Parceria entre Prefeitura e MPT insere alunos da rede no programa Jovem Aprendiz

"Espero que com esse dinheirinho minha filha possa comprar e ter suas coisas, crescer profissionalmente e poder pagar cursos para ela mesma. A gente é de família humilde, o pai é cadeirante e vendemos frango para sobreviver. Eles [os filhos] têm que ter o emprego deles para terem suas coisas. Alimentação não falta, mas tem os outros itens que eles precisam. Então, que dê tudo certo e que no final, que ela se forme e seja muito feliz", comenta Maria Aparecida, mãe da aluna Ana Carolina, recém egressa da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Sérgio Francisco da Silva, do bairro Lamarão, sobre inserção da menina no programa Jovem Aprendiz.

Através de articulação entre a Coordenadoria de Políticas Educacionais para a Diversidade (Coped) da Secretaria Municipal da Educação de Aracaju (Semed) e o Ministério Público do Trabalho em Sergipe (MPT/SE), 25 vagas para o Programa Jovem Aprendiz foram viabilizadas e oferecidas aos estudantes da rede municipal de ensino.

 

A seleção das escolas ocorreu vi edital divulgado às unidades de ensino que integram o MPT na Escola, projeto cujo objetivo é a qualificação profissional dos estudantes para o combate ao trabalho infantil.

Como pré-requisito do programa, são selecionados alunos do 9º ano ou que acabaram de concluir o ensino fundamental em uma das escolas da rede municipal de Aracaju. Além da Emef Sérgio Francisco, participaram da seleção alunos das seguintes Emefs: Jornalista Orlando Dantas e Oviêdo Teixeira, ambas localizadas no bairro Olaria; Juscelino Kubitschek, na Coroa do Meio; e Professor Laonte Gama da Silva, no Santa Maria.

Os estudantes contemplados para o programa já tiveram algum tipo de relação com o exercício ilegal do trabalho ou outro tipo de violência contra crianças e adolescentes. Além dessa característica, um critério utilizado para a inserção no programa é o bom desempenho escolar.

 

Selecionados, os jovens são encaminhados para a empresa contratante, que realiza todo cadastro junto ao MPT para inserir os alunos no programa. Estes jovens também deverão fazer cursos profissionalizantes ofertados através de parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).

O técnico da Coped/Semed, Heverton Ramon, explica que solicitou ao  procurador do Trabalho Raymundo Lima Ribeiro Júnior que alunos da rede municipal fossem indicados para seleção do Jovem Aprendiz, de modo a oportunizar a esse público uma primeira experiência no mercado de trabalho.

"Muitos desses alunos ingressarão no mercado de trabalho como aprendizes, mas de forma legal, e poderão até ser promovidos nas empresas para as quais serão chamados agora. Oportunidades como essa desenvolvem a autoestima dos alunos que, muitas  vezes, são a primeira pessoa da casa a ser inserida, de forma legal, no mercado de trabalho", evidencia o técnico da Semed.

Início de um sonho

Moradora do bairro Olaria e ex-aluna da Emef Jornalista Orlando Dantas, Yasmin Francisca, de 18 anos, já faz parte do Jovem Aprendiz e está há mais de um ano trabalhando em razão da parceria entre a escola, a Coped/Semed e o MPT.

 

Das 7 às 11h, a adolescente exerce a função de atendente na Biblioteca Pública Epifânio Dória. Antes desta oportunidade, ela trabalhou em dia a empreendimentos do ramo alimentício. No entanto, após um tempo percebeu que passou a não ter um limite de horário na sua rotina de trabalho.

"Do dia que comecei a me esforçar e vender espetinho na rua pensei 'meu Deus, vou trabalhar para conseguir ter minhas coisas e não pedir aos meus pais'. Hoje estou bem. A lanchonete onde eu trabalhava era uma prisão para mim, porque o único dia que eu tinha livre era uma terça-feira e ela passava tão rápido. Vi que aquele emprego estava me prejudicando em tudo, inclusive na minha sobrevivência. Achei que ia entrar em uma depressão e passei por muita coisa", relata Yasmin 

Nesta fase, ela passou a contar com o apoio da escola e da Coped/Semed, que fez do Jovem Aprendiz uma grande virada de chave em sua vida. "Eu era uma pessoa quieta, que não queria participar de nada. Mas a diretora da Emef em que estudava, Soray Dantas, foi um anjo na minha vida. Ela me ajudava e comecei a me comunicar melhor na escola. Isso me abriu portas. Estou amando meu trabalho e tenho aprendido muita coisa. Na última semana fui bastante elogiada porque sempre busco resolver o que estiver ao meu alcance. Quero ser o orgulho da minha família. Hoje estou para fazer o Enem e penso em fazer Direito", expressa.

A filha da Maria Aparecida também está dando mais um passo para um grande sonho seu. "Ana Carolina quer ser delegada, 'igual a dra. Katarina Feitoza', como ela diz. O pai se formou em Direito e está lutando para ser aprovado na Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB. Minha filha quase perdeu a vaga do Jovem Aprendiz porque o celular dela havia sido bloqueado, fazia muito tempo que não colocávamos crédito. Mas a coordenadora da Sérgio Francisco, Fabiana Araújo e Ramon, da Coped, ajudaram e conseguiram resolver. Fabiana não é uma coordenadora, é uma mãe. Um anjo que Deus colocou em nossa vida e o que ela pode fazer para nos ajudar, ela faz", explica Aparecida.

"Foram seis alunos da Emef Sérgio Francisco selecionados, agora, no Jovem Aprendiz, e Ana foi uma delas. Ela era uma das idealizadoras do projeto Papo de Meninas, realizado aqui na escola para dialogarmos sobre problemas sociais, e superou alguns desafios com o auxílio das nossas reuniões. Ela vai trabalhar pela manhã e estudar pela tarde, na rede estadual. Já conseguimos cadastrá-la no sistema, ela já ganhou o fardamento, já abriu conta no banco e está mudando a família inteira, principalmente a autoestima dela. Essa parceria da Semed com o Ministério do Trabalho é muito boa e a escola agradece. Estou muito, muito feliz mesmo", declara a coordenadora da unidade de ensino, Fabiana Araújo.