Políticas públicas da Prefeitura asseguram direitos das pessoas com deficiência

Matérias
03/05/2018 13h00

"Todas as vezes que Gugu vai visitar a avó, ele gosta de passear pelo prédio e conversar com os porteiros. Um dia, ele viu uma menininha voltando da escola com a mãe, pegou uma flor, ofereceu a ela e deu um beijo em sua cabeça. A mãe da menina ficou extremamente nervosa e precisou um dos porteiros dizer que Gugu não faria mal à filha dela para que ela se contivesse. Aquilo doeu muito porque meu filho seria incapaz de fazer mal a alguém, ele não tem maldade. Depois daquele dia ele não passeou mais pelo prédio como antes".

O relato de dona Ibéria Seixas se junta a muitos outros de familiares ou de pessoas com deficiência e reforça o tipo de abordagem denominado "modelo social", o qual esclarece que o fator limitador é o meio em que a pessoa está inserida e não a deficiência em si, ou seja, é a própria sociedade que contribui para o agravamento da deficiência ou restrição ao excluir ou menosprezar o papel da pessoa com deficiência.

Dona Ibéria Seixas é mãe do jovem Gustavo Seixas Ferrão, de 29 anos, e da Camila Seixas Ferrão, de 31 anos, ambos pacientes que tratam crises de epilepsia, doença que, ao longo dos anos, causou sequelas cerebrais. Ela bem sabe das dificuldades que passaram desde os primeiros meses de vida dos filhos, sobretudo quando eles foram para o convívio social e, além das limitações, tiveram ainda que conviver numa sociedade que não foi preparada para compreender que, em diferentes graus e perspectivas, todos nós somos deficientes de alguma forma.

Em Aracaju, a Coordenadoria de Políticas para Pessoas com Deficiência, outra parte integrante da Diretoria de Direitos Humanos (DDH), há cerca de um ano (tempo de instalação da diretoria), vem gerindo ações para a garantia dos direitos das pessoas com deficiência e, mais do que isso, tem trabalhado para incutir o respeito e a mudança de paradigmas com relação a elas.

De acordo com o coordenador Murillo Oliveira, antes da criação da coordenadoria já existia o Departamento de Direito da Pessoa com Deficiência, porém, não tinha visibilidade dentro do município, nem dentro da Secretaria da Assistência Social. "Em meados de 2017, já com as nossas diretrizes organizadas, começamos a fazer um processo de afirmação, começamos a dizer ‘olha, a gente existe', assim como a pessoa com deficiência. Assim, iniciamos discussões sobre a temática da pessoa com deficiência dentro da Assistência de forma mais intensiva nos equipamentos públicos, nos Cras, nos Creas, no Centro Dia e também nos órgãos ligados à Prefeitura. Entendemos que era preciso trabalhar primeiro para dentro da gestão", afirmou.

Assim, ao longo da atual gestão, diversas ações foram fomentadas, a exemplo de atividades alusivas à visibilidade da Pessoa com Deficiência, como a Semana da Acessibilidade, Dia de Comemoração da Síndrome de Down e Dia de Consciência do Autismo (em parceria com o Conselho da PcD da Secretaria Municipal da Saúde), bem como ações que fortificaram a articulação no atendimento às família de PcD.

"No Plano de Governo da gestão a temática da pessoa com deficiência está toda fragmentada, cada secretaria tem um plano específico para atender esse público, sempre com o foco em trabalhos que dêem visibilidade à pessoa com deficiência e que quebre o olhar de preconceito que ainda vemos. Nosso objetivo é tirar a pessoa com deficiência de casa e mostrar a ela e às demais pessoas que todos fazemos parte da sociedade. Enquanto a pessoa com deficiência está escondida, dentro da sua casa, está tudo bem, mas, quando ela se expõe aí as pessoas levam um choque de realidade e começam a pensar um pouco mais sobre o assunto", ressaltou Murillo.

