Primavera de Todos: Uakti contagia público presente na Sementeira

Agência Aracaju de Notícias
24/09/2007 11h34

Durante o evento de celebração da chegada da Primavera, realizado pela Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA) no último sábado, dia 22, o grupo de música instrumental Uakti marcou presença. Constituído por quatro músicos de formação clássica - Marco Antônio Guimarães, Paulo Santos, Artur Andrés e Décio Ramos -, o grupo veio pela primeira vez a Aracaju e contagiou o público que compareceu ao Parque Augusto Franco (Sementeira). Criado no ano de 1978, o grupo mineiro tem 11 CD´s gravados e um DVD. Confira abaixo um bate-papo realizado pela equipe da Agência Aracaju de Notícias (AAN) com dois integrantes do Grupo: Artur Andrés, doutor em música pela UFMG, e Décio Ramos, único paulista do grupo. AAN - Diante da sua trajetória, como você define música? Uakti (Artur) - Difícil de definir; há vários tipos de música, então fica difícil de responder. Bem, trabalhar com som, ritmo, impressões sonoras... AAN - Como se deu este processo de quatro amigos que se reuniram para formar o grupo? Uakti (Artur) - Em 1978 a gente tocava na mesma orquestra sinfônica, do Estado de Minas Gerais, e foi ali que a gente se encontrou. O Marco Antônio, que é no nosso diretor artístico, já havia construído vários instrumentos, novos instrumentos musicais acústicos. Então, foi a partir daí que começou este trabalho. AAN - Por que se ligar o nome do Grupo a uma lenda indígena? Uakti (Décio) - Primeiro é preciso saber como que é a lenda do Uakti, né? A lenda do Uakti diz que nas margens do Rio Negro - perto da aldeia dos índios Tukano - vivia um índio sozinho; dentro da floresta esse índio se chamava Uakti. Ele tinha o corpo todo aberto em buracos. Ele era muito alto, então, quando ele corria através da floresta, os ventos passavam pelos buracos no corpo dele e produzia sons; as mulheres da tribo ficaram encantadas com esses sons e elas corriam até a origem desses sons e era então que elas encontravam aquele índio muito alto e eram então seduzidas pelo Uakti. Por ciúmes, os homens da tribo caçaram o Uakti e mataram. Enterraram o corpo dele dentro a floresta e sobre o local onde ele foi enterrado nasceram três palmeiras. Os homens da tribo, acreditando que elas mantinham o espírito dele, cortaram as árvores e fizeram instrumentos musicais de sopro, que, quando tocados num ritual masculinos da tribo, evocam os sons de Uakti correndo novamente, em liberdade na floresta. Essa é a lenda que origina o nome da nossa banda. AAN - A proposta do Uakti também segue esta premissa de encantar as pessoas? Uakti (Artur) - Não, a proposta do Grupo Uakti é mais simples; é trabalhar com novos instrumentos musicais construídos por Marco Antônio Guimarães e aplicar esses instrumentos musicalmente, ou seja, compor e produzir música a partir desses instrumentos. Esse encantamento, se ocorrer, é um grande benesse, mas não é o objetivo central. AAN - Seguindo esta linha de raciocínio, seria correto dizer que o Grupo trabalha com o universo ´místico-mítico´? O Uakti se enquadra em algum desses perfis? Como é essa relação? Uakti (Artur) - É um Grupo de música instrumental que trabalha já há quase 30 anos; isso por si já é uma coisa muito rara, com a mesma formação. Qualquer busca ´mítica´ - como você diz -, é uma questão muito pessoal, da busca de cada pessoa mesmo. Mas como músicos, acho que o fator mais importante é essa possibilidade de quatro pessoas estarem em torno de uma idéia bem pouco usual. AAN - De maneira ampla, como é o processo do Grupo Uakti; não só o processo de criação, mas da banda em si? Uakti (Décio) - Olha, é mais ou menos assim: todos - de uma certa forma - compõem; o compositor principal é o Marco Antônio Guimarães e todos participam dos arranjos, na hora de fazer os ensaios. AAN - A música de vocês inspira trabalhos de outros grupos artísticos, como teatro, dança e cinema. Como acontecem estes trabalhos paralelos? Uakti (Décio) - É uma coisa muito interessante, porque aumenta a nossa capacidade de criação quando algum cantor, ou uma cantora, ou uma banda convida a gente pra fazer uma participação em disco, em alguma faixa ou em show. Isso é uma coisa que faz aumentar a nossa capacidade de criação e a nossa capacidade de poder tocar, improvisar com outras pessoas. Então, é uma coisa que é salutar, faz bem pra música da banda. AAN - Vocês já passaram por vários momentos: criação de instrumentos, desenvolvimento de técnica para tocá-lo, composição própria, arranjos próprios de músicas já conhecidas etc. Qual é o momento atual do Uakti? Uakti (Décio) - Bom, então, agora a gente acabou de lançar o nosso primeiro DVD, que foi gravado no final do ano passado lá em Belo Horizonte. Foi lançado esse DVD alguns meses atrás. Então a gente vem divulgando bastante esse DVD, e estamos também envolvidos em projetos sociais com ONG´s do Estado de Minas Gerais - sobretudo do norte de Minas, do Vale do Jequitinhonha - onde a gente dá aulas para grupos de jovens carentes de várias cidades do Vale. AAN - Vocês não costumam gravar discos anualmente. Como acontece a decisão dos momentos exatos para gravar CD´s? Uakti (Décio) - Quando tem um trabalho pronto, assim, a gente gosta de entrar num estúdio tendo uma coisa assim, bem próxima daquilo que vai ser o resultado final obtido numa gravação, né? A gente entra no estúdio com tudo quase que pronto. A gente prefere fazer a coisa assim desse jeito, com calma. AAN - Vocês começaram em Minas, já tocaram com nomes consagrados da música brasileira e fizeram trabalhos fora do país. Como é que você avalia o mercado musical hoje em dia? Uakti (Artur) - Bem, acho que no mundo inteiro a gente vive uma crise. No mercado fonográfico, pirataria... Tudo isto são fatores que não dá pra deixar de lado, não é verdade? E no meio desse caos ainda continua se tentando fazer alguma coisa. Eu vejo um cenário muito sombrio pro futuro. Cada vez menos investimento em gravações, em custo da própria produção do material fonográfico, que já não se paga com a venda. É uma coisa complicada isso. AAN - Para finalizar, você gostaria de acrescentar algum comentário ou recado? Uakti (Décio) - Ah, acrescento que é um prazer enorme estar aqui, primeira vez que a gente vem a Aracaju. Uma terra maravilhosa... Espero que a gente volte outras vezes, brevemente. Clique aqui e confira a cobertura on line do ´Primavera de Todos´