Preço baixo e variedade são atrativos do mercado

Agência Aracaju de Notícias
28/07/2010 11h03

Por Arthuro Paganini

No Mercado Municipal Albano Franco, atrás de cada balcão, escondida entre frutas e legumes ou perdida em meio ao emaranhando de calçados, há uma história de trabalho e sucesso. As vozes que anunciam os preços, o convencimento da clientela, a simpatia, a exposição dos produtos e a famosa pechincha dão vida ao mercado e são características próprias de uma cultura que movimenta a economia local e garante a sobrevivência de milhares de feirantes.

A diversidade de alimentos e outros produtos encontrada no mercado é o que mais chama a atenção dos frequentadores. São cereais, hortaliças, frutas, peixes e frutos do mar, além das bugigangas expostas em abundância para atrair compradores. Acessórios de couro, brinquedos, redes, vasos e esculturas de cerâmica, flores, animais, livros, violeiros, quituteiras, feirantes e cordelistas convivem em harmonia e intensidade.

As possibilidades oferecidas pelo mercado na oferta de bens e serviços são inúmeras. "É um espaço democrático, onde pessoas de várias classes sociais estão presentes", diz o economista Ricardo Lacerda, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). "Nenhum supermercado possui a diversidade de produtos oferecidos nas feiras. Esse é o grande diferencial e o que preserva o mercado como um local de suma importância para a economia em Aracaju", acrescenta Lacerda.

A análise técnica do economista sobre a dinâmica dos mercados reflete a riqueza do local e parte de referências pesquisadas ao longo de anos de estudo sobre economia. "O mercado é um organismo econômico muito importante para a cidade de Aracaju", enfatiza. "As feiras continuam respondendo pela maior parte do escoamento de alimentos produzidos no campo. Isso revela uma enorme cadeia produtiva que permite o desenvolvimento da agricultura familiar. É uma articulação muito bem definida entre o que é produzido e o que é fornecido", explica o economista.

Cativando a clientela

A interação entre clientes e vendedores também faz parte da diversidade, uma lição simples de como conquistar a freguesia, facilitando a escolha do produto e revelando a confiança na procedência do produto. "Tenho clientes fiéis aqui. Sei o que eles querem, quanto vão comprar e isso já ajuda bastante nas vendas", afirma a feirante Fabiana dos Santos.

A história de Fabiana como comerciante no mercado começou há quatro anos, quando surgiu a oportunidade de frequentar um curso de técnica de enfermagem. "Eu precisava pagar o curso e resolvi comprar uma banca de cereais para ter uma renda", explica. As aulas ajudaram a feirante não só com a certificação profissional, o que lhe rendeu um emprego no Hospital Cirurgia, mas também para a organização e exposição das mercadorias.

"Aprendi com meus estudos sobre a importância de manter a limpeza de todos os locais e apliquei isso na minha banca. Esse é meu diferencial, pois o cliente vem aqui e percebe que está tudo certo. A preferência acaba ficando para mim", relata a comerciante, que divide seu tempo entre feirante e a profissão de técnica de enfermagem. "Aqui no mercado o cliente sai satisfeito. Tudo é mais barato e mais fácil de encontrar", frisa.

Preço e variedade

Na banca de Fabiana, assim como em outros pontos do mercado, é possível encontrar diversos tipos de grãos, como feijão, milho e arroz, além de outros alimentos. O quilo do feijão, que chegou a custar R$ 4, está sendo vendido em média por R$ 3 neste mês de julho. "O valor vai depender da qualidade e procedência da mercadoria. Quando o valor da saca fica mais em conta, a gente também repassa isso para o comprador", garante Fabiana.

A renda mensal dos feirantes no Mercado Municipal de Aracaju varia de acordo com o tipo de comércio. Com uma média de R$ 700 a R$ 800 mensais de lucro, Fabiana revela não querer largar o cotidiano do mercado. "Não dá mais. Quero passar minha banca para os meus filhos e penso em ampliar meu comércio. Nem todo mês lucramos o mesmo valor, mas é uma renda que ajuda muito", afirma. "Bom mesmo é em período de festa, como o São João, que o lucro chega a mais de R$ 1.000".

