Revitalização dos mercados completa 10 anos

Agência Aracaju de Notícias
27/07/2010 11h27

Por Najara Lima

Uma favela a céu aberto que abrigava mais de cinco mil pessoas em um dos locais mais nobres da cidade de Aracaju. É dessa maneira que a arquiteta Ana Libório descreve os mercados centrais e seu entorno até o final da década de 1990. Ela via beleza onde havia ruína e tinha vontade de, senão mudar aquele cenário, ao menos estudar aquele local.

Na época, meados de 1987, a arquiteta formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fazia em Salvador uma especialização em Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos. Para concluir o curso, Ana decidiu desenvolver, em sua tese, uma proposta de revitalização do Mercado Municipal de Aracaju.

"Naquela época, as pessoas costumavam dizer que Aracaju não tinha nada de patrimônio, que era uma cidade muito nova, que isso só existia em São Cristóvão. Foi então que comecei a pesquisar sobre esse assunto e levar para estudar no curso", conta Ana.

O objetivo era resgatar a paisagem urbana e arquitetônica tradicional do comércio do início do século XX e, assim, recuperar um dos pontos mais simbólicos de Aracaju, que vivia o início de um processo de abertura turística.

Problemas

A partir da observação e do estudo da área, a arquiteta Ana Libório constatou que era preciso encontrar uma solução para os mercados centrais de Aracaju. "Aquilo parecia um set de cinema, com muito engarrafamento, carroças. Os produtos eram vendidos no chão, formando o que era conhecido como a ‘feira da lona'", lembra.

Havia na área, além dos mercados centrais, uma série de construções que constituem o acervo ou patrimônio histórico da cidade, como a Associação Comercial de Sergipe e o Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Isso sem falar na confusa rede de barracas feitas de alvenaria e madeira, que se espalhavam no entorno dos mercados.

A ocupação irregular dificultava o trânsito e a circulação de pedestres e degradava uma das áreas urbanas e ambientais mais belas da cidade. "Naquela época, os prédios dos mercados ficavam vazios e o povo ocupava as ruas. Na Rua Santa Rosa, por exemplo, não passava nenhum carro, só tinha a feira", relata a arquiteta.

Soluções

Um conceito avançado foi utilizado para dar conta da revitalização da região. A ideia era utilizar o que já existia na área, ao invés de destruir tudo. Para tanto, Ana Libório estudou soluções que fossem condizentes com as necessidades e as condições econômicas locais, e pensou também em uma estratégia eficaz para a locomoção das pessoas.

O estudo da região foi desenvolvido entre os anos de 1987 e 1990. Em 1992, a arquiteta e sua equipe foram contratadas pela Companhia Estadual de Habitação e Obras Públicas (Cehop) para executar o projeto de restauro do local. Eles passaram um ano projetando, a obra começou a ser feita em 1997 e, no dia 15 de setembro de 2000, foi entregue à população aracajuana um novo mercado.

"Nós planejamos fazer a obra toda em etapas, para que o comércio não precisasse ser fechado e as pessoas tivessem que sair do local", afirma Ana. Por isso, primeiro foi feita a construção do Mercado Albano Franco, que foi concluído em 1998 e surgiu da necessidade de ampliação da área dos mercados. Na construção, foram aproveitados dois galpões abandonados, o antigo Moinho Sergipe e o Armazém do Trigo.

O Mercado Albano Franco passou, então, a comportar o setor de frigorífico e o hortifrutigranjeiro, constituindo um autêntico shopping popular da economia informal. No projeto, foi incluída também uma praça de eventos. "Na época, o Forró Caju acontecia na Fausto Cardoso, mas a festa acabava degradando bastante a praça. Essa solução foi pensada no sentido de preservar o local", diz a arquiteta.

Estilos

Ana Libório descreve a área dos mercados centrais como um livro vivo de arquitetura. Ela conta que, no local, podem ser vistos diferentes estilos arquitetônicos, formando juntos um conjunto bastante harmônico.

