Impactos da Violência na Saúde da Mulher é tema de ação realizada no Cemar Augusto Franco

Saúde
06/03/2018 12h44

A violência sexual, física, moral, patrimonial e psicológica contra a mulher é um tema atualmente em evidência na mídia e no cotidiano de todas as classes sociais, ocorrendo muitas vezes de forma silenciosa, seja no trabalho, na comunidade, na rua e principalmente no ambiente familiar. Com o intuito de levar esse debate às unidades de Saúde, aconteceu na manhã desta terça-feira, 6, uma ação intitulada "Impactos da Violência na Saúde da Mulher", voltada aos servidores do Cemar Augusto Franco. O evento foi organizado pelo Núcleo de Prevenção de Violências e Acidentes (Nupeva), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), que este mês está realizando diversas atividades em alusão ao Dia Internacional da Mulher.


Durante a conversa, a responsável técnica pelo Nupeva, Lidiane Oliveira, falou que mesmo o Brasil tendo a Lei Maria da Penha em vigor há mais dez anos, o problema ainda persiste e não se resolve por completo, sendo este um dos maiores problemas sociais do Brasil, que se manifesta de diversas formas, de discriminação ao assédio no ambiente de trabalho.


"O problema é a existência do machismo na sociedade e a falta de reflexão de algumas atitudes das famílias no próprio lar. Pensem em como fomos criados e como ainda hoje criamos os nossos filhos. Quais os brinquedos que damos aos meninos e às meninas? A distinção já é feita desde criança, enquanto garotos ganham bola, bicicleta e videogame, as meninas ganham panelinhas, vassourinhas e bonecas, já sendo instruídas de que os deveres numa casa devem ser feitos por pessoas do sexo feminino. As tarefas em casa precisam ser divididas”, pontuou Lidiane.


A responsável técnica ainda falou sobre a Lei Maria da Penha (lei nº 11.340/06), os mecanismos de medida protetiva de urgência e os cinco tipos de violências sexual, física, moral, psicológica e patrimonial, previstas na legislação. “A violência psicológica é uma das que mais machuca a vítima, deixando a mulher extremamente atingida emocionalmente, com a autoestima muito baixa. Muitas vezes depois da agressão o companheiro pede desculpas, fala que não vai fazer de novo e até faz algo para agradar a vítima. Com isso, muitas mulheres continuam com seus agressores e isso se repete por anos e anos. O enfrentamento à violência contra a mulher deve ser constante e requer produzirmos discussões, trabalhar a base, que é a educação, reforçando um dos eixos mais importantes: a prevenção”, reforçou Lidiane.


Os participantes ainda puderam conhecer como funciona o trabalho de superação da violência no município, uma vez que a SMS exerce um papel fundamental no enfrentamento desse problema, integrando uma rede de atendimento às vítimas em Aracaju. Como fator primordial nesse aspecto, está a notificação dos casos que podem ser identificados pela porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), como as unidades básicas, os hospitais municipais, os Centros de Especialidade Médicas (Cemar) e os Centros de Atenção Psicossocial (Caps).


"A vigilância epidemiológica constitui-se como estratégia para dar visibilidade a esse problema, principalmente para diagnóstico da magnitude e do impacto da violência em determinada parcela da população, local e tempo. Essas notificações, além de obrigatórias por lei em serviços de Saúde, são necessárias para o planejamento de ações e construção de políticas públicas de enfrentamento, inseridas em um trabalho multidisciplinar, e voltadas ao atendimento às vítimas, desenvolvido em conjunto com outras secretarias", revelou Lidiane.


Notificações


As unidades de saúde da SMS que prestam esse serviço são "porta aberta", pois as pessoas podem procurá-las espontaneamente para consultas e encaminhamentos. Uma das estratégias utilizadas para promover uma linha de cuidado ao paciente é a notificação dos casos suspeitos ou confirmados com a ficha do Sistema de Informação de Agravos de Notificações e Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes. O Nupeva, que pertence à Coordenação de Vigilância Epidemiológica (Covepi), dentre outras intervenções, atua na sensibilização de profissionais de saúde para um acolhimento humanizado e encaminhamentos das vítimas com a maior agilidade possível.


Em alguns casos, é preciso uma notificação imediata (em até 24h) ao Nupeva, como tentativas de suicídio, por exemplo. Essa celeridade é necessária para que seja acionado a Rede de Atenção Psicossocial para o cuidado ao paciente, a fim de que não haja novas tentativas. Nos casos de violência sexual é realizada a mesma orientação de notificação imediata para que tenha, com mais brevidade possível, um encaminhamento ao tratamento na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, referência desses atendimentos para todo estado.


Outros tipos de violências requerem cuidados e encaminhamentos diferenciados, tais como violência física, negligência e abandono, maus tratos, violência financeira e econômica. Os profissionais de saúde estão em posição estratégica e, muitas vezes, conseguem identificar sinais e sintomas de pessoas que podem estar passando por situação de violência. “Precisamos estar preparados para acolher as vítimas e conhecer a rede de atendimento, que é integrada pelo Conselho Tutelar, Delegacia de Grupos Vulneráveis, Ministério Público Estadual, Centros de Referência da Assistência Social, e os Especializados (Cras e Creas)”, concluiu Lidiane.