Na pandemia, Prefeitura fortalece vínculos junto aos alunos da Educação Especial

Agência Aracaju de Notícias
13/08/2020 17h00

“Pato, rato, macaco, jacaré, aprendi sobre esses animais na atividade com sombras que a professora passou”. É assim que Caroline Vitória Tavares Pereira, de 14 anos, da turma de alunos com deficiência da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Papa João Paulo II, descreve a atividade do dia, entregue pela equipe da Prefeitura de Aracaju, através da Secretaria Municipal da Educação (Semed).
 
Para muitas crianças e adolescentes, o reconhecimento desses animais seria algo banal, corriqueiro. Mas, para ela, que sofreu um traumatismo craniano que a deixou com sequelas – como um ritmo próprio de aprendizado –, cada pequeno avanço é uma grande vitória. “Gosto das atividades, consigo aprender, mas tenho dificuldade”, reconhece a menina.
 
Caroline é só um exemplo entre milhares de alunos da rede municipal de ensino que, junto a seus pais, professores e coordenadores, se viram em meio a uma nova realidade com a pandemia do novo coronavírus e precisaram se adaptar e buscar iniciativas para manter o aprendizado em casa.
 
Para atender a ela e aos outros mais de 700 alunos com deficiência, a dose de criatividade dos professores teve que ser ainda maior. Coordenadora da Educação Especial da Secretaria Municipal da Educação (Semed), a psicóloga Taísa Aragão lembra que, nesse momento, a principal recomendação é a manutenção de vínculos.

“A gente vem seguindo as orientações gerais, mas com alguns reforços para o público da educação especial, como manter os vínculos com os alunos e a família. Dentro disso, orientamos sobre autocuidado e manutenção das atividades educacionais na rotina, em casa”, destaca.
 
Para isso, a orientação é de que a equipe, composta atualmente por 44 professores, em 24 salas de recursos, aja com flexibilidade e a partir de um currículo mais funcional e menos conteudista, adaptável à possibilidade do aluno. “Alguns estão fazendo atendimento online, com um encontro virtual com o aluno e a família, outros passando pacotes de atividades para determinado período; fazendo gravações em vídeos, áudios. Tudo com ênfase na saúde mental das crianças”, ressalta Thaisa.
 
Desafios
Ela diz que foi preciso ampliar a concepção do que é o ato educativo para compreender, mais do que nunca, que estar com o outro, acompanhá-lo, é também educação. Nesse sentido, Thaisa reconhece que os professores estão surpreendendo. “O grupo de professores das salas de recursos, por ser especializado, é bastante exigente: eles desenvolvem a criatividade, identificam as barreiras e encontram soluções para transpô-las, de maneira autônoma e proativa”, reconhece a coordenadora.
 
Ana Angélica é uma dessas professoras. Especialista em atendimento educacional especializado, ela atua na Emef Papa João Paulo II desde 2010 e define esse período como desafiador. “A gente está precisando se reinventar, diariamente, porque quando as medidas de enfrentamento foram estabelecidas, tínhamos poucos dias de aula, então sequer pudemos conhecer todos os alunos e suas famílias”, diz Ana Angélica.
 
Mesmo assim, a professora buscou informações sobre os novatos e iniciou a confecção de atividades específicas para cada um dos alunos e suas demandas. Baseada em um dos cursos, o de materiais estruturados, preparou as tarefas de acordo com níveis e habilidades. “Usei palitos de picolé, frutas de plástico, elásticos, bobinas de linhas, letras móveis com velcro. Sempre associando as atividades com coisas do cotidiano, para que assimilem e tenham mais independência”, diz Ana Angélica.
 
Para acompanhar o andamento das tarefas e do aprendizado, ela criou, inicialmente, um grupo de Whatsapp com os responsáveis pelos alunos e a gestão da escola. Depois, já com o material estruturado em módulos, criou um canal no Youtube, o Especial Mente, a partir do qual armazena os vídeos, descreve e envia o link para os pais.
 
“Minha sensação é estar cumprindo com o meu dever, porque estou dentro da minha casa, recebendo meu salário em dia, tenho condições de pagar internet, de ter um celular. Se eu tenho essas condições, porque não fazer? Nos unimos para que todos os alunos fossem contemplados e hoje posso dormir tranquila, pois pode não ser ainda o ideal, mas é o real”, avalia a professora.
 
Acompanhamento
E o real, na vida de famílias como a de Gabriel Rodrigo da Silva, é o que faz a diferença. O menino, de 10 anos, foi diagnosticado com Deficiência Intelectual e é aluno da sala de recursos da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) José Calumby, no bairro 17 de Março. Gabriel diz estar gostando do envio das atividades e do contato maior com a professora, através das chamadas de vídeo. “Estou conseguindo aprender com o dever que ela manda, mas estou com saudade da escola e dos amigos”, admite.
 
A mãe dele, Maria Aparecida da Silva, diz estar mais aliviada, agora, com a entrega de atividades preparadas pela equipe. “Foi um pouco difícil, porque ele tem algumas dificuldades e não consegue fazer todos os deveres sozinho. Mas falei com a professora e ela está enviando vídeos, assim eu faço a atividade com ele”, diz Maria Aparecida.
 
Além de enviar as atividades, a professora também faz chamadas de vídeo uma vez por semana para explicar as tarefas semanais. “O aprendizado dele melhorou”, diz a mãe. “Ela liga, explica tudo direito, e ele vai fazendo. Aí ele presta mais atenção, senta, eu seguro o celular e ele faz a atividade. Ele aprendeu muito com ela, mesmo em casa”, reconhece.
 
Mãe de Caroline Vitória, Maria Auxiliadora Tavares Pereira também não esconde a felicidade de ver cada pequeno avanço da filha. “É muito satisfatório ver tudo isso, tanto a professora enviar as atividades quanto ela conseguir fazer e se desenvolver. Estou gostando muito, porque estávamos sem apoio e a professora Ana Angélica se transformou num braço para nós, ajudando Caroline a se desenvolver na medida em que é possível”, pondera.
 
Toda a família acaba ajudando a menina, que encontrou na Emef um lugar seguro e realmente capaz de fazê-la aprender. “Ela estuda há um ano no João Paulo II e já tinha esse acompanhamento presencial. O Papa foi uma mãe para nós. Na escola que ela estava antes, não havia apoio nenhum. Estava sozinha. Lá, ela melhorou 100%: é bem recebida, gosta dos colegas, dos professores, o que não acontecia em outras escolas”, admite a mãe.
 
Com a pandemia, a professora de Caroline, Ana Angélica Pinheiro de Azevedo, encontrou essa forma de acompanhar a menina. “O que sinto é que não estamos sós. Estou gostando, estamos mais próximos, a gente se fala pelo WhatsApp, tem um grupo de mães. Todo o suporte da equipe da escola é maravilhoso. Aprovo 100%”, reforça Auxiliadora.
 
Para a coordenadora Thaisa, nesse momento de vulnerabilidade para todos, seria impensável suspender as atividades. “Uma vez que são estudantes, em fase de desenvolvimento, a escola é uma referência simbólica importante. Ter as atividades suspensas e o vínculo cortado seria traumático demais. São aspectos que vão além das questões próprias da oferta pedagógica para que o processo de ensino e aprendizagem continue acontecendo”, analisa.