Curso de educação empreendedora transforma vida das aracajuanas

Formação para o Trabalho
05/12/2023 14h48

Ingressar ou retornar ao mercado de trabalho é um processo desafiante por si só. Vencer obstáculos como a falta de oportunidades e qualificação, além da concorrência com outros candidatos, são barreiras naturais nesse processo. Mas quando além de todos esses agravantes as dificuldades são potencializadas pelo desânimo de casamentos falidos, violência doméstica ou mesmo a depressão de uma vida sem apoio e sem carinho, tudo fica ainda mais complicado.

Essa, infelizmente, ainda é uma realidade vivenciada por centenas de mulheres aracajuanas, mas que tem mudado graças ao empreendedorismo, no qual várias delas têm encontrado força para mudar sua realidade, se tornando donas de seus próprios negócios. De janeiro a novembro deste ano, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Fundação Municipal de Formação para o Trabalho (Fundat), realizou a formalização de 117 novos microempreendedores, sendo que, desse total, 67 foram mulheres e 50 homens.

Para Arnaldo Almeida, diretor de empreendedorismo e empregabilidade da Fundat, o resultado é algo revolucionário ao se ver as mulheres ingressando nesse mercado. “Quando nós recebemos essas mulheres aqui na Fundat, fazemos também um momento de acolhimento, para entender o que está fazendo ela buscar essa alternativa. Muitas delas chegam aqui buscando uma forma de sair de relacionamentos abusivos, outras estão ainda inseridas nesse contexto de violência, e por isso, é tão importante mantê-las motivadas e com acesso ao conhecimento, para que elas consigam se manter firmes nesse propósito e possam se tornar empreendedoras de sucesso”, explica.

E para muitas delas essa fagulha em retomar as rédeas da própria vida começou no curso de Educação Empreendedora, oferecido de forma gratuita pela Fundat e que em 2023 já capacitou 33 novas empreendedoras e 9 empreendedores nas duas turmas que foram abertas este ano. “Nesse curso, muitas delas começam a enxergar que é possível começar seus negócios com pouco, com aquilo que elas tem em casa e isso dá ânimo a elas para começar. Para muitas mulheres que são chefes de família, ficar sem renda é algo sofrido, ainda mais quando não surgem oportunidades de emprego ou mesmo quando não há quem consiga ajudá-las com os filhos”, comenta a diretora de formação, Sandra Magna Rezende.

Vivenciando diariamente essas histórias de superação, a instrutora Rejane Andrade Franklin, destaca a importância de fortalecer o protagonismo feminino e o empoderamento dessas mulheres. “Para muitas aqui, participar desse curso é mostrar a elas o seu potencial que está esquecido. O ramo dos negócios é empoderador, pois a cada dia elas entendem que o sucesso depende apenas delas mesmas, virando uma chave na cabeça de muitas para sair de situações de abuso e dependência, emocional ou financeira. Infelizmente ainda presencio casos de desistências devido ao medo da violência, em especial dos próprios companheiros, mas aos poucos estamos trabalhando para mudar essa realidade”, garante.

Ainda de acordo com Rejane, o papel da Fundat tem sido fundamental nesse processo, pois é através da assessoria do MEI e do curso de formação que a transformação pessoal dessas mulheres está acontecendo. “No curso elas aprendem que é possível iniciar essa caminhada mesmo com pouco, pois ensinamos desde os primeiros passos. Nosso principal intuito é fazer brotar no coração de cada uma delas o desejo de empreender, fomentar a liderança pessoal e o planejamento, pois a maioria delas se perdem nos caminhos da vida, justamente por deixar faltar em si mesmas esses pilares que sustentam o empreendedorismo. Graças a esse trabalho feito pela Fundat elas têm conseguido se manter firmes em seu propósito”, comemora.

Mudança de vida
Prova viva disso é a hoje empresária do ramo da moda, Mariza de Souza Teixeira, de 46 anos, que estava desempregada e desacreditada do seu futuro profissional, após a pandemia da Covid-19. “Foram tempos muito difíceis, desempregada, com problemas em casa. A minha autoestima praticamente não existia e eu desisti de tudo. Abandonei minha loja de roupas e me entreguei ao desânimo. Aos poucos fui buscando melhorar, com a ajuda dos meus filhos, e agora estou retomando minha loja, depois de participar do curso de empreendedorismo”, lembra.

Para Mariza, além das técnicas ensinadas em sala de aula, o principal presente que recebeu foram as novas ideias e sonhos que o curso lhe proporcionou. “Atualmente estava parada, mas já retomei meu negócio de roupas e meu principal objetivo é voltar a firmar contatos com os fornecedores e expandir cada dia mais o meu negócio. No curso eu tive acesso ao conhecimento e tudo isso me trouxe novas ideias. Já estou colocando tudo em prática, enquanto está tudo fresco na minha mente, para não esquecer. Uma porta se abriu na minha mente e o curso foi a fagulha que eu precisava para retomar a minha vida. Espero muito em breve reabrir minha loja como era há três anos. Aliás, como era não. Quero ela muito melhor, pois agora eu sei o que estou fazendo”, afirma.

Realidade semelhante à vivida por Linda Bomfim, de 30 anos, que começou a empreender agora depois do curso, motivada principalmente pelo desejo de mudar de vida. “Participar do curso foi uma verdadeira guinada na minha mente. Tudo se tornou muito mais simples do que eu imaginava. Eu sempre achei que ter o meu próprio negócio era algo impossível, que precisava de muito dinheiro, mas sempre foi tudo teoria na minha cabeça. Quando a gente começa a estudar e vê tudo acontecendo, fluindo na prática, o ânimo é outro. Hoje estou iniciando meu brechó, pois aqui encontrei forças e formas de colocar meu sonho em prática”, comemora.

A ideia de trabalhar com roupas usadas surgiu justamente de uma fragilidade em sua autoestima. “Hoje eu trabalho com brechó, porque sempre ganhei muita roupa. A maioria delas chega até mim em boas condições ou até mesmo novas. Aqui eu descobri que essas doações poderiam se tornar o meu sustento. Eu hoje cuido dessas peças, faço reparos se for preciso, lavo, organizo e exponho na internet. Escolhi essa forma, não por ser algo sem custo pra mim, por serem roupas usadas, mas para mostrar ao meu público que as roupas que eu vendo são acessíveis. Essa foi uma visão de ser atrativo e relevante pro meu mercado. No curso consegui identificar a minha persona e a persona do meu negócio. Foi um reencontro comigo mesma, pois aqui eu digo que retornei pra mim, graças ao incentivo e estímulo que recebi”.