Prefeitura dá início à terceira edição do projeto Ilé-Iwé

Educação
21/08/2023 16h14

Com o objetivo de promover a reflexão acerca da Lei nº 10.639/2003, que inclui história e cultura afro-brasileira nos planos de aulas das escolas, a Prefeitura de Aracaju deu início nesta segunda-feira, 21, à terceira edição do Projeto Ilé-Iwé, idealizado pela Secretaria Municipal da Educação (Semed).

O Ilé-Iwé faz parte do projeto Aracaju sem Racismo e, para a sua realização, conta com o apoio da Coordenadoria da Promoção de Igualdade Étnico Racial (Copier) do Ministério Público de Sergipe (MPSE), da Secretaria de Estado da Educação e Cultura (Seduc), e das Secretarias Municipais de Educação dos municípios de São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro, além do apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS), através do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neabi) e do Movimento Negro Unificado (MNU).

Tendo como público-alvo professores e gestores escolares de todas as redes de ensino envolvidas, perpassando pela Educação Infantil,  Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA), a abertura aconteceu no auditório do Ministério Público. A programação contou com as conferências "A colonialidade do currículo como estratégia de produção do racismo", com o professor Evanilson Tavares; e As diversidades étnico-raciais percebidas através do Giro Sergipe, com a jornalista Ane Samara; e o lançamento do livro 'A Gazeta de Sergipe como aliada da banalização da violência de raça e de classe em Sergipe (1959 a 1979)', do professor Roberto Amorim.

No total, 220 profissionais da Educação se inscreveram no projeto, sendo 86 da rede municipal de ensino de Aracaju. Elaborado com discussões importantes sobre o atravessamento do racismo entre os estudantes e toda a comunidade escolar, o secretário municipal da Educação de Aracaju, Ricardo Abreu, que representou o prefeito Edvaldo Nogueira, reforçou a essencialidade e o poder de efetivar projetos como o Ilê-Iwê.

“É um projeto que tem uma ação estratégica. Estratégica porque nós somos uma rede de uma capital que reconhece a sua capilaridade e a sua presença na periferia do nosso município. Visitando nossas escolas, sejam elas de educação infantil ou ensino fundamental e EJA, nós percebemos a prevalência de crianças negras e pardas dentro do nosso contingente educacional. Nós já avançamos em alguns pontos, mas enquanto houver um centímetro de preconceito, um centímetro de exclusão nesse país, a força e o trabalho dos professores é  necessária. Para nós, é uma honra muito grande ser a cabeça do projeto e contar com esses parceiros tão importantes”, declara o secretário.

Coordenadora de Políticas Educacionais para a Diversidade (Coped) da Semed, setor responsável pela idealização do projeto, Analice Marinho destaca que é preciso ir além da obrigatoriedade, pois se faz necessário discutir frequentemente e de forma prática as relações raciais no âmbito educacional. 

“O evento é para que os professores passem a cumprir plenamente a lei, mas o grande objetivo é discutir sobre a educação, as relações raciais e sobre a sua importância. Esta é uma formação para que eles possam apresentar essa lei nas suas escolas. No segundo encontro, os professores vão explicar como eles fazem, de que forma podem colocar a lei em prática e, assim, no terceiro momento, vamos ter apresentação de práticas exitosas", explicou Analice.

"É uma obrigatoriedade, mas queremos mostrar de que forma, metodologicamente, é possível colocá-la em prática. O ensino da história brasileira nas escolas contribuiu para minimizar o racismo e esta é uma das grandes propostas, porque, a partir do Programa Dinheiro Direto na Escola [PDDE] nós descobrimos que grande parte das crianças que sofrem racismo estão nos anos iniciais, e quem está à frente delas é o pedagogo. Portanto, percebe-se a importância desse professor poder explicar e formar a criança antes dos seis anos de idade, poder explicar a ele o que é racismo, dizer o que não pode acontecer. Essa é a grande importância de ler e trabalhar com as séries iniciais, porque a escola é o melhor espaço para se discutir isso, principalmente neste momento, e a criança acaba levando essa discussão para casa também”, aponta", pontuou.

A professora Advanusa Santos, psicopedagoga inclusiva na Emef em Tempo Integral João Oliva Alves, reconhece a importância do encontro e de como a troca de saberes entre os profissionais vai acrescentar na formação pessoal e coletiva. 

“O projeto é uma ação para resgatar as nossas origens, porque é uma lei que muitas vezes a gente só trabalha no Dia da Consciência Negra e esta deve ser uma prática desenvolvida em todo o ano. Quando eu soube da proposta do Ilê-Iwê, eu vi uma oportunidade de trazer para dentro da escola algo que está dentro da legislação e colaborar com os nossos alunos, porque é fundamental conhecer e trabalhar com essas questões e com a diversidade. E, além da inclusão, que é relevante, tem a importância do conhecimento que valoriza essa diversidade, a diferença e o respeito pelo outro, porque todos nós somos diferentes e o bonito é isso. Essas questões devem ser trabalhadas desde o começo da vida escolar das crianças porque, quando a gente se conhece, a gente consegue compreender o outro, a sua funcionalidade, as diferenças, como somos tão diversos e dá oportunidade de integrar, de participar, de colaborar”, relatou.