Com Projeto de Redução de Danos, Prefeitura leva saúde e dignidade a pessoas em situação de rua

Agência Aracaju de Notícias
16/11/2023 13h30

Muitas pessoas que vivem nas ruas, em situação de extrema vulnerabilidade social, podem fazer uso abusivo de  álcool e outras drogas. Uma parcela dessas pessoas, por diversos motivos, não conseguem se livrar do problema, o que acaba deixando-as expostas a algumas situações de risco. Para tentar minimizar essa situação, a Prefeitura de Aracaju desenvolve o Projeto de Redução de Danos (PRD), por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O objetivo desta ação é tentar reduzir as consequências negativas que o uso de álcool e outras drogas e a ausência da utilização de preservativos internos e externos nas relações sexuais podem proporcionar a essas pessoas.

O trabalho é realizado com muito cuidado e empatia de 16 redutores de danos que compõem as 8 regiões sanitárias de Aracaju. Esses profissionais que compõem o projeto têm como frente de atuação as ruas da cidade de Aracaju, da antiga Zona de Expansão à Zona Norte, além das Unidades de Saúde de Família (USFs), o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), as Unidades Socioeducativas e as escolas. Os serviços ofertados são nas áreas de educação em saúde, como orientações sobre o uso prejudicial de álcool e outras drogas, prevenção e promoção da saúde, a importância do uso de preservativos internos e externos, entre outros.

"O projeto Redução de Danos existe em Aracaju desde 2002. O principal objetivo é proporcionar educação em saúde e redução de danos às pessoas que fazem uso problemático de álcool e outras drogas e às profissionais do sexo. A gente vai às ruas com alguns insumos como preservativos, lubrificantes, copos descartáveis, porque é importante que quem faz uso problemático de álcool, por exemplo, evite compartilhar o copo. Vamos aos locais onde identificamos que existem pessoas fazendo esse uso, ou em lugares previamente indicados pelas UBSs e demais equipamentos da rede de atenção à saúde para fazer essa orientação sobre o que é menos prejudicial”, explicou a coordenadora do projeto, Jayane Trindade.

Segundo ela, o trabalho de redução de danos não combate as drogas, mas tem como seu leque de possibilidades, estratégias de redução dos riscos psicossociais e físicos “As pessoas podem acabar ainda usando drogas, mas de uma forma menos prejudicial. Isso é muito importante porque a gente parte da perspectiva de que vai muito além do que é certo ou errado. Queremos encontrar, junto com a pessoa que faz uso problemático de drogas, estratégias que possam melhorar a vida dela”, afirmou.

Público
A maior parte do público é formada por pessoas em situação de rua, negras, com baixa escolaridade, em sua grande maioria do sexo masculino, entre 30 e 50 anos. De acordo com Jayane Trindade, também existe o acompanhamento de pessoas que têm residência, mas sempre no mesmo perfil, sendo a maioria homens. Também faz parte do público atendido mulheres trans, já homens trans não são encontrados com frequência nas ruas.

“A abordagem a essas pessoas é feita com muita empatia, o que reduz a resistência inicial. Depois dessa primeira aproximação, os agentes  redutores de danos criam um vínculo com os assistidos. Isso acontece também porque não chegamos apontando o erro de ninguém, mas sim com um diálogo respeitoso. Tudo isso faz parte das diretrizes do SUS, dos princípios da saúde mental, que é justamente o acolhimento e a escuta qualificada como base para demais encaminhamentos. Há uma certa resistência a depender da cena, mas na sua grande maioria isso é quebrado”, explicou.

Essas ações acontecem de segunda a sexta-feira e seguem uma agenda previamente planejada com alguns lugares que são visitados com mais frequência. Além disso, as equipes constantemente estão fazendo o mapeamento de outros locais, para identificar onde há pessoas nessas condições ou não.
 
Projeto
O Projeto de Redução de Danos da Prefeitura de Aracaju teve início em 2002 e, até 2004, contava com verbas advindas do Ministério da Saúde. Esses recursos federais deixaram de ser recebidos, mas devido aos bons resultados, a Prefeitura de Aracaju mantém até hoje com investimento municipal.

“O Projeto de Redução de Danos perpassa por um posicionamento  ético, político, que é o respeito à singularidade, ao cuidado e à liberdade deste sujeito. É extremamente importante quando a gente pega esse ponto e leva às diretrizes e portarias que fundamentam o SUS de Aracaju. Entender que aquele sujeito, independentemente do uso problemático de drogas, é alguém que tem direitos, e que todos os profissionais precisam ter esse posicionamento e esse respeito, isso é algo que deve se perpetuar e permanecer dentro do SUS de uma forma geral”, afirmou Jayane Trindade.

O redutor de danos, Anderson Pereira dos Santos, destaca que a principal ferramenta de trabalho é o vínculo com o usuário. “A gente cria essa aproximação e eles são como se fossem amigos. A gente aborda, faz a distribuição de preservativos, educação em saúde, redução de danos em relação ao uso de álcool. A gente distribui copos descartáveis para que eles não façam o uso compartilhado de álcool, visando evitar algumas doenças. Queremos fazer com que eles tenham uma autonomia de cuidado. Esse projeto atende àquelas pessoas que são excluídas da sociedade. Pessoas que, muitas vezes, não buscam algum serviço porque acham que não serão bem recebidas”, disse.

Um dos moradores da cidade que são atendidos pela equipe, que vive próximo à Travessa Amapá, no bairro Siqueira Campos, se diz satisfeito com o projeto. “Tenho 41 anos, e moro aqui há mais de 33 anos. Esse projeto nos beneficia muito. Primeiramente pelo tratamento que nos dão. A equipe é muito atenciosa com a gente. Quando pedimos algo que estamos precisando, como remédios, eles nos ajudam”, disse.

Opinião semelhante teve outro morador do local, de 57 anos. “Sou pintor automotivo, faço uso de drogas, mas meu maior problema é o álcool. E tento me livrar, mas não consigo. Às vezes paro de beber por um tempo, mas depois eu volto. Esse projeto só veio para ajudar. A equipe nos traz mais saúde, respeito e principalmente a cidadania, pois a gente passa a ser visto”, declarou.