Café Poético estimula jovens em cumprimento de medida socioeducativa atendidos pela Assistência

Assistência Social e Cidadania
21/11/2017 14h32

Entre poesias, prosas, muito resgate histórico e versos cantados, encontram-se Zumbi, Bob Marley, Xangô e Gilberto Gil. Entre xícaras de café, biscoitos, sucos e frutas, invocam-se conversas e reflexões acerca do empoderamento, da diversidade étnico-racial e sobre o que é ser negro dentro de uma sociedade que ainda precisa aprender a desconstruir seus preconceitos de cor e classe social. Foi assim que aconteceu na manhã desta terça-feira, 21, mais uma edição do do Café Poético, realizado no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) Maria Pureza com meninos e meninas em cumprimento de medidas socioeducativas.

Entusiasta da arte como forma de sensibilização e esclarecimento, o educador social Adenilton Correia é o idealizador do projeto. “Como nós trabalhamos com adolescentes em situação de vulnerabilidade social e econômica, pensamos em uma atividade em que eles pudessem ter acesso a literatura, arte e história ao mesmo tempo. Por diversos motivos, vários deles aqui normalmente não têm oportunidade de estar em contato com esse tipo de cultura. Os eventos são temáticos e nesta edição estamos trabalhando o Dia da Consciência Negra, em alusão a data que foi comemorada ontem, dia 20 de novembro”, ressaltou o educador. 

Para Adenilton Correia, os ganhos são imensos, pois há uma reflexão não apenas sobre o racismo culturalmente enraizado, mas sobre o próprio reconhecimento de si dentro da sociedade. “A maioria dos jovens em cumprimento de medida socioeducativa é negra e pobre com atos infracionais frutos de roubo. A falta que muitas vezes eles sentem não é do objeto que roubam, mas da ideia do que é socialmente aceitável e reflexo de bem estar e sucesso. Então procuramos viabilizar ações de conscientização para que eles entendam que é preciso procurar outras formas de alcançar seus desejos pelo esforço honesto, não pela infração”.

Atualmente existem em Aracaju 83 adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, divididos nos quatro Creas mantidos pela Prefeitura de Aracaju. Deste total, 23 são atendidos no Creas Maria Pureza, sendo 17 em regime em meio aberto sob liberdade assistida e 13 com prestação de serviços à comunidade.

“Para nós, que somos de alguma forma privilegiados, é difícil imaginar que esta atitude pode acrescentar algo. Mas, faz uma diferença muito grande, pois são pessoas que nunca foram ao Parque da Sementeira, por exemplo, pois acham que não vão ter dinheiro para pagar e entrar. Ou não vão, simplesmente, porque alguém disse que não era o lugar deles. O nosso serviço tenta desmistificar esse pensamento e levar um pouco mais de afeto e entendimento sobre os espaços e as oportunidades”, salientou a coordenadora da unidade, Aline Fraga.

“E o negro herói que não se curva e inflete…” L.F.P.S., de 17 anos, é morador do bairro Santa Maria. Garoto de origem humilde, ele está há cinco meses em cumprimento de medida socioeducativa.  “Faz-se em pedaços para que não fique com os homens brancos o seu negro rastro…” E admite que cometeu um deslize ao se deixar influenciar de más amizades. Quando questionado sobre o texto que mais gostou de ler, ele não titubeou. “Zumbi”, de Jorge de Lima, fez sua mente fervilhar. “Eu sei que fiz uma besteira, mas eu venho aprendendo várias coisas interessantes que podem mudar minha vida e meu pensando daqui por diante. Fora do Creas eu nunca tive chance de vivenciar isso. Ainda não penso no que quero ser, mas se eu tivesse de falar agora, queria ser advogado e sei que posso”.