"O estilo eclético, muito comum nos primeiros anos de existência de Aracaju, pode ser visto no prédio do Mercado Antônio Franco, que possui a torre do relógio no pátio interno", afirma ela. Já o Thales Ferraz obedece ao estilo neocolonial, com um grande pátio externo, arcadas e um alpendre. O Albano Franco, que possui uma estrutura bastante diferente dos demais, é baseado no modernismo.

Na obra, levada a cabo com a utilização de materiais convencionais, optou-se pelo jateamento e substituição de parte do reboco original das edificações, que foi refeito com concreto. A equipe de arquitetos liderada por Ana decidiu manter o amarelo-ocre da caiação do Mercado Antônio Franco, sendo que os frisos e elementos decorativos foram pintados de branco-neve, obedecendo ao estilo eclético.

Outros prédios

Conforme conta Ana Libório, o projeto de revitalização dos mercados centrais de Aracaju possuía uma série de desdobramentos. "Havia prédios no entorno que também precisavam de restauro, como a Associação Comercial de Sergipe e o do GBarbosa", cita.

A necessidade de restaurar outras construções levou a equipe de arquitetos a se debruçar também sobre os dois prédios mencionados, além do edifício Macêdo e do antigo Colégio Nossa Senhora de Lourdes. De acordo com Ana, esse trabalho fez com que a memória e a qualidade ambiental do local fossem resgatadas, possibilitando à população um reencontro com o passado.

Áreas como a Rua Santa Rosa, onde antes havia apenas uma feira, ganharam nova vida, com o redirecionamento do fluxo de pedestres e a transferência de todo o comércio para a área do Mercado Albano Franco. No mesmo sentido, foi feita uma interligação entre os mercados e o terminal de integração, além da construção de estacionamentos para carroças e caminhões de carga.

De acordo com Ana Libório, essa foi uma obra muito grande e complexa, que ela considera ter sido a solução ideal para aquela área. "Os prédios do Centro da cidade são lindos e a obra realizada é maravilhosa. O aracajuano precisa atentar para a beleza e a importância dessa área como equipamento fundamental para o turismo em Aracaju", enfatiza a arquiteta.

Futuro

No mês de junho, num evento que contou com a presença do Ministro da Cultura, Juca Ferreira, e do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, assinou a participação da capital sergipana no Plano de Ação das Cidades Históricas - PAC Cidades Históricas.

Lançado no mês de outubro, o programa é uma ação voltada aos municípios com conjunto ou sítio protegido no âmbito federal e, ainda, a cidades com lugares registrados como Patrimônio Cultural do Brasil.

Segundo o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, apesar de nova, Aracaju possui um patrimônio histórico e cultural importante e que precisa ser preservado. "Através do PAC Cidades Históricas, daremos continuidade ao trabalho de revitalização e preservação do patrimônio histórico e cultural que vem sendo realizado na cidade há mais de dois anos", ressaltou.

Ainda de acordo com ele, o investimento é de extrema importância para a capital sergipana, que terá recuperado um dos seus conjuntos arquitetônicos fundamentais. "É preciso mobilizar a sociedade aracajuana para preservar e cultuar o patrimônio que Aracaju já possui, que inclusive é um importante atrativo turístico da cidade", afirma Edvaldo.

A capital sergipana deve receber um total de R$ 100 milhões a as ações previstas no PAC Cidades Históricas devem estar totalmente concluídas até 2013. Os investimentos serão destinados para a recuperação de prédios e conjuntos arquitetônicos tombados e para a promoção do Patrimônio Cultural como um todo na cidade de Aracaju. As obras na cidade devem ser iniciadas no edifício da Antiga Alfândega, que vai abrigar o Centro de Cultura da cidade, com previsão de recursos em torno de R$ 3 milhões.

 

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