A Rede de Atenção Psicossocial (Reaps) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Aracaju disponibiliza à população os diversos níveis de atendimento para pessoas com transtornos mentais e usuários de álcool e drogas, atendendo à portaria nº 3.088/2011 do Ministério da Saúde. Os serviços compreendem desde o surto psiquiátrico ou abstinência ao acolhimento e tratamento continuado.
São 44 Unidades Básicas de Saúde (UBS), seis Centros de Atenção Psicossocial (Caps), a Atenção de Urgência e Emergência (Hospital São José e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - Samu), a Atenção Hospitalar (Hospital São José) e as Estratégias de Desinstitucionalização (Programa de Volta para Casa, quatro Residências Terapêuticas e uma Unidades de Acolhimento).
"O tipo do atendimento varia de acordo com a necessidade do indivíduo, e são várias as necessidades. Buscamos atender a todos, reduzindo os internamentos e tratando os usuários para que voltem ao convívio social e não fiquem isolados da comunidade", afirma o coordenador da Reaps, Dalmare Sá.
O papel da UBS se dá em primeira instância, precedente ao Caps, que é o principal local de acolhimento, avaliação e elaboração do plano para o tratamento com profissionais especializados, preservando a principal característica da Reaps: estar sempre de portas abertas. Ainda com todas as diferenças, a população pode procurar qualquer um dos equipamentos para ser avaliado e direcionado ao mais adequado.
A obrigatoriedade de prestar atendimento a pessoas em surtos ou sob efeito de substâncias psicoativas também é cumprida na capital. "Aracaju, em especial, possui uma urgência mental, que é o Hospital São José. Não é algo que tem comumente em outras cidades. No Brasil, de uma forma geral, encaminha essas pessoas para salas de estabilização e Unidades de Pronto Atendimento (UPA). Aqui o atendimento é diferenciado", explica Dalmare.
Além disso, também são oferecidos cuidados bioquímicos e clínico-biológicos na atenção hospitalar, para medicação temporária e tratamento de doenças relacionadas.
Desinstitucionalização
O serviço de desinstitucionalização oferece quatro Residências Terapêuticas (RT) para aqueles usuários que romperam completamente o vínculo familiar, devido ao longo período de permanência em manicômios. A necessidade de um local para acolhimento surgiu a partir do fechamento dos hospitais psiquiátricos, quando foram identificadas pessoas que não tinham para onde ir.
Atualmente, as residências possuem 28 moradores, que continuam em tratamento, principalmente para reabilitação psicossocial. "Logo quando iniciamos esse processo de acabar com os manicômios, tivemos o Projeto de Volta para Casa, em que percebemos que não bastava desospitalizar, que seria apenas tirar dos hospitais, precisaríamos também desinstitucionalizar, que é um trabalho mais demorado e que fazemos até hoje", ressalta a coordenadora do serviço residencial terapêutico em Aracaju e especialista em saúde mental, Yasmin Porto.
Um dos maiores cuidados que os profissionais têm é auxiliar no processo de mudança de vida, e não apenas proporcionar um lugar para morar. A coordenadora explica que são pessoas que estavam há anos vivendo em um sistema onde não usavam dinheiro, não se comunicavam direito e alguns nem usavam talheres, por exemplo. Com isso, algumas habilidades sociais acabaram sendo perdidas.
O modelo de residência utilizado hoje busca a semelhança com uma casa normal, dentro de um bairro, sem placas ou características específicas. A moradora de uma das residências, Maria Virgínia de Jesus, de 49 anos, tem a sensação verdadeira de estar em uma casa comum com sua família. Ela chama carinhosamente os cuidadores de ‘pai' e ‘mãe'.
"Eu gosto daqui porque é a nossa casa. Ajudo nas tarefas da casa e também gosto muito dos passeios que fazemos, vamos à praia e em vários outros lugares", conta dona Virgínia, que devido à memória reduzida, requer uma atenção maior nas atividades externas da casa, como ir à padaria do bairro em que vive.
A cuidadora Ângela da Rocha trabalha na casa há 11 anos, mas foi a sua primeira experiência na área. "Confesso que tive muito medo no início, mas um mês depois eu já tinha mudado a minha opinião. Hoje tenho eles como se fossem a minha família e o tempo juntos fortalece ainda mais o nosso vínculo", destaca.
Márcio Michel Alves da Cruz também faz parte da equipe de cuidadores das RT e possui uma longa vivência na área psiquiátrica. Antes da mudança do modelo de tratamento, Márcio trabalhou em um hospital psiquiátrico durante dez anos e avalia facilmente a diferença no comportamento de usuários que foram retirados da internação.
"Eu acho que não deveria nem existir algum vestígio daquela época, aqui é um tratamento humanizado, com afeto, e buscando trazê-los para a sociedade. Eles eram acostumados a viverem presos e agora vivem uma rotina igual à de uma casa comum, onde buscamos garantir a maior autonomia possível a cada um através da reabilitação psicossocial", relata Márcio.
Acolhimento
Uma das mais recentes medidas da Rede é a implantação das Unidades de Acolhimento, que são abrigos da atenção especial de caráter transitório para usuários que precisam de auxílio para reconstrução do seu projeto de vida. A estadia é provisória e dura cerca de seis meses, que é o tempo médio necessário para o planejamento.
O coordenador Dalmare Sá explica que a grande diferença no tratamento é que, mesmo que esse usuário tenha uma recaída no tratamento, ele não será expulso das unidades. "Durante todo o período o usuário fica em liberdade, podendo sair e voltar a qualquer momento, e podendo ter visitas dos familiares. Eles têm diversas necessidades, como a reaproximação com a família, encontrar uma moradia ou um emprego, e nós acolhemos para trabalhar esse objetivo juntos", ressalta.
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