A perda de um sentido e o ganho de outros

Uma das dinâmicas preparadas para sensibilizar o respeito da pessoa com deficiência aconteceu em alguns prédios públicos municipais. Foi preparada uma mesa com instrumentos para que o indivíduo se deparasse com a perda de algum sentido, para simular algumas dificuldades que a pessoa com deficiência tem. Ao término da experiência, muitos dos participantes foram provocados a pensar que não é impossível fazer de outro jeito, mas que há dificuldades e elas precisam ser levadas em consideração.

"O que a gente costuma falar é que todos nós temos deficiência porque ninguém sabe matemática o suficiente ou ciências, por exemplo. A gente tem que se enxergar com alguma deficiência, com algumas incapacidades porque cada um tem as suas capacidades, mas também as suas incapacidades. A pessoa com deficiência tende a modificar a sua incapacidade para que ela consiga se desenvolver e, as pessoas ditas ‘normais', na maioria dos casos não. Muitas vezes a gente não sabe matemática e deixa matemática de lado porque tem dificuldade, mas a pessoa com deficiência extrapola os seus limites, o que só demonstra que, apesar de ter limitações, ela é capaz de se superar e também por isso, deve ser olhada, não com pena, mas com respeito, sobretudo. O olhar da sociedade precisa mudar", frisou o coordenador.

Suporte

Gustavo e Camila, filhos de dona Ibéria, são dois exemplos de pessoas que encontraram em unidades da Prefeitura de Aracaju o suporte necessário para se desenvolverem e para melhor conviverem em sociedade. Duas vezes por semana eles vão ao Centro Dia, onde, através de oficinas e auxílio de uma equipe técnica, ganham novas perspectivas. A mãe por sua vez, mesmo com as dificuldades na rotina de morar no Mosqueiro, se deslocar para um dos bairros centrais de Aracaju e enfrentar uma série de intempéries para garantir uma rotina mais leve aos filhos, encontra nos filhos uma lição de vida que gostaria que outras pessoas pudessem enxergar.

"Não vou dizer que é fácil, porque não é. Existem muitas dificuldades, mas, quando eu olho pra eles, a única coisa que penso é em estar alegre para que eles também sejam alegres. A vontade da gente é que eles seguissem a vida sem depender de ninguém, mas não é assim que as coisas são e precisamos adequá-las para nos adaptar a isso. Eu enxergo muita alegria. Eu me alegro da minha maneira. A gente mostra a nossa alegria. Eu vou deixar eles sofrerem por causa dos nossos pensamentos? De jeito nenhum. Eu não tenho que ser alegre, eu sou alegre porque tenho eles em minha vida", afirmou dona Ibéria.

Assim como ela, Alcyr Gaspar da Costa encontra no filho, Osmar Fernando da Costa, de 23 anos, uma inspiração. Com um grau elevado de autismo, Osmar é criado com os pais e tem uma rotina de idas e vindas de centros de tratamento e, há cerca de um ano frequenta o Centro Dia com evolução notável durante esse tempo.

"Osmar já teve muita dificuldade no convívio com outras pessoas porque ele passou a vida inteira praticamente em casa. Hoje, ele consegue conviver com outras pessoas com mais facilidade. Já sofremos muita discriminação. Quando não é isso, o tratam como coitadinho. Sempre faço questão de dizer que ele não é coitadinho, ele tem limitações, mas isso não faz dele um coitado. Mesmo com os problemas que ele tem, é sempre amoroso e se supera sempre. Jamais nem eu nem minha esposa nos lamentamos por ele. Se Deus mandou assim, temos que cuidar para dar a ele o melhor que pudermos e, tenho certeza que, enquanto pessoas nós já evoluímos muito só por tê-lo com a gente todos os dias. Seria muito bom se as outras pessoas conseguissem ver o quanto as pessoas com deficiência podem contribuir", considerou o Alcyr.