, que chamamos de coleções, com essa produção cultural que ficará disponível, para todos os públicos, em bancos audiovisuais, que vão funcionar como uma provedora local de vídeos e música. Esse material poderá ser utilizado, por exemplo, em escolas e universidades como amostras da cultura sergipana, da nossa identidade cultural”, pontuou Luciano Correia. 
 
Fomento essencial
Um dos selecionados na categoria foi Ravi Ayrone. Hoje, com 32 anos, o artista iniciou na trajetória do teatro aos 14, tendo como inspiração a vivência no Teatro Atheneu. O artista conta que, ao saber do projeto, pensou em algo familiar.
 
“Me inscrevi com um texto da época do teatro sobre essa temática de estar afastado socialmente e os impactos que isso pode ter no ser humano. É um texto que sempre quis montar e, até então, nunca tinha conseguido. Agora, aconteceu. O ‘Janela’ tem uma perspectiva para a galera alternativa, pessoas que estavam com vontade de tirar algo da gaveta, de criar e, para mim, artisticamente, isso é o mais importante, dá uma ativada no artista. Como quem diz ‘vamos dar esse energia para vocês e vocês vão devolver em produto artístico’. Movimentou muita gente bacana, com trabalhos bons que, talvez, num edital muito maior, não teria sido contemplado porque possui trabalhos mais simples. Então, é uma oportunidade excelente. É uma vitrine para trabalhos que não tinham tanto espaço antes”, frisou Ravi. 

Com cerca de nove anos de carreira profissional, Tinho Torquato começou a sua aproximação com o teatro aos 13 anos, numa oficina do Grupo Imbuaça. De lá para cá, hoje com 27 anos, diz ter encontrado seu lugar no mundo a partir do feito artístico. 

“Depois que entrei no curso de Teatro da Universidade Federal de Sergipe me profissionalizei. Enquanto eu pesquisava o quanto o teatro, a arte como um todo, era necessária nas escolas, nas comunidades, me fortalecia enquanto prática, então, eu percebia cada vez mais essa importância. O teatro é uma potência que mobiliza várias outras artes, tem música, dança, artes plásticas, artes visuais, tem um universo dentro do teatro”, afirmou Tinho.

Com o advento do período de distanciamento social, provocado pela pandemia de covid-19, para o ator, o projeto não poderia ter chegado em hora melhor. 

“A necessidade de me inscrever para o edital foi pela arte, com certeza, mas também pela grana. Nesse período, nossas atividades estão muito paradas, e o artista precisa de auxílio, de um suporte para poder se manter. Além disso, vai nos servir como portfólio, e isso é muito bacana. Acho importante. A Funcaju fez um edital bem elaborado, pensado no artista local e isso nos é incentivo e visibilidade”, frisou o artista, que escolheu o texto “Cárcere” para apresentar. 
 
Novo aprendizado
Fruto do bairro Getúlio Vargas, do Centro de Criatividade, o ator e professor Gustavo Floriano se identificou com o teatro no ano de 1996. Desde então, participou de grupos, espetáculos. Entrou no curso de Teatro e foi nele que alinhou a educação à arte. Hoje, professor e artista, faz parte do Mamulengo do Cheiroso e também trabalha com direção artística de quadrilhas juninas. No alto dos seus 24 anos de carreira profissional, acredita que esse é um momento de se reinventar. 

“É uma fase em que a gente precisa repensar um monte de coisa, se reinventar enquanto artista, enquanto ser humano. A experiência de gravar, de não ter um público cara a cara foi diferente", diz Floriano. Segundo, para o projeto, inscreveu contos de Silvio Romero, "pelo importante levantamento etnográfico que ele fez".
 
"Foram duas histórias, um trabalho para criança, porque vejo que, aqui em Sergipe, no que diz respeito a teatro, não temos muitas produções para ela; na literatura, sim, mas na música, na dança e no teatro, não. Histórias que são acompanhadas por música e conto com Arthur Barreto, sobrinho de Augusto Barreto, do Mamulengo. Tive o cuidado de preparar uma leitura, mas que pareça um espetáculo”, revela Gustavo.

Sobre os novos tempos e o projeto, o artista ressalta ainda que o ‘Janela’ reafirmou que a classe artística é responsável por gerar economia, mas, para além disso, a gente não vive sem arte, sem música. Nesse momento difícil é que percebemos a importância. Quantas lives passamos a assistir, quantos filmes, passamos a dar mais importância. Aí da gente se não fosse a arte, e esse projeto é um incentivo mais do que necessário. Foi uma ótima sacada da Prefeitura”, completa.