Escolas da rede recebem pesquisa da UFS sobre inserção de movimentos físicos em sala de aula

Educação
01/07/2022 13h51

Seis escolas da rede municipal de ensino de Aracaju participarão de uma pesquisa multidisciplinar, comandada por professores da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O 'Projeto Erguer' medirá os impactos positivos da inserção de movimentos e de atividades físicas na sala de aula, durante o processo de ensino.

Com o apoio da Secretaria Municipal da Educação (Semed), o  projeto  envolve os departamentos de Educação Física, de Psicologia e de Educação da UFS e será desenvolvido em escolas de Ensino Fundamental, com previsão de duração de quatro a cinco anos. Em 2018, o projeto foi implantado na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Oviêdo Teixeira, mas precisou ser interrompido em 2020 por conta da pandemia.
 
"Em 2020, já com os resultados preliminares da Oviêdo Teixeira, tínhamos a intenção de expandir o projeto para mais seis escolas porque vimos que tínhamos potenciais resultados positivos, mas que precisávamos aumentar a abrangência das escolas participantes para confirmar isso. Conseguimos observar que os alunos que foram submetidos à intervenção melhoraram o comportamento, se tornaram de fato mais ativos, e com algumas melhorias em aspectos cognitivos que podem estar associados à melhoria da aprendizagem, " revela o professor doutor Danilo Rodrigues, do Departamento de Educação Física e um dos pesquisadores que encabeçam o projeto. 

Com as intervenções propostas pelo Projeto Erguer, será possível avaliar as mudanças comportamentais e cognitivas dos alunos, alterando comportamentos tradicionais (aluno sentado, lendo livro e copiando os conteúdo do quadro no caderno) por atividades mais dinâmicas, como assistir parte da aula em pé ou utilizando jogos que incentivem o movimento durante as aulas.

"Queremos que o aluno seja mais participativo,  que se envolva dentro do processo, mas não apenas de forma cognitiva, como também fisicamente. Que através do movimento, seja potencializado esse processo cognitivo, que envolve, obviamente, mudanças na forma como as aulas são ministradas e como o professor interage com os alunos", explica o professor doutor Julian Tejada, do Departamento de Psicologia e que também integra o Projeto Erguer.

Segundo o professor Julian, será ofertada uma formação para os professores da rede que lecionam nas turmas que receberão as intervenções.

"Para que os professores não precisem criar novas atividades, o Departamento de Educação está oferecendo o que  chamamos de Baú de Atividades, para que eles possam selecionar atividades do seu agrado, que se ajustem ao que seria o plano que eles já haviam determinado", conta Julian. 

Além disso, um dos objetivos do projeto também é diminuir o tempo que os alunos passam olhando para telas de dispositivos móveis.

Intervenções

No total, seis escolas participarão da pesquisa, contando com cerca de 30 a 40 alunos do 1º ano por unidade, sempre com autorização prévia dos pais ou responsáveis. A ideia é que esses estudantes sejam acompanhados pelo projeto até o 5º ano do Ensino Fundamental. 

"O projeto funciona como um estudo de intervenção, que no meio científico chamamos de ensaio clínico. Acompanhamos as pessoas ao longo do tempo com avaliações do antes e do depois. Dessas seis escolas, duas vão fazer um tipo de intervenção, outras duas farão um outro tipo e as duas últimas são de controle. Estamos finalizando as avaliações individuais para saber qual a condição dos alunos no início do ano letivo e iremos iniciar a capacitação dos professores", explica Danilo.

As intervenções acontecerão duas vezes por semana, em dias em que não hajam aulas de Educação Física. Em duas unidades, serão realizadas atividades na sala de aula em que o movimento esteja incluso e que as crianças utilizem seus corpos para realizá-las. Já nas outras duas escolas, acontecerão as pausas ativas, em que atividades físicas serão realizadas em intervalos no horário das aulas, porém, sem, necessariamente, ter algum objetivo pedagógico.

"Na primeira,  o aluno tem que se levantar, se posicionar. Por exemplo, quando esteja trabalhando a alfabetização, tem que construir o formato das letras com seu próprio corpo. Nos casos das pausas ativas, o movimento acontecerá nessas pausas programadas para realizar também dentro do horário das aulas, mas sem objetivo pedagógico", conta professor Julian. 

Em 2018, o projeto foi contemplado no Edital Universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em 2019, os resultados obtidos com as intervenções na Emef Oviêdo Teixeira foram apresentados em um congresso internacional realizado na cidade de Praga, na República Tcheca. 

Para a realização, o projeto contará com seis estagiários disponibilizados pela Semed.

"No fim do ano, a nossa proposta é avaliar todas essas intervenções para saber como as crianças mudaram ao longo do ano letivo, se melhoraram em diferentes aspectos.  A ideia principal é de que a gente possa, no futuro, expandir esses resultados para uso de maneira muito natural em toda rede de ensino. Temos exemplos de países como a Finlândia e a Dinamarca em que os sistemas de ensino são todos ativos", destaca o professor Danilo.

"O apoio que a Semed deu ao projeto é fundamental. Nos reunimos com os seis diretores das escolas participantes, o secretário da Educação, Ricardo Abreu,  deixou claro o seu apoio e isso faz toda a diferença porque o projeto  vem a mudar um paradigma e uma situação que já está estabelecida nem sempre é desconfortável de mudar, porque podem surgir resistências. Mas quando temos o apoio de um órgão central, que é a Semed, e também dos diretores das escolas,  de alguma forma chegamos também aos professores. E esse projeto não tem outro interesse que não seja o retorno dos resultados positivos para a própria rede" complementa Danilo.