Pessoas em situação de rua têm acesso às políticas públicas através da Abordagem Social

Assistência Social e Cidadania
10/08/2018 17h21

Desde o início da atual gestão, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal da Assistência Social, vem intensificando os trabalhos das equipes de Abordagem Social. O serviço, realizado pela pasta, dialoga com as políticas de assistência social, e tem como principal objetivo identificar as pessoas em situação de vulnerabilidade que residem nas ruas de Aracaju. Com a identificação, as equipes realizam acompanhamentos, conhecem as demandas das pessoas atendidas e as direcionam para os órgãos responsáveis por oferecer os serviços necessários.

Atualmente, sete equipes atuam durante o dia e à noite pelas ruas da capital sergipana. Compostas por educadores sociais, psicólogos e assistentes sociais, o trabalho busca dar visibilidade a essas pessoas, entendendo os fatores pelos quais as mesmas se encontram em determinada situação. A partir daí, as equipes trabalham na perspectiva de mostrar as possibilidades a esses indivíduos que vivem em situação de extrema vulnerabilidade social.

De acordo com a gerente da Média Complexidade da Assistência Social, Lucianne Rocha, as equipes vêm fortalecendo os seus trabalhos com a proposta de oferecer às pessoas atendidas os serviços garantidos por lei. “Normalmente, quando somos acionados, enviamos uma equipe até o local da denúncia para tentar compreender o caso, saber quais pessoas são aquelas, buscando referências. Sejam elas da comunidade, da família, o que de fato aconteceu que fez aquelas pessoas estarem em determinados lugares. Entendendo tudo isso, vamos começar a agir. Como assim? Vamos buscar apoio da nossa rede intersetorial para direcionar pessoas atendidas aos serviços da Assistência, Saúde, Educação. Tudo com o intuito de fazer com que essas pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade, possam usufruir dos serviços”, explica.

Realizado em conjunto com a rede intersetorial, o trabalho tem tido êxito. Lucianne destaca, ainda, que a população se confunde com o serviço. “Nossa missão é chegar naquelas pessoas que estão nessa condição difícil e identificar os fatores. Muita gente acredita que o nosso papel é pegar aquelas pessoas que estão em determinados locais e tirá-las de lá. Não é isso. O que fazemos? Vamos até a área, dialogamos com elas, orientamos, e se aceitarem encaminhamos para locais seguros, no caso, para as instituições de acolhimento. Mas, por motivos particulares, muitos se recusam a sair das áreas. Então, não cabe as nossas equipes remover as pessoas de tais áreas. Existem casos, em que os cidadãos em situação de rua acabam inibindo o direito do outro de também ter acesso a determinados espaços. Quando isso acontece, a gente conversa e se não conseguirmos convencê-las, acionamos os órgãos responsáveis. Estamos sempre em parceria com a Emsurb para que essas questões ocorram da melhor forma possível, discutida, fazendo com que as pessoas sejam acolhidas e não apenas removidas de uma maneira ostensiva daquela localidade”, pondera.

Os motivos pelos quais levam diversas pessoas a buscarem uma nova identidade nas ruas das cidades são inúmeros. Desde questões que envolvem aspectos financeiros até mesmo casos onde os vínculos entre os membros da família são fragilizados. Segundo o educador social Orlando Reis Cruz, que atua na equipe de abordagem do Centro de Referência Especializado para Pessoa em Situação de Rua (Centro Pop), com o serviço é possível identificar esses fatores e tentar aplicar medidas resolutivas. “Essa é uma luta que deve ser permanente. Sempre tentando oferecer o mínimo que está ao nosso alcance. Fazendo com que eles sintam que tem alguém olhando para eles, se importando com aquela situação e dizendo que eles não estão abandonados, que nos preocupamos, nos sensibilizamos com tal contexto e que estamos sempre aqui para estender as nossas mãos quantas vezes for necessário”.

Só no ano passado, mais de 100 pessoas foram acolhidas na Central Permanente de Acolhimento (Acolher), graças ao trabalho. “No desenvolvimento das suas políticas, a secretaria não poderia deixar de incluir esse público que vive nas ruas. Principalmente nesse cenário de crise, pelo qual o país vem passando, onde existe muita gente que, infelizmente, estão tendo que se submeter a esse quadro. Por percebermos a eficiência dessas abordagens, intensificamos os atendimentos para encaminhá-las para as nossas instituições a exemplo do Centro Pop”, disse a secretária da Assistência Social, Rosane Cunha.

“Encontrei nas ruas uma paz que não tinha em casa”

Nem mesmo o frio, o calor ou a falta de uma condição digna de sobrevivência fazem com que essas pessoas aceitem ser direcionadas às instituições de acolhimento. Antônio de Jesus, de 51 anos, já foi um jogador de futebol em ascensão na década de 80. Há seis anos ele descobriu que portava algumas enfermidades. Com a descoberta e o sentimento de solidão por falta de apoio dos familiares, ele buscou as ruas como forma de aconchego. “Quando comuniquei a minha família e percebi que eles não aceitavam a minha condição, decidi procurar outro caminho para minha vida. Foi aí que disse: sabe de uma coisa? Vou achar um cantinho para mim em algum local por aí. Vontade de voltar pra casa eu tenho, mas não é só o querer. Por falta de informação muitos julgam, discriminam, não acolhem. Por isso, para não viver em meio a tanto preconceito, estou em uma área que ninguém pode atirar a pedra porque eu fiquei doente”.

O ex-jogador de futebol tem a ida ao médico como uma prioridade em sua rotina. Para ele, os profissionais da abordagem social têm um trabalho que abraça as causas e leva a informação sobre os direitos de cada cidadão. “Encontrei nas ruas uma paz que não tinha em casa. Decidi morar aqui. Graças a Deus existem pessoas que se importam com a gente. Esses rapazes que chegam até aqui, nos mostram o que devemos fazer para ter acesso ao médico, aos documentos, no caso de quem quer ir para outro local, eles até oferecem abrigo. Sempre estão dando conselhos, conversando sobre os nossos direitos. Isso é muito bom porque percebemos que alguém está se preocupando em saber quem somos, onde estamos e o que precisamos”, opina.

Dona Rosileide da Conceição, de 60 anos, veio do interior de Sergipe em busca de melhorias na capital. Sem familiares na cidade, ela teve as ruas como local de moradia. Há 12 anos ela vive em situação de rua em Aracaju. Questionada sobre o porquê de não aceitar ir para uma unidade de acolhimento, ela conta que se encontrou nas ruas. A solicitação de novos documentos e o cadastramento nos programas do Governo Federal foram alguns dos serviços feitos pela equipe, que para ela, desenvolve um trabalho com muito amor. “Esses meninos têm muito amor para nos dar. Corações gigantes. Fui beneficiada muitas vezes com os serviços oferecidos. Agradecemos essa atenção especial que eles têm conosco”.