Ilé-Iwé: Emef Anísio Teixeira realiza oficinas sobre a cultura e a arte afro-brasileira

Educação
31/10/2023 10h05

Com o projeto Ilé-Iwé, a Prefeitura de Aracaju, através da Secretaria Municipal da Educação (Semed), estimula e desenvolve nas escolas atividades que fomentem o estudo e a naturalização da história, cultura e dos costumes afro-brasileiros. Com isso, as Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emefs) são instruídas, capacitadas e contempladas com cursos, oficinas e debates que tratem do assunto pedagogicamente, ensinando aos estudantes de forma prática e artística.

E é com essa premissa que a Emef Anísio Teixeira, localizada no bairro Atalaia, realiza, por meio do projeto Negritude, oficinas com três diferentes formas de passar a cultura afro. A primeira é através da dança, a segunda pela pintura e a terceira com a construção de máscaras africanas, sendo todas elas desenvolvidas no próprio espaço da escola, de forma paralela e com os alunos podendo optar pela manifestação artística que mais os interessam.

Responsável pela implantação do Negritude na escola, a coordenadora administrativa, Sandra Leite, informa que é uma honra estar à frente de um projeto tão especial e enriquecedor como o Ilé-Iwé.

“A relevância desse projeto é que nós trabalhamos a valorização da identidade do nosso país. Este ano, nós estamos com foco na arte arte afro-brasileira. Então, dentro dessa perspectiva, nós realizamos atividades durante todo o ano, pois não é um projeto pontual, mas, sim, um movimento que acontece diariamente e atinge toda a nossa comunidade escolar. O Ilé-Iwé é uma iniciativa de grande altitude, porque é um projeto que transforma o nosso meio e a educação, fazendo com que os nossos alunos percebam, colaborem e respeitem a cultura afro-brasileira”, diz.

Oficinas
Coordenadas por diferentes facilitadores, as oficinas são desenvolvidas com profissionais capacitados, em diferentes espaços das escolas, durante o mesmo horário, com estudantes que escolheram participar por livre e espontânea vontade.

Envolvido com a arte da pintura desde pequeno, o oficineiro João victor Santana, que é estudante de Artes Visuais na Universidade Federal de Sergipe (UFS), se diz muito feliz em participar do projeto Negritude, mostrando e ensinando aos alunos a sua arte, que representa a negritude e a  mitologia dos orixás.

“Trabalhar com essa parte da religião africana tem tudo a ver com o projeto, em que eu apresento aos alunos um pouco da história e da técnica de pintura. Muitas vezes há, na sala de aula, alunos que são artistas, mas que não se desenvolvem por falta de estímulo. Portanto, eu estou aqui para estimular o lado artístico ao mesmo tempo que trago e explico a cultura africana, mostrando a multidisciplinaridade presente no mundo. Por muitos anos os costumes afro-brasileiros não foram ensinados nas escolas e, agora, com essa oportunidade, é de extrema importância mostrar a cultura e a arte negra também. Na minha oficina, o meu objetivo é desenvolver não só o lado artístico dos estudantes, mas, também,  o conhecimento de tudo que envolve o povo negro”, explica.

Com licenciatura em dança pela UFS, o professor Henrique Vidal, que trabalha com a dança afro desde quatorze anos, descreve a sensação de estar junto aos alunos dançando e se movimentando como “prazerosa e inspiradora”.

“Participar do projeto é um prazer, porque eu amo trabalhar em qualquer lugar, levando o meu conhecimento sobre o tema. Mas, quando se trata da escola pública, a experiência é ainda mais forte, porque reforça um lugar de resistência, de afeto, de inclusão. Estar com essa oficina nas unidades de ensino mostra que elas são um lugar em que as pessoas negras consigam entender que existe uma dança, um ritmo e um movimento que fale sobre a ancestralidade dela. Então, estar com um projeto como esse é permitir que o aluno consiga enxergar-se através da dança que está na ancestralidade e na nossa raiz que vem do nosso povo. Portanto, é uma felicidade imensa conseguir trabalhar a cultura afro através da dança e ressignificar algumas coisas, levando cultura, religião e a fertilidade que é o Brasil e a africanidade”, declara.

À frente da oficina de máscaras africanas, Isabela de Oliveira, professora de língua portuguesa, diz que a sua participação no projeto é conduzir os alunos a entenderem, de forma prática, a arte africana,  que tem tudo a ver com a origem da população brasileira.

“A confecção das máscaras, que são feitas com gesso, emolduradas pelo próprio rosto da pessoa e depois pintada, mostram a esses alunos que entender a cultura afro não é apenas sobre ser antirracista, mas, também, sobre vivenciar a cultura e entender que existe vida ali com toda a sua diversidade. E é aprendendo com a arte africana, misturando também com a indígena, que vai se entendendo, aos poucos, sobre todo o conceito e vivência da população brasileira com sua negritude e miscigenação. Com a mão na massa, eles vão aprendendo e se divertindo nessas oficinas que são extremamente importantes”, observa.

Participantes
O aluno Paulo Júnior Oliveira, do oitavo ano, escolheu aprender a fazer máscaras africanas e descreve a atividade como um momento de expressar o sentimento de cada um. Ele explica  que há a inspiração na arte africana, mas que os participantes são livres para colocar sua própria noção de arte.

“Na oficina a gente cria coisas diferentes, utilizando um padrão e inspiração, mas que é diferente para cada máscara. Nós estudamos sobre isso, entendemos que é uma questão muito antiga, um uma coisa sobre uma cultura diferente da nossa, que é um povo diferente do nosso, mas que tem ligação com a gente, porque são nossos ancestrais.  É inspirador ver como um pedaço de pano com gesso pode fazer a imagem do seu rosto e depois você mesmo pode  pintar do jeito que quiser. É um negócio muito muito para frente”, analisa o estudante.

Já o estudante João Victor de Jesus, do 9° ano, escolheu a oficina de pintura, pois, o desenhar e o pintar são práticas que já fazem parte da sua vida e que o emocionam muito.

“Desde criança eu desenho muito. Eu desenhava as pessoas, o corpo todo delas e depois fui evoluindo. Eu comecei a esfumar, a ter mais técnica e vi que eu realmente tinha talento. Com essa oficina eu vou poder melhorar minhas técnicas nas tintas, o que vai me ajudar nos meus outros desenhos e também no meu artesanato. Eu já tenho conhecimento das técnicas de desenho,  mas eu nunca me inspirei na questão africana. Essa vai ser a primeira vez e eu estou achando muito interessante aprender sobre elas e poder colocá-las na tela através das minhas pinceladas e técnicas”, confessa.