Emei do 17 de Março tem conquistado bons resultados com pedagogia diferenciada

Educação
27/07/2023 07h01

A comunidade do 17 de março tem desfrutado de uma unidade de ensino diferenciada para as crianças do bairro. A Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Dr. José Calumby Filho, com seu trabalho inspirado na Pedagogia Waldorf, oferece uma metodologia de aprendizado de forma inclusiva e lúdica. Além de incentivar a autonomia do aluno e estimular o seu desenvolvimento intelectual, a instituição escolar também evidencia o aprimoramento físico, espiritual e artístico do estudante.

A Emei iniciou seus trabalhos em abril de 2017 e foi a primeira escola municipal do Nordeste a ter como foco a pedagogia waldorfiana. A ideia é entregar às crianças instrumentos que ajudem a se fortalecerem como pessoas e estarem bem preparadas para enfrentar os desafios necessários ao decorrer da vida. Tanto que, todo o planejamento tem como prioridade o bem-estar do ser humano e as aulas estimulam a imaginação, a criatividade e a autonomia através de atividades específicas inseridas na rotina escolar.

A segunda-feira é dia de aquarela e em cada estação do ano é trabalhada uma cor; a amarela no verão e a azul no inverno, por exemplo. Na terça, os alunos fazem atividades de jardinagem, aprendendo a cuidar da grande variedade de plantas presentes na escola. Quarta é dia de culinária, evidenciando alimentos que são específicos da época. Já a quinta é a vez da Literatura, com leitura de livros diversos. Na sexta fazem trabalho manual, com recortes, colagens e outras produções deles mesmos, que levam para casa.

A diretora da Emei, Mayra de Araújo, explica que todo o trabalho baseado nesta abordagem pedagógica está alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEIs).

"A orientação dessas normativas é que os alunos vivenciem experiências e proporcionamos tudo isso aqui na escola. As crianças começam a mudar quando começam a frequentar a escola. Passam a estar em convivência diária com outras pessoas, construindo relações de confiança, poder e sociedade. Então, precisamos deixá-las serem quem são e explorar o mundo com autonomia", destaca.

Eliane de Souza é dona de casa e mãe do aluno Enzo Juan Azevedo, de 10 anos e egresso da Emei, que agora estuda o 5º ano na unidade de ensino vizinha, também de pedagogia Waldorf, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) José Souza de Jesus. De acordo com ela, que também é membro do Conselho de Pais da escola, foi conhecendo essa metodologia diferente no decorrer do tempo e hoje incentiva outras famílias a também matricularem seus filhos na unidade de ensino municipal.

"O Enzo é autista e foi a equipe desta escola que providenciou atendimento especializado. Ele ficou bem mais calmo depois que chegou a esta Emei. Seu comportamento mudou bastante. Sou muito grata por tudo que vivemos aqui. Hoje, ele chama a família, faz uma roda e nos conta historinhas. Do mesmo jeito que as professoras faziam aqui. O principal diferencial daqui foi, principalmente, o modo tranquilo de fazer a criança aprender, sem pressionar. É impressionante", relata Eliane.

Prazer em aprender
Recepcionista e mãe do aluno Lucas Gomes, de 3 anos, e de Felipe Gomes, de 11, egressos da Emei, Albertina da Conceição mora no bairro Santa Maria e escolheu essa unidade de ensino para o estudo dos filhos porque já havia pesquisado bastante sobre abordagem Waldorf, querendo para os filhos uma escola que trabalhasse o desenvolvimento interior da criança.

“Não era a unidade de ensino mais próxima, mas resolvi colocar ele aqui, justamente, porque já tinha feito uma pesquisa e buscado saber como era o método de ensino. Eu já havia lido e visto muitos vídeos sobre esta metodologia, e aqui tudo me encantou. Para mim foi maravilhoso porque é o que eu sempre sonhei para eles. Eu já trabalhava o aprender brincando em casa. Coloco recorte de papel para ele fazer, pintura e outras atividades que unem brincadeira e aprendizado. Assim, a rotina escolar não saiu do meu cotidiano”, diz Albertina.

