Pedagogia Waldorf inova o ensino em escolas da rede municipal

Educação
06/06/2018 19h08

Há cerca de um mês a Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal da Educação (Semed), inaugurou a segunda instituição pública de ensino no Brasil a trabalhar a pedagogia Waldorf, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) José Souza de Jesus, localizada no bairro 17 de Março. Sua vizinha, a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Doutor José Calumby Filho, foi a brasileira pública pioneira e ambas estão oferecendo uma metodologia de ensino baseada não somente no desenvolvimento do pensar, mas também no do sentir e agir de cada criança.

No conceito Waldorf, o ensino tem como prioridade a educação do ser humano como um todo, e não apenas aquela abordada nos conteúdos didáticos de ensino tradicional. A coordenadora pedagógica da Emei Doutor José Calumby, Emmanoela Melo, explica que o planejamento pedagógico é feito de acordo com as estações do ano, as principais datas comemorativas e, além disso, a arte está posicionada como um importante componente curricular. 

“A aplicação dessa pedagogia traz um olhar mais humano para o aluno. Todas as semanas há aulas de trabalhos manuais, jardinagem, culinária, leitura de contos, rodas de conversas e repetição de versos, que podem ser oração ou frases motivadoras”, afirma a coordenadora da Emei.

Na prática

A professora da Dr. José Calumby, Mayra Araújo, é considerada pelos seus colegas como uma entusiasta da Pedagogia Waldorf. Em um só dia, os alunos leram e repetiram poema de Ruth Sales e visitaram um milharal cultivado na própria escola, trabalhando o inverno e o período junino. Para ela, a principal proposta ao exercer o conceito em sala é enxergar e respeitar os alunos e os momentos que cada um está passando.

“Depois que comecei a trabalhar com a pedagogia Waldorf minha visão sobre ensinar mudou. Sinto cada um de uma maneira, o que meu aluno está passando, se tem mais dificuldade para aprender. Sem falar que mesmo avançando a série eu os acompanho, continuo sendo a professora e isso faz com que nosso ritmo de ensino e aprendizagem tenha continuidade e se fortaleça. O fato de trabalhar com os projetos de acordo com a época também é muito interessante para mim e para eles”, elenca a professora.

Assim como a Emei, a Emef José de Souza tem, ainda, características peculiares, como salas específicas para aulas de musicalização e pintura, a prática de meditação e várias salas em que os professores trabalham com as crianças organizadas em dupla, grupos ou um círculo. A diretora da Emef, Marpessa Dávila, conta que a maioria dos alunos vieram de escolas tradicionais e que no início, tanto elas como os pais estranharam a metodologia, mas agora se mostram encantadas pelas atividades e cada vez mais interessadas em participar.

Segundo ela, a maior diferença da Waldorf para as outras escolas é o olhar mais humano para, principalmente, as crianças com faixa de idade até sete e quatorze anos – o que chamam de primeiro e segundo setênio. Marpessa explica uma das ferramentas utilizadas em sala. “O desenho de formas é um dos instrumentos da Waldorf utilizado por nós. Consiste em desenhos de formas geométricas para desenvolver a concentração, os movimentos necessários nas escritas cursivas e demais habilidades úteis para a criança. Mas, com tudo isso ainda aprendem a ter mais segurança interior, o que ajuda no poder de decisão”, detalha.

A estudante da Emef, Ane Gabriela Oliveira, de 10 anos e cursando o sexto ano, descreve como está sendo sua experiência como aluna da pedagogia Waldorf. “Eu me sinto com mais vontade de estudar, mais motivada. Na escola que eu estudava antes a gente não tinha tempo livre, não tínhamos aula de música, artes, nada disso. Todo os dias, quando chegamos, nos sentamos de coluna reta, deixamos as pernas livres e meditamos um pouco. Vejo diferença porque a gente abre muito bem a mente para aprender, para estudar. E a professora não fala 'ah, você errou', 'está errado', ela conversa e nos mostra como podemos estudar para acertar”, conta.

Importância das artes

A professora de artes da Emef José Souza, Maria Aparecida Dias, faz um aprofundamento sobre a importância das artes às crianças na escola. “A arte não é uma brincadeirinha, mas algo muito sério. Não é fazer arte apenas para enfeitar a parede, mas para educar o coração, a demanda emocional. Há uma voz dentro de cada um que fala consigo mesmo, é a consciência. E antes dos pais, professores, ou quem quer que seja, as escolhas de cada um são feitas levando-se em conta essa voz, que as artes trabalham e educam. Se você tiver com mais três amigas e eu te pedir para desenhar uma cadeira, vou ter quatro cadeiras diferentes. Porque cada qual é de um jeito e vê o mundo de um jeito. E a criança só experimenta a si mesmo, quando sai do que é exato e objetivo, para uma ampliação de possibilidades”, explana.

Maria Aparecida pontua que todas as artes são aplicadas dentro do que é exigido pelo Ministério da Educação (MEC) e fala com mais detalhe do que é trabalhado em sala de aula. “Quando eu passo uma aula sobre aquarela, por exemplo, estou na educação das emoções, porque o trabalho com as cores fala sobre expressão, assertividade e calma. Também fazemos trabalhos manuais, ajudando na concentração. Não é fácil ser crianças e assim elas aprendem melhor a ler, a escrever, ajuda a entenderem o pensamento e enaltecer sua individualidade para o mundo”, ressalta.

 “Não formamos só médicos, pintores, costureiros e engenheiros, mas pessoas, seres humanos que exercem a medicina, a pintura, a costura ou a engenharia, e que compreendem melhor o outro e o mundo a sua volta. São alunos que aprendem os conteúdos didáticos, mas que também aprendem a ter mais responsabilidade, organização e respeito. No mundo das letras e dos números são áreas muito importantes, e essas crianças vão ter mais vontade de aprender, destreza, um olhar mais poético em relação às palavras, exatidão para lidar com números", complementa.