Primeiro encontro do ‘Papo de Menina’ discute gravidez precoce e violência contra mulher

Educação
13/08/2018 14h03

Mulheres conversam, mulheres se entendem. Nesta segunda-feira, 13, aconteceu o primeiro encontro do projeto Papo de Menina, realizado pela Secretaria Municipal da Educação (Semed). O bate papo aconteceu na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Olga Benário, no bairro Santos Dumont. Até o final do ano letivo, 20 escolas da rede municipal serão visitadas para tratar sobre temas pertinentes às adolescentes matriculadas nas Emefs, como gravidez na adolescência e violência contra a mulher.

O Papo de Menina foi idealizado pela Coordenadoria de Políticas Educacionais para a Diversidade (Coped). Para as atividades realizadas, quatro temas foram escolhidos: assédio, gravidez precoce, violência física e psicológica contra a mulher e sororidade (que é a união entre as mulheres, baseada na empatia, em busca de um objetivo em comum). “O que nós percebemos é que boa parte das ações relacionadas a gênero eram pensadas para as mães, mas não necessariamente para as meninas. As alunas de 10, 11 anos, já estão ingressando em relacionamentos abusivos. As de 12, engravidando de maneira precoce, realizando abortos ilegais e sofrendo violência e assédio, por isso. Esse projeto é voltado para elas”, explica a coordenadora da Coped, Maíra Ielena Nascimento.

A Emef Olga Benário foi escolhida para a primeira atividade pelo fato de o bairro Santos Dumont ser prioritário no planejamento estratégico da Prefeitura de Aracaju, inclusive por registrar altos índices de gravidez na adolescência e de violência cometida contra mulheres. Todos os gestores das 20 escolas municipais do Ensino Fundamental Maior foram consultados e escolheram um dos quatro temas para ser trabalhado. Na Olga Benário, o tema foi gravidez e exercício da sexualidade na adolescência.

O projeto se desenvolverá através de parcerias com as secretarias da Saúde (SMS), Defesa Social e Cidadania (Semdec), Assistência e o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM). Esses parceiros ajudarão disponibilizando profissionais especialistas nestes temas, que promoverão as rodas de conversa com as alunas. Na Emef Olga Benário, 32 adolescentes participaram da atividade e fizeram perguntas de forma anônima.

“Quanto mais informação essas meninas tiverem, fica mais fácil elas se protegerem. Elas engravidam cada vez mais jovens e se contaminam com Infecções Sexualmente Transmissíveis, as ISTs. Isso acontece, muitas vezes, pela falta de informação ou por essas informações estarem bem confusas na cabeça delas. Então, procuramos com essa conversa esclarecer dúvidas, desfazer mitos e naturalizar o uso dos preservativos”, afirma a técnica do setor de IST/Aids da SMS, Aline Andrade Rabelo.

Segundo a diretora da Emef, Maria Claudeildes Santana, a gravidez na adolescência é um desafio recorrente enfrentado na unidade. “Muitas alunas de 12, 13 anos, estão engravidando; e os parceiros, por sua vez, não estão assumindo. Algumas até são postas para fora de casa pelos pais, que não aceitam. Elas não têm muita orientação em casa, então, a escola faz esse papel. Eu conto com essa atividade para ajudar essas adolescentes a entender que gravidez é coisa séria. Que um filho é para a vida toda e que elas passem a se prevenir”, comenta.

Violência contra mulher e direitos humanos

A guarda municipal Vaneide Dias, coordenadora da Patrulha Maria da Penha e parceira do projeto, afirma que tratar de violência contra a mulher com meninas nesta faixa etária é um passo importante para a erradicação do problema. “Este projeto é muito interessante porque está focado na prevenção. E a discussão é feita com um público que é a nova geração dessa sociedade. Então, discutir o papel da mulher, o papel do gênero na sociedade é muito importante, porque, no pano de fundo, acaba repercutindo na violência contra a mulher que é uma realidade. Discutir questões relativas ao universo feminino e as desigualdades existentes é interessante, pois fortalece e educa essas meninas sobre temas que, para nós, é fundamental na emancipação delas”, afirma.

Juliana Costa, 13, aluna no 8° ano, participou do bate papo e acredita que a falta de informação é a principal causa da gravidez precoce. “Algumas meninas não sabem as consequências que o sexo sem prevenção causa, então, é importante saber como evitar e ter responsabilidade. Essa conversa está abrindo nossas mentes sobre tudo isso, porque eu vejo muito acontecer na comunidade em que moro”, conta.

O projeto Papo de Menina faz parte das ações da Coped que estão alinhadas com a programação e as propostas do 'Ano 70’ da Unesco, que comemora os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Nós, da Semed, nos integramos nessas atividades a partir de uma série de ações que pensam direitos humanos de foma mais global, mais holística, mas que pensa, também, em grupos específicos, como direitos humanos de grupos minoritários, como mulheres, pessoas negras, LGBTs e etc. O grande objetivo desse projeto é discutir com essas meninas temas prioritários para elas, esclarecer questões, permitir perguntas, tirar dúvidas e trazer essas discussões de uma maneira bem simples e descomplicada, com o apoio de especialistas nas áreas correspondentes”, finaliza Maíra.