Prefeitura promove atividades em alusão à Luta Antimanicomial

Saúde
24/05/2019 16h10

Em alusão ao mês de Luta Antimanicomial, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) vem desenvolvendo atividades conjuntas nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), com o Programa Redução de Danos (PRD), a Unidade de Acolhimento Adulto (UAA) e o Consultório na Rua. Na manhã desta sexta-feira, 24, houve uma festa de encerramento das ações alusivas à Luta Antimanicomial no Caps III David Capistrano, no bairro Coroa do Meio.

“Durante todo o mês trouxemos temas ligados à Luta Antimanicomial para serem trabalhados nas oficinas. É importante trocarmos essas experiências, fazer um comparativo, a diferença do cuidado antes e depois da Reforma Psiquiátrica, a importância de estarmos lutando para que este modelo permaneça e seja daqui para melhor e não retroagir. Hoje é uma forma de cuidado mais humanizado, em que o usuário é valorizado, tem a sua autonomia e a família está mais próxima”, explicou a coordenadora do Caps III David Capistrano, Elberlene Arimatéia Moura.

No encerramento, houve uma performance de dança com dois profissionais da equipe do Caps chamada Balada do Louco, e uma palestra com o enfermeiro e técnico da Coordenação Estadual de Saúde Mental, Max Roberto da Silva Oliveira. “Ele foi convidado para contar a história da Saúde Mental em Sergipe, de como chegamos até os Caps, e toda a trajetória profissional dele. Promovemos uma apresentação musical com um oficineiro em homenagem a Arthur Bispo do Rosário, e encerramos com o coral dos usuários. Foi uma manhã de festejos e comemorações”, informou a apoiadora da Rede de Atenção Psicossocial (Reaps), Mairla Protázio, acrescentando que também teve a participação dos estudantes do último ano de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Para a usuária do Caps e vice-presidente da Associação de Usuários de Saúde Mental do Estado de Sergipe (Ausmes), Ana Angélica dos Santos, é muito importante participar das atividades do mês de Luta Antimanicomial. “Porque nos fortalece, nos dá coragem de lutar por um direito que é nosso, então é de grande valia”, disse. Ela começou a frequentar o Caps em 2016 por problemas familiares que afetaram sua saúde mental.

A cuidadora infantil, Claudeir do Nascimento Santos é esposa de um usuário do Caps David Capistrano que faz tratamento há dois anos. “Ele melhorou bastante. Antes ele tinha muitas crises, ouvia vozes, acumulava lixo. Até me emociono em falar porque ele cresceu muito como pessoa, a diferença é grande. Ele participa das oficinas terapêuticas, os profissionais daqui são muito dedicados e nos tratam com carinho e cuidado. Além disso, aqui o tratamento é para os familiares também. Os psicólogos conversam conosco e temos várias reuniões familiares. Por isso é importante valorizar esta luta antimanicomial, os trabalhos desenvolvidos nos Caps são fundamentais”, esclareceu.

Atividade em campo

Na noite da última quinta-feira, 23, o PRD, o Consultório na Rua e representantes da UAA, do Caps AD Primavera e do Jael Patrício realizaram uma atividade em campo no centro da capital para as pessoas em situação de rua que fazem uso de álcool e outras drogas.

“Prioritariamente o crack, que dificilmente são abordadas por outras pessoas, porque ficam em uso intenso. Nos unimos, como sempre fazemos, aproveitamos o mês da Luta Atimanicomial e fizemos uma atividade maior com a integração da Residência Multiprofissional de Saúde Mental da UFS”, explicou a coordenadora do PRD, Daniele Ribeiro.

Na ação, houve a testagem rápida de sorologia de HIV, sífilis e hepatites B e C; aferição de pressão arterial e cuidados da área de enfermagem como curativos. Também foram ofertados tabuleiros de jogos para diversão enquanto aguardavam o atendimento, e as práticas integrativas como reiki e auriculoterapia.

“Ainda distribuímos água porque muitos não hidratam o organismo, propondo um momento literalmente de redução de danos, de dar uma parada no vício e se cuidar um pouco. Enquanto isso fizemos uma oficina de música do Caps Jael Patrício para promover a integração”, reforçou Daniele.

Movimento da Luta Antimanicomial

O Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. Dentro desta luta está o combate à ideia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos tratamentos, ideia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença mental.

O Movimento da Luta antimanicomial faz lembrar que como todo cidadão, estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direto a receber cuidado e tratamento sem que para isso tenham que renunciar a seu lugar de cidadãos.

O Movimento da Reforma Psiquiátrica se iniciou no final da década de 70, em pleno processo de redemocratização do país, e em 1987 ocorreram dois marcos importantes para a escolha do dia que simboliza essa luta, com o Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, em Bauru/SP, e a I Conferência Nacional de Saúde Mental, em Brasília.

Com o lema “por uma sociedade sem manicômios”, diferentes categorias profissionais, associações de usuários e familiares, instituições acadêmicas, representações políticas e outros segmentos da sociedade questionam o modelo clássico de assistência centrado em internações em hospitais psiquiátricos, denunciam as graves violações aos direitos das pessoas com transtornos mentais e propõe a reorganização do modelo de atenção em saúde mental no Brasil a partir de serviços abertos, comunitários e territorializados, buscando a garantia da cidadania de usuários e familiares, historicamente discriminados e excluídos da sociedade.

Assim como o processo do Movimento da Reforma Sanitária, que resultou na garantia constitucional da saúde como direito de todos e dever do estado através da criação do Sistema Único de Saúde, o Movimento da Reforma Psiquiátrica resultou na aprovação da Lei 10.216/2001, nomeada “Lei Paulo Delgado”, que trata da proteção dos direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo de assistência. Este marco legal estabelece a responsabilidade do Estado no desenvolvimento da política de saúde mental no Brasil, através do fechamento de hospitais psiquiátricos, abertura de novos serviços comunitários e participação social no acompanhamento de sua implementação. O Dia Nacional de Luta Antimanicomial é celebrado em 18 de maio.