Logo após o show dessa 12ª noite de Forró Caju 2008, no palco Luiz Gonzaga, Clemilda fez questão de dar uma passadinha no camarim de Frank Aguiar e depois, com muita alegria, conversou com a equipe da Agência Aracaju de Notícias.
Com um largo sorriso e cantando um trecho de um folguedo que diz: "oi me diga quem vem lá, fumando charuto, ô me diga quem vem de lá", Clemilda proseou um pouco e falou sobre a carreira, a energia que tem para continuar cantando, mesmo após dois derrames cerebrais, e da felicidade pelo trabalho de mais de 40 anos ser reconhecido pelos sergipanos.
Agência Aracaju de Notícias - A senhora foi homenageada recentemente pela Aperipê TV com um especial chamado 'Todos cantam Clemilda', que foi ao ar no dia 23 de junho e teve a participação de diversos artistas cantando suas músicas, a exemplo de Genival Lacerda. Como a senhora se sente com uma homenagem desse tipo?
Clemilda - Muito feliz minha filha. Confesso que não assisti ao programa, soube, mas não consegui ver. Na verdade gosto de homenagens desse tipo, porque homenagem só presta aquelas que fazem com a gente viva, pois podemos ver, participar e sorrir, como estamos fazendo agora. Homenagem depois morta, lá pra dentro 'dos inferno' não me serve, a gente não vai ver nada mesmo (risos).
AAN - A senhora teve sérios problemas de saúde que inclusive lhe deixaram seqüelas, mas nem por isso deixou de cantar e de dançar. De onde tira tanta energia?
Clemilda - É verdade! Há três anos e três meses tive dois derrames, mas não paro de cantar e de dançar para não dar o gosto a ele, para não dar ousadia, morou?
AAN - A senhora ficou conhecida por compor músicas de duplo sentido. Isso se tornou uma marca registrada?
Clemilda - Tornou-se sim. Por várias vezes estive ou estou no palco e escuto alguém dizendo, cadê o Tadeu? Ou então, cadê o talco no salão? Isso é muito legal, até porque o nome de talco do salão não é esse, e sim, ‘Forró cheiroso' e o Tadeu é uma composição que fiz e que estourou quando já tinha 19 anos de carreira e com discos gravados, afinal de contas comecei minha carreira em 1964, no Rio de Janeiro.
AAN - A senhora também foi a homenageada no IV Fórum do Forró, promovido pela Prefeitura de Aracaju em 2004. Já em 2008 participou da homenagem feita a Dominguinhos. O que foram esses dois momentos para a senhora?
Clemilda - Foram momentos especiais. Dominguinhos é um grande amigo meu, da época que morei no Rio de Janeiro. Na verdade o conheço há 40 anos, ele foi o sanfoneiro do meu primeiro LP. Quem me acompanhava era Gerson Filho, mas na hora de gravar dava problema porque a sanfona dele era do tipo pé de boi, o que me dava dificuldade em algumas músicas, porque tinha momentos que precisava cantar mais alto, em outros, mais baixo. Então Dominguinhos me acompanhou nuns dois ou três LPs. Nesse tempo de estrada muita gente boa já me acompanhou, como Caçulinha, Zé Cupido, Robertinho do Acordeon e Oswaldinho, que tocou comigo por uns 20 anos.
AAN - Então a homenagem a Dominguinhos este ano, no Fórum do Forró, foi o reencontro de velhos amigos?Clemilda - Foi sim, foi um ótimo reencontro, uma homenagem que iria de novo se acontecesse hoje ou amanhã.
AAN - A senhora é alagoana de nascimento e sergipana de coração. Qual a importância desse Estado na sua vida?Clemilda - Falar de Sergipe é muito interessante e sempre bom, porque foi aqui que minha carreira deslanchou, que o ‘Prenda o Tadeu' estourou, ficou conhecida no Brasil todo, ultrapassou fronteiras. Se bem que antes disso uma outra música minha já fazia sucesso por aqui. Naquela época eu e Gerson ainda morávamos no Rio de Janeiro e viajávamos muito para Recife. Por conta do sucesso dessa música, que falava de um rodero novo, passamos sete meses direto aqui, então decidimos ficar de vez. Foi aqui que minha carreira ganhou embalo e é aqui que vou ficar até o fim.
AAN - Seu programa ‘Forró no Asfalto' é um sucesso. A que se deve isso?
Clemilda - É verdade, esse programa existe no rádio há 34 anos e na TV Aperipê há mais de 20, foi desde o início da televisão, começamos juntos. ‘Forró no Asfalto' é um programa bem feitinho, que é bem cuidado pelos diretores dessas emissoras e que as pessoas gostam.
AAN - Seu filho, Robertinho dos oito baixos, toca contigo nos seus shows, sem falar que ele tem ganhado a cada dia mais notoriedade nesse mundo musical. Como a senhora se sente vendo seu filho fazendo sucesso?
Clemilda - Feliz minha filha, bem feliz. Se bem que as pessoas o chamam de Robertinho, mas eu, de o garoto do ‘tchan', porque toda vez que ele começa a tocar é um tal de dançar, de rebolar, mais parece o garoto do tchan (risos).
AAN - A senhora é presença cativa no Forró Caju e este ano seu nome foi batizado no palco do ‘Arraiá do Povo', na Orla de Atalaia. O que isso representa em sua carreira?
Clemilda - O reconhecimento, a prova de que tenho o carinho das pessoas, e por isso, só tenho que agradecer ao prefeito Edvaldo Nogueira, ao governador Marcelo Déda, a Fernando Montalvão e Mônica (Funcaju), por estarem sempre lembrando de mim, ajudando a mim e aminha família. Apesar de não nos vermos todos os dias, de não estarmos juntos sempre, os considero grandes amigos e sei que eles também a mim. Hoje já não faço mais shows por esse mundo afora, fico somente aqui, na Orla e no Forró Caju, porque a doença já não me permite ir muito longe. Se viajo para longe começa a me dar umas ‘bilouras' e adoeço, então, acabo recusando convites e me apresentando somente nesses dois eventos.