Para ela, seu maior desejo é que seus filhos cresçam felizes e utilizando bem o potencial que têm. "A gente, que é mãe, tem mania de dizer o que queremos que eles sejam, profissionalmente, ao crescerem. É muito importante estudar, mas também levar em conta o desenvolvimento enquanto pessoa, em outras áreas da vida. Está tudo interligado. E aqui na Calumby eles aprendem tudo isso, mas com leveza, sem nem perceberem que estão aprendendo conteúdo escolar. Tanto que, mesmo nas férias, meu caçula fica perguntando quando vai voltar para a escola", detalha a mãe.

As ações inspiradas na Waldorf não têm o intuito de romantizar a vida, mas ajudar a criança a interpretar suas emoções, observar a si mesma e saber agir da melhor forma que puder, conforme comenta Mayra. Segundo ela, o foco está em fazer uma educação infantil ainda mais rica, fortalecendo tudo o que o aluno precisa para chegar ao 1º ano do ensino fundamental e ser alfabetizada.

"Quando a criança conclui o pré-escolar através da nossa metodologia, ela já trabalhou o seu equilíbrio, viu que era capaz e tem sua autoestima fortalecida. Por exemplo, o aluno que aqui tem esse contato e respeito pela natureza, chega ao ensino fundamental, no contato com os livros de Geografia ou Ciências, lembrando de suas vivências e o porquê de, na educação infantil, ter que aguar as plantas ou colocá-las na janela para tomar sol. Ela vai estar mais interessada e preparada, tanto para os aprendizados didáticos, quanto para os da vida", expressa a gestora.

Planejamento pedagógico
Coordenadora pedagógica da Emei, Greisse Kelly Silva conta que sua principal preocupação quanto à execução das atividades em sala de aula é o respeito ao desenvolvimento integral dos alunos. Ela afirma que, ainda que seja uma unidade de ensino inspirada na pedagogia Waldorf, também são utilizadas metodologias de Emília Ferreira, Montessori e Paulo Freire, por exemplo.

"Na pedagogia Waldorf encontramos um caminho diferenciado do respeito à infância. Nossa sociedade está com muita pressa e exigindo demais das nossas crianças, mas, enquanto escola, temos que garantir os direitos delas, entendê-las e, aí sim, fazer um trabalho pautado no seu crescimento como um todo, até porque somos a principal rede de apoio para muitas famílias”, explana Greisse.

A gestora exemplifica o 'aprender com leveza' através de um dos métodos da Waldorf, que é o ensinar e desenvolver a disciplina por parte do aluno através de canções. "Se a turma vai sair da sala, os comandos são através de músicas. Não precisamos aumentar o tom da voz para dizer: 'olha, agora é hora de irmos'. É uma rotina que vai sendo estabelecida e, sem ela, fica muito difícil educar. A gente estabelece ritmo e a criança vai entender a hora de entrar na sala de aula, de sair, de se alimentar. A hora de tomar banho. Essas ações passam a ser um processo natural e tranquilo na vida dela”, detalha.

Caminho do saber
Para o ano letivo 2023, a equipe gestora da Emei elaborou o material Caminho do Saber Fazer. Trata-se de uma pasta contendo um portfólio com planejamento, orientações e armazenamento da escola e do professor. O projeto, inclusive, foi apresentado para outros educadores recentemente, no VI Congresso Brasil de Pedagogia Waldorf, ocorrido de 18 a 23 de julho, em Belo Horizonte (MG), pela representante do Instituto Social Micael, parceiro da Emei, Maria Aparecida Dias. Durante o evento, outras redes se interessaram em conhecer mais da estratégia.

"Conseguimos unir nossa prática, o que aprendemos e em que nos inspiramos, para elaborar um produto que as professoras utilizam. O portfólio é alimentado semanalmente e estão de acordo com o trabalho de Organização do Trabalho Pedagógico (OTP). Toda semana, Greice dedica 20 minutos para uma professora de cada turma, dialogando sobre o planejamento, ouvindo as docentes e orientando as propostas. Poder executar esta iniciativa é de uma alegria enorme para nós. Temos uma equipe pedagógica muito boa, que realmente se dedica ao trabalho com a criança e vemos um ótimo resultado", conta a diretora Mayra.