Grupos afrorreligiosos levam música, dança e ancestralidade para Orla da Atalaia

Agência Aracaju de Notícias
26/05/2024 09h59

A Prefeitura de Aracaju, por meio da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), deu continuidade na noite deste sábado, 25, ao evento afrorreligioso que tem como tema “Com racismo religioso e sem reparação, não há abolição”. A iniciativa, que faz parte das celebrações pelos 169 anos de Aracaju, conta com a participação de comunidades tradicionais de matriz africana da capital. A programação foi iniciada na quinta-feira, 23, com o espetáculo Sankofa, do HECTA Coletivo de Teatro Afro, tendo continuidade neste sábado, com apresentações musicais de diversos grupos afrorreligiosos. 

O presidente da Funcaju, Luciano Correia, destaca a importância deste evento para a manifestação cultural. “O evento junto aos povos e comunidades tradicionais de matriz africana traz a diversidade cultural e religiosa que o nosso país tem. A programação está recheada de apresentações que caracterizam a comunidade afrorreligiosa que possuímos na cidade”, declarou.

O evento é realizado por meio da Emenda Parlamentar nº 213/2024 do vereador Professor Bittencourt. Neste sábado, 25, as apresentações aconteceram no estacionamento da antiga feira do Aratip, na Orla da Atalaia, com a participação dos grupos Cia Ekedi e Ogãs; Nagô Ogum Raio de Sol; Afoxé Di Preto; Samba de Meia Hora; Lroyê: Meu Samba é na Rua; e MC Pardall.

Com o tema “Com racismo religioso e sem reparação, não há abolição”, o evento foi realizado no Dia Mundial da África. De acordo com um dos membros da organização, Ilzver Matos, esse é um momento de grande relevância. 

“Aracaju é um dos poucos municípios do Brasil que está dentro do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Ao entrar nesse sistema, assumiu o compromisso com a pauta racial e com a pauta dos povos de terreiros de matriz africana. Criar um plano cultural, um plano de garantia de direitos é um compromisso que a Prefeitura de Aracaju assumiu com o Governo Federal”, disse.

Valorização

Para muitos que se apresentaram e também para quem foi assistir, o evento mostra a valorização da gestão municipal com as religiões de matriz africana. É o que acredita Alan Caetano de Araújo, membro do grupo Afoxé Di Preto.

“Esse evento traz a nossa ancestralidade e a nossa raiz ao olhar dos cidadãos aracajuanos. Estar aqui na Orla da Atalaia trazendo os cânticos sagrados dos orixás, entre outros elementos, é comunicação. A gente agradece muito a iniciativa da Prefeitura de Aracaju, da Funcaju e do Coletivo das Casas de Matriz Africana, por terem se sensibilizado e dado atenção a nossa identidade. Poder estar neste momento ouvindo o toque de Ogum, é mostrar que a nossa identidade e a nossa religião vencem os preconceitos”, afirmou.

Opinião semelhante teve Paulo Roberto Gomes do Nascimento, do grupo Ogum Raio de Sol. “É importante que todos conheçam as religiões de matrizes africanas. Então é bom ter esse espaço para que a gente possa desenvolver nossas atividades, não só do candomblé, mas de música afro, danças afro, toda a cultura tradicional africana. A gente passa a mensagem dos nossos ancestrais. Estamos trazendo a força do axé e da energia da nossa ancestralidade. Estamos na resistência e vivos para dar continuidade à tradição”, declarou.

Quem também esteve presente foi Iya Sônia Oliveira, da Comissão de Povos e Comunidade de Terreiros de Matriz Africana de Aracaju. Para ela, esse dia é bastante representativo. “Eu acredito que as religiões de matrizes africanas são reconhecidas mundialmente, e que a população aracajuana e sergipana sabe onde estão localizados os terreiros. Mas, estamos envolvidos no que se chama racismo estrutural, que invisibiliza as nossas religiões. Nós somos um povo, temos um vestuário, uma culinária, uma forma de transitar pela cidade. Muitas coisas que a sociedade reproduz hoje são de origem de terreiro de candomblé”, afirmou.

O militante do movimento Carlos Trindade mostrou-se bastante satisfeito com o evento. “É muito bom estar congregando com as pessoas que fazem militância negra, que valorizam a religião de matriz africana. E é importante esse evento estar acontecendo no Dia da África. A  gente está marcando posição em relação a isso e comemorar essa data”, disse.

A programação segue até o dia 31, próxima sexta-feira, com a “Alvorada dos Ojás”, cuja concentração será às 19h, no Abassá São Jorge, na rua Mãe Nanã, nº 70. Na ocasião, os presentes participam de um xirê, com destino a Colina de Santo Antônio.