Professores da rede municipal reinventam forma de trabalho diante da pandemia

Educação
28/07/2020 12h50

Há 20 anos, a rotina da professora Maria da Conceição Oliveira começa cedo, com as primeiras aulas da manhã. O material pedagógico utilizado foi pouco modificado. Os cadernos, livros e canetas sempre foram suficientes para exercer o ofício que sempre sonhou em desempenhar. No entanto, a pandemia do novo coronavírus afetou a forma de trabalhar dos profissionais da Educação, que hoje precisam se reinventar para se manterem próximos aos seus alunos.

Lotada há 11 anos como professora da rede municipal de ensino de Aracaju, Ceiça, como é conhecida entre os colegas, atua hoje como diretora da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Maria Givalda da Silva Santos e, agora, tem como seu principal instrumento de trabalho o celular. É através dele que ela grava vídeos educativos que são encaminhados aos alunos desde quando as aulas presenciais foram suspensas.

“Eu tenho uma coordenadora pedagógica que nos incentiva muito a trabalhar com vídeos e ela entende disso também. Assim que nos afastamos das atividades presenciais, criamos grupos de Whatsapp para, inicialmente, informar sobre as entregas dos kits de alimentação. Mas, pela troca que tivemos com os pais, percebemos que essa seria uma ferramenta eficaz de comunicação. E diante da proposta da Semed [Secretaria Municipal da Educação], de mandar atividades remotas para as crianças, e como eles são muito pequenos, resolvemos investir nos vídeos”, explica Ceiça.

Um dos primeiros desafios foi o de explicar para crianças tão pequenas o motivo pelo qual elas não podem ir à escola, como sempre fizeram. Foi aí que a diretora da Emei se transformou na boneca Lili, uma personagem já conhecida dos estudantes. Vestida e maquiada como uma boneca, a diretora gravou um vídeo em que percorria toda a escola, como se fosse aluna, no qual questionava a ausência dos demais estudantes. Na medida em que o vídeo avança, Lili explica o motivo de a escola estar vazia.

“A boneca Lili já existia e todas as nossas crianças já a conheciam. Quando começou esse trabalho remoto, Lili reapareceu para perguntar onde está todo mundo e dizer a eles que vai ficar tudo bem,  que vamos passar por essa situação e que sempre estaremos nos comunicando daquela forma, através de vídeos. Uns reconheciam a tia Ceiça, outros viam apenas Lili, mas o importante é que a mensagem foi passada e tivemos um ótimo retorno. No início, tínhamos receio de não dar certo porque muitos pais mudam de número o tempo todo, mas eles próprios se preocuparam em atualizar os números no cadastro e têm nos dado uma boa devolutiva das atividades que enviamos”, completa a diretora.

Movimento
As aulas de Educação Física não são mais as mesmas. As quadras esportivas com jogos de futebol, queimado e crianças correndo e se exercitando para todos os lados sofreram grande transformação. Esse desafio chegou de surpresa para o professor Pablo Adriano de Amorim, que leciona na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Zalda Gama. Agora, é de sua casa que ele orienta os alunos para que continuem se exercitando.

“Na escola municipal onde trabalho, ainda estamos no primeiro módulo, no início. Mas a proposta é desenvolver atividades que trabalhem movimento, coordenação motora e criatividade, de uma forma mais ampla, já que a supervisão do professor não seria tão possível como na aula presencial. Para tanto, elaborei junto com a escola desafios semanais através de vídeos feitos por mim mesmo ou até mesmo vídeos de outras pessoas, além de imagens e pequenos textos. Tais vídeos e demais materiais são orientações para trabalhar os conteúdos propostos pela Base Nacional Comum Curricular, os quais ensinarão como as crianças, sob supervisão dos pais, trabalharão nas suas próprias casas, adaptando materiais e adequando os espaços disponíveis aos seus lares”, explica o professor Pablo.

No primeiro módulo, as atividades sugeridas são relacionadas a jogos e brincadeiras. As instruções foram enviadas, também, em grupos de Whatsapp. “A atividade é sobre brincadeiras antigas. Eles precisam pedir que o adulto responsável responda uma entrevista e que explique quais brincadeiras do passado este adulto brincava na infância, com quem brincava, em quais espaços. Estas brincadeiras, por sua vez, devem ser transmitidas para a criança e ensinadas. Para os próximos módulos, enviaremos brincadeiras para que eles reproduzam em casa sob supervisão de seus pais. As séries menores terão um grau de dificuldade menor em relação aos estudantes de séries maiores, o que se adequaria às suas respectivas idades”, completa Pablo.

Incentivo
Antes de começar a aula propriamente dita, o vídeo da professora Aline Cristina Santos, de pouco mais de dez minutos, começa com uma mensagem de incentivo. “Nós precisamos uns dos outros. Sempre é bom termos alguém para nos ajudar e para que a gente também ajude. Que essa mensagem fique e que a gente a pratique”, diz a professora ao iniciar a aula de Língua Portuguesa para os estudantes do terceiro ano da Emef Papa João Paulo II.

“A questão de utilização da tecnologia não foi tão difícil para mim, pois sempre faço cursos de aperfeiçoamento e alguns desses recursos eu já utilizava na sala de aula. Um dos maiores desafios é justamente conseguir atingir o maior número de alunos possível, pois nem todos têm a mesma facilidade e também nem todos os pais são alfabetizados e conseguem ajudá-los. As atividades propostas são bem práticas, enviadas três vezes por semana e sempre peço para os pais tirarem fotos ou fazerm vídeos das respostas das atividades e dos desafios propostos para que eu possa corrigir. Tudo é feito via whatsapp”, destaca a professora Aline.

Youtube
Entre os recursos pedagógicos para a Educação Infantil estão a contação de histórias e a musicalização. Mesmo com a suspensão das aulas presenciais, os alunos menores, como os das creches, ainda podem ter acesso a este mundo lúdico que aguça a imaginação. No canal da Secretaria Municipal da Educação no Youtube, denominado ‘Educação Aracaju’, é postada grande parte da produção dos professores da Educação Infantil. São vídeos com histórias e brincadeiras direcionadas a este público e já conta com quase 40 vídeos publicados.

“A cada dia, nos deparamos nas redes sociais produções lindas dos professores. Me orgulho muito com a forma que estão se reinventando, como estão se superando. O momento pede isso e precisamos utilizar as tecnologias que estão ao nosso alcance. O canal da Semed no Youtube também é uma forma de universalizarmos essas produções, para que mais alunos tenham acesso”, destaca a secretária municipal da Educação, Maria Cecília Leite.