Tribo Kariri Xocó leva sentido de respeito e conscientização a escola municipal

Agência Aracaju de Notícias
12/04/2019 15h04

Os índios foram os primeiros povos a habitar as terras que passamos a chamar de Brasil, mas, ao longo dos anos, muitas tribos se tornaram extintas e, ainda hoje, as poucas existentes, correm perigo de desaparecer. Em Sergipe, mais precisamente às margens do rio São Francisco, na Ilha de São Pedro, no município de Porto da Folha, vivem os índios Kariri Xocó, tribo que, para manter viva a sua cultura e desenvolver a educação patrimonial, vem realizando um projeto em escolas, hotéis e espaços culturais. Nesta sexta-feira, 12, a Escola Municipal de Educação Fundamental (Emef) Ágape recebeu alguns representantes da tribo em uma manhã que estimulou, sobretudo, o respeito e a quebra de estereótipos.

A música, a dança, as tradições e os costumes dos índios da tribo Kariri Xocós foram apresentados para as crianças da escola momentos depois do início da aula. Reunidos na quadra da instituição, índios e alunos se mesclaram numa verdadeira celebração pelo que chegou muito antes de nos entendermos como sociedade. 

O projeto desenvolvido pela tribo, que é intensificado durante o mês de abril por conta do Dia do Índio, foi recebido com curiosidade pelos alunos da Emef. A aluna Keylla Fonseca, de 9 anos, manteve o olhar atento durante toda a apresentação feita pelos índios. Ávida por conhecimento, a pequena questionou sobre como eram os índios na época do descobrimento do Brasil e, além de uma resposta verbalizada, participou da demonstração de um dos costumes que a tribo ainda mantém, a dança da caça. “Eu quis saber mais sobre os rituais deles, mas, como são secretos, eu respeitei. É muito legal saber mais da cultura deles porque a gente só sabia pelos livros. Ver de perto é muito melhor”, contou empolgada. 

Devidamente vestidos com os melhores trajes, os índios contaram um pouco de como, hoje, vivem, como é a rotina na tribo quando o seu habitat natural está sendo degradado. A caça já não é frequente, com isso, a alimentação também mudou. Os banhos de rio são evitados devido a contaminação e o receio de perderem sua essência é cada dia mais iminente.
Foram esses alertas que chamaram a atenção da estudante Alice Nunes, de 9 anos. Ela também participou da dança da caça e se sensibilizou com a realidade vivida pelos índios. “Eu não tinha ideia de como eles vivem. Na escola, a gente aprende a respeitar a cultura deles, mas, ouvindo eles contarem como estão, vemos que precisamos ajudar mais e cuidar mais da natureza porque é a casa deles, mas, também é a nossa”, ressaltou. 

Para a diretora da Emef, Deisevânia dos Santos, é uma experiência rica para os alunos. “É muito bonito e significativo saber, por exemplo, que as crianças menores não saem da tribo para não perderem a essência. Isso é valorizar o que eles são. Poder passar isso para os nossos alunos é fundamental. Essa é uma oportunidade de entender como é a vida do índio e também compreender que, mesmo vivendo na cidade, temos a obrigação de cuidar da natureza, de respeitar culturas diferentes das nossas. Tenho certeza que as crianças sairão com outra mentalidade depois dessa experiência tão rica”, frisou.

Além de ser um momento de conscientização, a ação também é uma forma de angariar recursos para a tribo. Enquanto os índios realizam o projeto, as instituições que os recebem, em contrapartida, doam alimentos que serão levados para alimentar as famílias da tribo. Durante as visitas, os Kariri Xocós levam também artesanatos feitos por eles para vender e, assim, contribuir para o sustento de seu povo.  

Toda a conversa próxima aos índios e demonstrações aguçaram a empatia da aluna Gabriele Cardoso, de 10 anos, e os artesanatos fortaleceram o contato com a tribo. “Eu não teria outra oportunidade de ver uma tribo tão de perto e ainda participar de um costume deles. Os artesanatos são lindos e vou levar um para casa e guardar como recordação. É muito bom a gente ter esse contato porque aprendemos mais sobre respeito, cuidado com a natureza e pensamos mais sobre o futuro da gente”, pontuou. 

Foi através do índio Tairã que a tribo se apresentou para os alunos. Ele, assim como os demais Kariri Xocós, valoriza muito a infância e o quanto essa fase da vida pode ser transformadora. Por isso, conscientizar os alunos é fundamental. “Temos urgência em cuidar da natureza, cuidar do que é de todos nós. Hoje, não podemos realizar muitas das nossas antigas atividades porque a natureza já não está como antes. Percorremos vários lugares do Brasil para chamar a atenção para a situação. Através das crianças, temos esperança de que as coisas possam mudar para melhor, precisamos acreditar nisso e esse é o motivo que nos leva a realizar o projeto”, ressaltou.