Moradores do Mosqueiro reconhecem a Orla Pôr do Sol como vetor de desenvolvimento

Agência Aracaju de Notícias
09/11/2019 07h00

Construída há nove anos, pela Prefeitura de Aracaju, a Orla Pôr do Sol Jornalista Cleomar Brandi proporcionou o desenvolvimento da região do povoado Mosqueiro, sobretudo para um lugar que começava a viver a expansão da cidade e, pela sua beleza natural, já era atrativo para quem buscava a calmaria das águas do rio Vaza Barris.

Passados os primeiros anos de construção, o lugar foi esquecido durante a gestão anterior e sofreu um processo de deterioração que só foi resolvido com a recente obra de revitalização, entregue na semana passada, pelo Governo do Estado, realizador da intervenção, que, para tanto, contou com a cessão do espaço feita Prefeitura de Aracaju.

Para quem vive às margens de rio, o contato com o lugar é diferente do que é visto em ambiente urbano. Normalmente, a população ribeirinha possui uma ligação íntima com o local em que vive. Portanto, cada processo de mudança é acompanhado de perto e muito atentamente.

Valdeci dos Santos chegou ao Mosqueiro há 10 anos, ou seja, quando a Orla Pôr do Sol estava prestes a ser construída. Naquela época, sua vida tinha outra rotina e a construção da Orla foi determinante. Hoje, ela é Dona Val das Cocadas.

“Quando vim morar aqui, tomei a decisão porque era uma área que estava crescendo. Eu era feirante e trabalhava em São Cristóvão. Minha rotina era de acordar de madrugada para vender frutas. Com a construção da Orla, vi a comunidade mudar, as pessoas estavam mais empolgadas porque era o desenvolvimento chegando. Quando a obra ficou pronta, resolvi mudar o meu dia a dia e comecei a fazer cocadas para vender numa barraca na Orla. Hoje, todo mundo me conhece como Dona Val das Cocadas”, conta.

A beleza do local já era conhecida por muitos moradores da capital e por turistas. No entanto, a construção da Orla foi a mola propulsora para o crescimento de toda a região, como lembra dona Val.

“Como passamos a ter uma Orla tão bonita, as pessoas queriam embelezar o comércio, a casa. Foi uma coisa puxando a outra. Então, ao mesmo tempo em que vimos mais gente chegando para ver a nossa Orla, vimos também mais ruas, mais avenidas sendo arrumadas. Foi bonito de ver, mas, passou esses primeiros anos e depois o lugar foi esquecido, o que, para mim, foi muito ruim”, confessa.

O estudante Maxuel Oliveira, de 22 anos, se recorda muito bem dos tempos ruins citados por dona Val. Segundo ele, era criança quando viu a estrada de piçarra dar lugar a uma via asfaltada. “visitantes vinham para essa região do Mosqueiro, mas, não tinha nenhum atrativo para fazer as pessoas permanecerem. Eu morava em frente à Orla quando ela foi construída e foi uma mudança muito grande para toda a comunidade”, afirma.

Maxuel conta ainda que participou da reunião em que o então prefeito e o vice, Marcelo Déda e Edvaldo Nogueira, discutiu com a comunidade e apresentou o projeto de construção da Orla.

“A gente sentia que estava num deserto porque as pessoas vinham e não tinha nada. Era muito buraco, o píer estava estragado, com as madeiras soltando, o calçamento se acabando, nem os moradores tinham gosto de andar por ela. Agora, com essa revitalização, nos deu uma alegria de que a boa época volte. Eu sempre digo que a obra não é de quem faz, é de quem usufrui dela e, agora, estamos tendo a satisfação de ver tudo isso lindo de novo”, comemora.

O desejo de ver o local com o mesmo aspecto atrativo dos tempos em que foi erguido era sentimento comum à maioria dos moradores da região, afinal, muitos deles passaram a tirar o sustento graças ao potencial turístico e econômico do espaço que, antes mesmo de ter as mãos humanas, já possuía beleza natural que, por si só, era um atrativo deslumbrante, sobretudo pelo cenário ao pôr do sol, daí o nome que recebeu.

Navegação regulamentada
Foi navegando pelo Vaza Barris que Michael Felipe dos Santos, hoje barqueiro, aprofundou sua admiração pelo local e suas raízes. Desde muito novo, ele ajudava o pai a fazer a travessia de moradores e turistas para locais como a Croa do Goré. Atualmente, ele exerce sua função com ainda mais orgulho, principalmente ao ver que a Orla Pôr do Sol está recebendo o cuidado devido.

