Dia Mundial do Diabetes acende alerta para consumo desenfreado de comidas ultraprocessadas

Saúde
14/11/2023 16h18
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Da mesma maneira que uma chave serve para abrir e fechar a porta de uma casa, controlando quem entra e quem sai, o funcionamento da insulina no corpo humano controla a entrada de glicose nas células e tecidos, permitindo a geração de energia necessária e responsável por manter o indivíduo disposto e saudável para os afazeres do dia-a-dia. Por isso, neste Dia Mundial do Diabetes, 14 de novembro, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), alerta sobre as causas e efeitos dessa severa doença que amputa membros, causa cegueira e provoca diversas complicações na vida das pessoas e, para incentivar o diagnóstico e tratamento, realiza ações contra a doença durante a campanha Novembro Azul.

A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas (célula beta pancreática) e detém o controle do fornecimento de energia para os tecidos, após a digestão dos carboidratos. O maior inimigo da ação da insulina no organismo é o excesso de peso. A gordura acumulada nos tecidos cria uma capa em volta das células e tecidos, dificultando a ação natural da insulina de gerar energia corporal, e, consequentemente, favorecendo o surgimento de outras complicações, é o que explica a médica especialista Naira Horta.

“Nossas células e nossos tecidos [muscular e de outros órgãos] só funcionam com o substrato de glicose, que obtemos no consumo de açúcar, da frutose presente nas frutas, por exemplo. Esse é o nosso substrato energético, não sobrevivemos sem a glicose, mas ela não consegue chegar à maioria dos tecidos e células sozinha, esta entrada é facilitada pela insulina. Quando temos presente o excesso de peso, o percentual de gordura maior no corpo impede a ação da insulina na membrana da célula e, nestes tecidos, a insulina tem sua ação comprometida. Isso eleva o açúcar na circulação sanguínea, temos o diabetes”, explica a médica.  

O que implica alto índice de glicose no sangue é seu efeito nocivo e tóxico para órgãos essenciais ao funcionamento do organismo, deixando sequelas e complicações graves que atingem a saúde dos olhos, coração, rins, sistema nervoso, diminui a sensibilidade dos tecidos à dor, favorecendo amputações, úlceras e feridas. Essa doença é, portanto, de alto custo, pois além das complicações, o tempo de internamento da pessoa com diabetes é mais prolongado, a resposta é mais lenta aos tratamentos instituídos, o tempo de uso de antibióticos é mais longo, quando ocorre um mau controle da diabetes.

Em Aracaju, 34.626 pessoas têm o diagnóstico da doença, mas esse número pode ser ainda maior, já que 50% das pessoas com diabetes não sabe que a possui, pois é possível ser diabético assintomático, ou seja, não ter os principais sinais e sintomas, a exemplo de sentir mais fome do que o habitual, cansaço intenso, não sentir machucados ou temperaturas extremas nos pés, visão turva, infecção urinária de repetição, disfunção erétil, dentre outros.

A assistente administrativa, Elineide Tavares Luna, faz parte da população que convivia com o diabetes sem saber. Ela tratava de outra condição quando necessitou de exames laboratoriais e uma simples aferição de glicemia capilar em jejum alertou-a para um possível diagnóstico.

“Fui a uma clínica realizar exames para investigar um desequilíbrio na minha pressão arterial. Quando a moça verificou, ainda em jejum, estava muito elevado e eu tomei o maior susto porque nunca imaginaria ser diabética. Em primeiro lugar, eu não gosto de doce e, dos meus familiares mais próximos, ninguém tem diabetes, mas o meu pai e outros parentes têm pressão arterial alta. Nesse caso, o diabetes não estava no radar, e sim a hipertensão”, relata Elineide.

Neste contexto, a médica Naira Horta explica que o principal fator de risco é apresentar o Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 25, sobretudo quando aliado ao sedentarismo.

“Um dos fatores de risco é o excesso de peso. Com o índice de massa corpórea acima de 25, o indivíduo apresenta sobrepeso e, acima de 30, obesidade. Esse é o maior fator de risco para desenvolver diabetes. Quando a pessoa tem o histórico familiar de diabetes [pais ou irmãos], o que é possível fazer para não desenvolver a doença é não ganhar peso, mudar o estilo de vida, tornar-se mais ativo, incorporar atividade física regular e uma alimentação mais saudável. Reduzir o peso, se houver excesso, incorporando hábitos mais saudáveis”, exemplifica a médica.

Após o diagnóstico de diabetes há dois meses, Elineide Tavares Luna já iniciou o processo de mudança no estilo de vida, diminuindo o consumo de massas, refeição muito presente na rotina alimentar.  

“A minha rotina era de 100% sedentária, apenas trabalhava e ia para casa, onde fazia minhas refeições. Era uma alimentação desregrada com muita gordura e muita massa, mas mesmo assim eu achava que não comer torta doce ou brigadeiro era suficiente para não ter diabetes. Hoje eu controlo mais a quantidade das refeições, pois eu gosto de comer. Tomo café sem açúcar, não bebo refrigerante, não como farinha, como o bolo zero açúcar. Por outro lado, consumo muita salada, aveia, sopas e caldos, e deixei as massas”, completa.

Para uma rotina de prevenção contra o diabetes, além de retirar alguns alimentos e incluir aqueles mais ricos em nutrientes, a exemplo de grãos integrais, leguminosas e oleaginosas, movimentar o corpo é ideal para controlar o índice de massa corpórea. A médica lembra, ainda que o movimento a partir dos anos 80, que incentivou a população a frequentar mais os supermercados em detrimento da feira livre, elevou o consumo de alimentos ultraprocessados na sociedade, o que diminuiu a ida das pessoas às feiras, onde os produtos frescos são mais indicados. Alimentos em caixas e latas, geralmente são ricos em sal e gordura.  

“Foi justamente nesse período que essa mudança de estilo de vida e comportamental, inclusive alimentar, aconteceu. Não tínhamos a disponibilidade de sanduíche que tem hoje, principalmente o fast food, isso não era tão acessível na década de 70. Em 80, começou a surgir, nos anos 90 foi mais forte e, hoje, é uma regra. É possível fazer uma comparação simples com o pacotinho do pipoqueiro e os baldes grandes de pipoca nos cinemas cheios de manteiga ou leite condensado. Isso não é fisiológico, não é fome, já é um outro lado que toca a compulsão alimentar passando pela ansiedade, se trata de outra necessidade que não é a fome em si. Isso nos traz, claro, um excesso de peso e uma obesidade quando a gente combina com a pouca atividade física”, conclui Naira.

O pontapé inicial para com os cuidados em saúde a fim de controlar ou prevenir o diabetes é buscar os serviços em uma das 45 Unidades de Saúde da Família (USF). É na unidade que o usuário pode se dirigir para aferir a glicemia em jejum dia após dia, como uma forma de observar os níveis de açúcar no sangue. Diante da necessidade é possível agendar consulta com equipe de saúde para avaliação de risco de diabetes, realizar aferição também da pressão arterial, exames laboratoriais e a adesão ao Programa Academia da Cidade, que oferta a prática regular de exercício físico com acompanhamento de um profissional gratuitamente. Para participar, basta procurar um dos 12 polos do programa espalhados pelos bairros da capital.