Anistiada política é homenageada durante programação do Ocupe a Praça

Cultura
17/05/2018 00h30

Uma noite marcada de emoção e valorização ao assistente social. Assim pode ser definido o ‘Ocupe a Praça: Ana Côrtes’ desta quarta-feira,16. Um projeto da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), realizado através do Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira (NPD), no Centro Cultural de Aracaju. Nesta edição, a programação foi voltada para o Dia do Assistente Social, homenageando Ana Côrtes, uma profissional da área que lutou pela democracia no período da ditadura militar e é referência em Sergipe na luta em defesa dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito.

“Estou honrada em receber essa homenagem. Sou uma das remanescentes da categoria e todos estão aqui para me prestigiar. Fico realmente feliz, pois sou assistente social desde a época de 1960 e, hoje, estou lembrando de alguns momentos que vivi a nível nacional e local. Precisamos enaltecer sempre essa nossa profissão linda e que merece todo o respeito do mundo. Quero agradecer por tudo”, afirmou Ana Côrtes, relatando a tortura a física e psicológica que sofreu durante o regime militar. 

De acordo com a vice-prefeita de Aracaju, Eliane Aquino, a homenagem a uma assistente social anistiada política foi acertada para o momento e de extrema importância para história daqueles que viveram o período da Ditadura Militar. “Diversas pessoas falam e poucos conhecem de verdade. Nós temos uma grande geração que não sabe o que significou tudo isso. Escutar a fala de Ana Côrtes é sempre um alerta para a nossa sociedade. Diversas vezes defendemos bandeiras sem realmente entendê-las. Estamos em um momento que o Brasil está precisando de muita consciência para que a gente não deixe que a tortura volte ao nosso país. Precisamos de igualdade, fraternidade e paz. Que depoimentos como estes sejam triplicados e parabéns aos organizadores deste evento”, declarou.

Para a secretária Municipal da Assistência Social, Rosane Cunha, o projeto ‘Ocupe a Praça: Ana Côrtes’, com o depoimento da anistiada política, foi forte e regado de emoção. “Parece que estamos vendo um filme de terror e que a gente não imagina que essa pessoa passou por tudo isso e que hoje está em nossa frente contando todas essas histórias. Infelizmente, há uma corrente de dentro do nosso país que pede a volta da ditadura. É através da dor dessas ‘Anas’ que a gente se fortalece na luta para divulgar para os jovens que não têm ideia do que foi a ditadura militar e mostrá-los o quanto é importante que a gente se mantenha na busca pelos nossos direitos e que a luta dessas pessoas não tenham sido em vão. Por isso, a Prefeitura de Aracaju e a Secretaria de Assistência Social está aqui hoje prestigiando este evento”, afirmou.

Na ocasião, companheiras de profissão relataram alguns momentos especiais que viveram ao lado de Ana Côrtes. “É uma alegria imensa estar aqui relatando histórias inesquecíveis de nossa jornada de garra em prol dos assistentes sociais e, ao mesmo tempo, trazendo situações tristes que ela viveu e que a gente estava ao lado dela sabendo de tudo, torcendo para que passasse rápido e que acabasse bem. Que essa homenagem mostre o legado que Ana deixa para as futuras assistentes”, desejou a assistente social Maria de Guadalupe. 

O presidente da Funcaju, Cassio Murilo, destacou o ‘Ocupe a Praça’ desta edição como completíssimo. “A homenagem a esta mulher guerreira foi uma honra para nós. Assim, pudemos abordar sobre direitos humanos e seus significados. O evento permitiu questionamentos e valorizações que são necessárias para as gerações futuras”, comentou Cassio, agradecendo a parceria do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) e da Mostra de Cinema e Direitos Humanos.

A coordenadora do Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira (NPD), Graziele Ferreira, explicou que este evento foi uma proposta do CREESS em comemoração ao Dia do Assistente Social e o NPD abraçou essa ideia. “Hoje tivemos a comprovação da importância dessa ação para a democracia. Podemos reforçar a história de Ana Côrtes e de seus companheiros que não estão entre nós. O Núcleo é uma política pública de cultura. Provavelmente, hoje o NPD não existiria se Ana e seus companheiros não tivessem lutado pela democracia. Foi uma honra ter integrado o Núcleo às comemorações do CRESS a essa data ímpar e de grande valia para a sociedade”, evidenciou.

Liquidifica Diálogos 
 
A programação do ‘Ocupe a Praça’ trouxe para esta edição o ‘Liquidifica Diálogos – Resistência e Cinema’, além da exibição do documentário ‘Praça de Guerra’, do diretor Edmilson Gomes. “Foi uma boa oportunidade de discutir sobre o audiovisual em questão”, disse Graziele Ferreira. 

O coordenador da Mostra Cinema e Direitos Humanos, Mario Eugênio, completou. “A exibição do filme acabou trabalhando a conscientização do que significa os direitos humanos para uma população que ainda não entende o real papel e a sua importância”. 

O evento foi encerrado com a apresentação musical do grupo Samba do Arnesto, na praça General Valadão, no Centro da capital sergipana.