Empreendedorismo

O mercado não é apenas um local para a venda de alimentos, como frutas, legumes e carnes, é também um espaço para a comercialização de roupas e acessórios. O espírito empreendedor é uma das peculiaridades dos vendedores, como é o caso de Seu Pereira e Sandra Maria Lemos, casal conhecido entre os feirantes como proprietários da loja Pereira Calçados.

Sandra Maria Lemos lembra cada detalhe da sua história como comerciante de calçados, que já dura 10 anos. "Começamos a vender sapatos e sandálias sem grandes pretensões", disse. "Com o tempo as nossas vendas foram aumentando e conseguimos poupar dinheiro", revela Sandra, que foi incentivada pelo irmão, também da área de calçados.

O trabalho como comerciante rendeu a Sandra a capacidade de evitar o desperdício e a economizar. "Pra gente isso foi ótimo porque em alguns anos a procura por calçados foi excelente e decidimos aumentar nosso negócio", conta. "Quando chegamos no mercado só tínhamos um box para colocar centenas de pares de calçados. Com o tempo conseguimos comprar outro box e ampliamos o espaço. Hoje são duas lojas, cada uma ocupando a área de seis boxes", comemora Sandra.

Formalização

Atualmente cinco funcionárias trabalham na loja. "Todas com carteira assinada e tudo o que for de direito", frisa. O crescimento econômico do negócio foi tão grande que foram abertas as vendas para cartões. "A gente vendia tudo à vista, mas aí surgiu a oportunidade de começar a vender com cartões e hoje trabalhamos com quatro tipos de crédito. O cliente não pode dizer que não tem como comprar", diz.

Sandra dedica parte do tempo às vendas e também atua como funcionária do Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE). Na loja de calçados o cliente pode encontrar produtos que variam entre R$ 5, como sandálias, e R$ 80, como os sapatos mais modernos. "A renda que tenho aqui é muito boa e não dá pra largar. Em venda bruta somamos mais de R$ 20 mil por mês", destaca.

"Nós conseguimos aproveitar a oportunidade. O mercado é um grande comércio, pela quantidade de pessoas que passam aqui e pela facilidade de vender os produtos. Fizemos o melhor com o dinheiro, ajudando os nossos quatro filhos a continuarem estudando, e também regularizando a nossa loja, pagando em dia os funcionários, cumprindo os compromissos com os fornecedores e atendendo bem o cliente", acrescenta.

Interação

"Tem gente que vem aqui com R$ 10 e quer sair levando uma compra de R$ 20", conta a vendedora de verduras Vânia dos Santos. As relações econômicas criadas pelo mercado começam na interação entre compradores e vendedores. De um lado a oferta, e de outro a procura. "Cada um faz o que pode pra vender, chamar a atenção do cliente. Sempre que uma pessoa passa perto da banca eu grito alguma promoção. É sempre assim", diz.

Vânia explica que aproveita a redução de preço dos produtos para anunciar, aos gritos, a promoção. "O tomate, que antes a gente vendia por R$ 2 o quilo, está por R$ 1. A cebola tá custando R$ 2, a batata R$ 1,50. A gente tem que aproveitar pra vender", informa. "Tem muita coisa barata no mercado e ainda tem gente que pechincha, pede um desconto ali, outro aqui. Os clientes choram muito, mas a gente sempre acaba vendendo", acrescenta.

Pechincha

A famosa pechincha é uma marca registrada no mercado. Na banca de Maria Jacira Alves, comerciante local há 9 anos, o freguês encontra ovos, bananas, mamão, abacaxi, laranja, maracujá, melancia, limão e coco. "O produtos que temos mais barato hoje é a laranja e o maracujá. O cento da laranja está por R$ 9 e o do maracujá por R$ 8", anuncia.

"O preço da maioria das frutas está mais baixo. O abacaxi sai por R$ 1,50 e a banana por R$ 2", divulga Jacira. "Tudo aqui é barato. O cliente pechincha tanto que às vezes chego a não ter lucro na venda. Assim não dá", diverte-se a vendedora ao contar histórias de já viveu no dia a dia do trabalho.

Sobre a pechincha o economista Ricardo Lacerda é enfático. "Um dos atrativos do mercado é o relacionamento com a freguesia", diz. "A pechinha, ou barganha, é uma tradição antiga, da Idade Média, e que permanece até hoje. Diferente dos supermercados, onde os preços são rígidos, nas feiras é possível negociar e conseguir um preço mais barato sobre as mercadorias", finaliza.

 

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