Projeto Construindo Valores ajuda crianças e adolescente a enxergar novos horizontes

Agência Aracaju de Notícias
13/08/2019 05h01

Correr atrás de uma bola, literal e metaforicamente, já foi e segue sendo o sonho de muitas crianças e adolescentes que veem em esportes como o futebol uma esperança de mudar suas realidades e garantir um futuro mais digno às suas famílias. Mais do que incentivar a prática esportiva, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal da Juventude e do Esporte (Sejesp), desenvolve o projeto Construindo Valores com o objetivo de, justamente, fomentar essa busca por dias melhores.

Realizado há cerca de dois anos, o projeto, atualmente, é realizado às quartas, das 14h às 17h, e às quintas-feiras, das 8h às 11h, no Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU) do bairro 17 de Março, e, de maneira intersetorial com o programa Academia da Cidade, às terças e quintas, das 15h30 até às 17h, na Praça Franklin Roosevelt, no bairro América.

O projeto foi criado para ser um incentivo a meninos e meninas de regiões carentes de Aracaju, mas, os efeitos desse incentivo foram além do esperado.

Uma das histórias é contada pelo coordenador de Esportes de Inclusão da Sejesp, Luiz Carlos Bossa Nova. Ele, que tem larga trajetória no futebol brasileiro, lembra de como conheceu um dos meninos que faz parte do projeto.

“O menino é um craque, tem 10 anos, e já faz arte com os pés. Quando o vi jogando, o chamei pra conversar e saber se ele gostaria de participar de uma seleção pra uma escolhinha de futebol. Só que ele precisava comprovar a idade com a certidão de nascimento ou RG, mas ele não tinha nenhum documento. Um dia, resolvi ir atrás dele e saber onde morava para falar com os pais. Quando cheguei na rua dele, vi a mãe saindo de casa alcoolizada e o pai chegando no mesmo estado. Cheguei a conversar com o pai dele que me perguntou se eu não queria levar o menino para a minha casa. Ali, percebi que aquela criança só tinha o futebol como válvula de escape, o esporte era o que lhe dava esperança de mudar de vida”, relatou Bossa Nova.

De acordo com o coordenador, apesar dos poucos recursos, professores, estagiários e alunos são engajados no projeto porque sabem o que ele representa. “O Construindo Valores faz parte do Planejamento Estratégico da gestão municipal e tem surtido efeito. Muitos meninos e meninas têm mudado a maneira de ver o mundo depois que começaram a socializar através do projeto. Por estar em regiões delicadas da cidade, todo passo que os alunos dão é de extrema alegria para todos. Hoje, essas crianças carentes, de escolas públicas, têm condições de participar de competições com alunos de classe média, de escolas particulares. Isso é só um dos exemplos de superação para eles”, destacou.

Assim como para aquele menino, o craque de 10 anos, o projeto é um alento para outras tantas crianças, como destacou um dos professores do Construindo Valores, Diego Ramos, que atua no CEU. “Só aqui no 17 de Março, temos mais de 50 crianças participantes que, inclusive, estão também em escolinhas de futebol. Atendemos a meninos e meninas de 7 a 15 anos, mas, temos participantes até de 18 anos que se apegam e decidem ficar por mais tempo e nós deixamos porque entendemos o valor disso para eles. O bairro é cercado por violência e temos crianças que os pais estão presos, por exemplo. Então, tem um significado muito forte”, ressaltou.

De presença marcante na comunidade do 17 de Março, o estagiário do projeto, Túlio Faria, relatou que o início do projeto foi um desafio. “Não conseguíamos conversar com os alunos, não dava nem para organizar. Foi um processo que exigiu, primeiro, que nós ganhássemos a confiança deles e, aos poucos, conseguimos. As pessoas desse bairro têm uma realidade muito diferente do que da maioria das regiões de Aracaju. Atrás da quadra em que realizamos o projeto, mataram uma pessoa tempos atrás e isso mexeu com eles. Os meninos pintaram a arquibancada pedindo por menos violência. Diante de uma realidade dessa, o projeto é uma luz para essas crianças”, frisou.

O desenho dos caminhos de Flávio Henrique Pereira, de 16 anos, começou a ganhar outro traçado com o Construindo Valores e, como ele mesmo contou, ajudou não só a perder os quilinhos que ele queria, mas, a enxergar que nem todas as facilidades que a vida apresenta são boas. “Eu passava o dia inteiro em casa, não ia à escola e, tempos atrás, eu quase estava indo pra um rumo errado porque me disseram que seria legal. Depois que conheci o projeto, voltei a estudar, fiz outras amizades. Tenho o sonho de ser jogador de futebol e, hoje, acredito que posso chegar lá”, afirmou.

Como um projeto engajador, não é feito só de meninos. As meninas têm espaço cativo nas quadras.  Evelyn Barbosa, de 12 anos, foi convidada por uma amiga a participar. Segundo ela, antes, não sabia nem como chutar a bola e, hoje, já se vira bem até com os dribles. Mas, o Construindo Valores ajudou na edificação de outros sonhos além do futebol.

“Primeiro, eu fui por curiosidade, depois, tomei gosto, já até trouxe algumas amigas. Quero ser médica quando crescer e, antes, eu achava difícil, mas, tenho aprendido que a gente é capaz de fazer muita coisa, basta a gente se dedicar. Como eu aprendi a jogar, acho que também posso estudar bastante para ser médica”, ressaltou.