Michael e outras dezenas de barqueiros passaram por capacitação oferecida pela Prefeitura, por meio de uma parceria entre a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) e Fundação Municipal de Formação para o Trabalho (Fundat), atividade necessária e fundamental para acompanhar o processo de regulamentação do transporte náutico, outra novidade vinda junto com a reforma da Orla.

Conforme o decreto assinado em março deste ano, a Emsurb expedirá alvará de Licenciamento de Atividade de Turismo Náutico - ALATIN. Todas as embarcações deverão possuir, obrigatoriamente, cartão de identificação padronizado, expedido pela Emsurb. Portanto, ficará a cargo da empresa municipal regulamentar os horários regulares de embarque e desembarque de passageiro, além de organização de filas, reservas antecipadas e condições de utilização de píeres da Orla.

A venda de passagens para passeios turísticos será realizada em um posto credenciado da Prefeitura. A Emsurb fiscalizará, também, o uso das áreas públicas pelos comerciantes, de forma a não atrapalhar o fluxo de pessoas que visitam a Orla. A Empresa Municipal manterá agentes fixos para execução dos serviços de limpeza e manutenção das áreas verdes.

“Todos esses processos são um marco para a comunidade. O Mosqueiro era um povoado que não tinha muitos atrativos. Era apagado, esquecido. É um incentivo para que valorizássemos ainda mais o que temos. A Orla em si já foi um salto grande para toda a comunidade e para todo o estado, na verdade. Com essa reforma, é uma melhora a mais. Cresci vendo essas transformações e, hoje, tenho gosto em dizer o quanto a população se desenvolveu graças a essas melhorias”, destacou Michael.

Para o barqueiro, a capacitação ofertada foi outra iniciativa importante. “Vamos melhorar o desempenho no transporte com os turistas. Antigamente, eles embarcavam pela areia, quando a maré estava baixa, tinha bastante lama. Agora, com o píer, vai ficar muito melhor, até pela amplitude. Como fomos capacitados, recebemos também muitas orientações que vão nos ajudar a melhorar o nosso trabalho e aumentar a nossa renda, ampliar o serviço. Mudamos o olhar em relação ao serviço que ofertamos, afinal, tivemos uma formação, de fato. Tudo isso é mais desenvolvimento para a região e estamos muito satisfeitos em ver acontecendo”, considerou.

Embora não tenha acompanhado a construção da Orla, a barqueira Jéssica Laine Souza encontrou no local uma fonte de renda. Por causa do serviço que executa há cinco anos, ela se mudou para o Mosqueiro.

“Como barqueira, posso dizer que as condições de trabalho melhoraram. Temos tudo regulamentado, organizado. Fora isso, temos a própria reforma do lugar que vai atrair mais turistas e, consequentemente, vamos ter a oportunidade de desenvolver o nosso serviço. Quando a Orla estava abandonada, lembro da sensação de frustração, de desgosto em ver tudo se acabando, bem diferente do que sinto, hoje, com tudo novinho. Nossas condições de trabalho estavam precárias. Antes, para embarcar, o pessoal se sujava de lama. Agora, com o píer, vai ter muita melhoria. É um sonho realizado”, ressaltou.

A reforma
Na revitalização do espaço foram investidos R$2,8 milhões, com recursos do Governo do Estado e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), dentro do Programa de Desenvolvimento do Turismo. À Prefeitura de Aracaju, caberá a regulação do transporte náutico na Orla e a fiscalização do uso da área, conforme decreto assinado pelo prefeito no início deste ano.

A obra de reforma da Orla Pôr do Sol envolveu a recuperação estrutural do atracadouro, instalação de defensas náuticas e cunhos de amarração; revitalização do painel artístico; recuperação da estrutura do totem metálico localizado na praça central de entrada da Orla, reforma dos banheiros dos bares e construção de dois novos banheiros externos que possibilitam acessibilidade para idosos e pessoas com deficiência.

Também foram feitas a recuperação dos telhados e pintura de todas as edificações da Orla, a recuperação de todo o passeio de concreto, a restauração do deck e guarda-corpos de madeira, a instalação de câmeras de segurança e chuveiros, a reforma do parque infantil, melhorias na iluminação pública e a instalação do atracadouro flutuante, além da recuperação do muro de contenção da Orla e instalação de argolas para ancoragem das embarcações menores.