Conferência da Assistência Social é marcada por participação de trabalhadores e usuários do Suas

Assistência Social e Cidadania
07/07/2023 17h47

Esta sexta-feira, 7, foi o momento crucial para a 14ª Conferência Municipal da Assistência Social, realizada pelo Conselho Municipal de Assistência Social, em parceria com a Prefeitura de Aracaju. Com a realização da palestra magna, entidades, trabalhadores e usuários do Sistema Único da Assistência Social (Suas) debateram a “Reconstrução do Suas: o Suas que temos e que queremos”. Ao final, foram definidas as 20 propostas que serão levadas para a Conferência Estadual e eleitos os 12 delegados, sendo seis governamentais e seis da sociedade civil.

Durante a programação de encerramento da Conferência, foi realiza a mesa de apresentação das propostas recebidas durante as pré-conferências, com a participação de professores doutores de Universidades Federais, grupos de trabalhos para discussão dos cinco eixos propostos pelo Conselho Nacional de Assistência Social, plenária final e eleição de delegados para a etapa estadual.

“Hoje chegamos no maior momento da nossa conferência, que foi a discussão sobre as propostas dentro dos cinco eixos que foram definidos pelo Conselho Nacional. Contamos hoje com um convidado de fora, que foi o professor doutor Edval Bernardino, que possui um amplo histórico de luta, de militância na área da assistência social. Ao final da mesa e dos grupos de discussões, selecionamos as deliberações que na plenária final foram eleitas para compor o relatório do município para a Conferência Estadual. Foi um momento muito importante e o pico das discussões”, explicou a presidente do CMAS, Cristiane Ferreira.

O professor doutor da Universidade Federal do Pará Edval Bernadino Campos, responsável por conduzir a palestra magna e participar da mesa de debates das deliberações, destaca que esse momento de conferências é de reconstrução do Brasil e da Assistência Social e, para isso, é preciso compreender criteriosamente o que foi destruído, fazendo um trabalho de identificação.

“Não podemos reconstruir o Suas, depois de tanto tempo para que ele volte para o mesmo lugar. É preciso compreender que esse período de desconstrução, associado aos efeitos da pandemia,  traz para a assistência social novos desafios que se somam aos desafios históricos, e portanto o Suas precisa ser reconstruído e aprimorado. O objetivo dessa conferência é devolver a sociedade a oportunidade para, participando desse debate, apontar para onde deve ir a assistência social do Brasil”, destacou.

Participação dos trabalhadores do Suas
Para a educadora social Vanessa Barreto, que é servidora da Assistência Social há 13 anos e atualmente ocupa a coordenação da Vigilância Socioassistencial, a engrenagem da política pública de assistência social depende diretamente de diferentes frentes, pois não é possível falar de gestão sem falar da atuação do trabalhador e da interlocução da rede socioassistencial. Ela diz que é um momento de concentração de todos os agentes da política pública para discutir questões essenciais que darão um norte para os próximos anos na execução da política.

“É indispensável a participação do trabalhador nesse momento, porque a gente compreende que esse fazer é continuado, a política pública é de estado e não de governo. Precisamos compreender, principalmente após todo o desmonte ocorrido nos últimos quatro anos, como estávamos e o que a gente quer alcançar com as novas possibilidades que estão vindo com o novo formato de reconstrução trazido pelo Governo Federal”, diz.

Assistente social do município há 13 anos, Érica Vieira dos Santos atua no Abrigo Acolher, no âmbito da Proteção Social Especial. Para ela, a conferência é essencial para o funcionamento pleno da política socioassistencial, afinal, destacou, para atender aqueles que vivem em uma situação de vulnerabilidade e para que os profissionais consigam atuar de maneira efetiva, é necessário que a política da assistência social esteja fortalecida.

“O retorno das conferências é fundamental para qualificar os serviços, debater propostas, protagonizar os usuários para que de fato eles possam expor as ideias e com a participação dos trabalhadores e gestores do Suas. A reconstrução e o fortalecimento do Suas é importante tanto para a proteção básica quanto especial. Quanto mais fortalecido for esse serviço, o usuário conseguirá superar a situação de vulnerabilidade. O serviço deve ser prestado com qualidade, com os direitos respeitados e o direitos de nós trabalhadores também, é uma via de mão dupla, a gente precisa estar bem enquanto trabalhador para oferecer o melhor serviço para o nosso usuário”, afirma.

Entidades
Representando o Same – Lar de Idosos Nossa Senhora da Conceição, organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua no acolhimento institucional de alta complexidade para pessoa idosa, a assistente social Nádia da Silva Santos Costa diz que foi uma oportunidade de fazer jus ao tema da conferência, pois toda a instituição sofreu muito com a pandemia, com o desmonte e desfinanciamento da política do Suas.

“Participar da conferência foi uma oportunidade de trazer propostas e fazer com que essas coisas realmente se efetivem e de fato aconteçam para melhorar o Suas no âmbito de todas as entidades. Enquanto instituição, enquanto gestão, é uma forma de mostrarmos o que a gestão pode propor para as entidades, principalmente para os usuários, para os trabalhadores do Suas, é uma forma da gente fortalecer e lutar pra que possa melhorar. Existe toda uma rede socioassistencial que fortalece as entidades, a parceria município e entidade acontece e é realmente positiva”, pontua.

Usuários
Usuária do Cras Carlos Fernandes, Lizânia de Jesus santos participou da conferência como representante da sociedade civil e uma das suas propostas no evento é que os atendimentos no Cras sejam ampliados para os jovens da comunidade.

“Pude propor melhorias para os jovens, porque pra mim a base do futuro são os jovens. O Cras faz muitas vezes o papel de pai e mãe, justamente pela ausência dos genitores no dia a dia dos filhos. Essa reconstrução irá ajudar não só os jovens, mas aquelas pessoas em situação de vulnerabilidade, com parcerias, projetos que infelizmente nos últimos anos foram desmontados em todos os aspectos”, conta.

Representando a população em situação de rua, Cleiton de Oliveira relata que, na oportunidade, registrou propostas voltadas à área trabalhista e de educação que beneficiem especificamente a população em situação de rua atendida nos equipamentos de referência do município.

“Faço parte da cultura hip hop há mais de 20 anos e naquela época criamos uma lei municipal voltada para essa cultura. Da mesma forma, achamos importante a criação de uma lei municipal trabalhista para que as empresas deem oportunidade aos usuários do Centro POP. Outra proposta se refere à educação, quando a gente vê o Suas pensando nessa saída, isso nos traz dignidade e isso nos abre para outros espaços. Estou como representante da população em situação de rua desde 2015, quando trouxemos para Aracaju o Coletivo A Rua. Estamos trazendo diversas propostas, para que no futuro venhamos tirar outras pessoas da rua”, diz Cleiton.